O pianista alcobacense Daniel Bernardes está de regresso às Caldas da Rainha a 21 de Março para apresentar o seu último trabalho “Liturgia dos Pássaros”. O músico gravou este álbum no CCC e dá a conhecer em entrevista à Gazeta das Caldas mais pormenores sobre este trabalho onde se alia a música contemporânea com o jazz

GAZETA das CALDAS (GC):Fale-nos sobre “Liturgia dos Pássaros”. Em que se inspirou para compor os novos temas?
DANIEL BERNARDES (DB): Este disco é uma homenagem à memória de Olivier Messiaen, figura incontornável da música do século XX. Felizmente, Messiaen deixou-nos imensos escritos sobre os seus processos de composição musical que são, hoje em dia, estudados nos conservatórios de todo o mundo. Foi nesse contexto que conheci a sua obra. Agora, anos mais tarde, decidi experimentar escrever utilizando as suas técnicas, mas desta vez aplicadas ao jazz. Entusiasmado pelos primeiros esboços, enviei a música ao Miquel Bernat, director artístico do Drumming GP – uma das maiores referências internacionais no universo da percussão – e assim nasceu a nossa parceria. A formação é bastante atípica, creio que nunca se fez em Portugal assim: juntar ao clássico trio de piano jazz um quarteto de percussão. Tem sido um sucesso por todo o país, o que é raro tendo em conta a dimensão e a logística que envolve!

GC: Qual tem sido a receptividade do público e da crítica?
DB: O projecto tem recebido críticas entusiasmantes a nível internacional, nomeadamente no Canadá, Itália, Noruega, e agora foi destacado pela revista Jazz Times dos Estados Unidos! Fomos também nomeados como finalistas dos Prémios Play 2020.

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GC: Como será o concerto do dia 21 de Março? Haverá mais músicos a actuar consigo?
DB: Sim. Dada a especificidade desta música, que liga os universos da música contemporânea e o jazz, escolhI músicos que tivessem experiência a tocar esta música. Dirigi o convite ao António Augusto Aguiar, que é um dos maiores especialistas de música contemporânea do país, solista do Remix Ensemble da Casa da Música e que, ao mesmo tempo, tocou na Orquestra de Jazz de Matosinhos. Na bateria vai estar Mário Costa, exímio baterista que tem formação enquanto percussionista clássico pelo que a sua capacidade de interacção entre o trio de Jazz e o Ensemble de Percussão é extraordinária. Ao trio junta-se o Drumming Grupo de Percussão, uma referência internacional que realiza concertos por todo o mundo. O concerto tem uma energia brutal pela quantidade de instrumentos em palco e variedade de combinações sonoras, ao set up de bateria normal juntámos um Tam-Tam, um tímpano e uma Thunder Sheet que imita o som de trovões! Cada percussionista do quarteto tem uma miríade de instrumentos ao seu dispor pelo que os universos sonoros estão sempre a surpreender-nos!

GC: O álbum foi gravado nas Caldas. O CCC tem boas condições para tal?
DB: À semelhança de outros discos meus, gravámos no CCC. Em primeiro lugar, porque a direcção do espaço está focada em ter Caldas no mapa do jazz nacional e internacional, através do seu fantástico Festival Internacional de Jazz, no qual já tive a felicidade de tocar, mas também através da criação contemporânea. Temos excelentes condições técnicas, um piano maravilhoso e um staff super cuidadoso no que toca às necessidades dos projectos. Este foi o terceiro disco que gravei lá, depois de “Nascem da Terra” e “Rondó da Carpideira” e posso adiantar que já está previsto um quarto para muito em breve!

GC: Quais são os projectos que está envolvido no momento?
DB: 2019 foi um ano incrível em termos de produção, com o lançamento da “Liturgia dos Pássaros” e a criação da música para “O Ano da Morte de Ricardo Reis” e para a série “A Espia”, entre várias peças minhas estreadas um pouco por todo o país. 2020 não vai ficar atrás. No próximo dia 26 de Abril vou lançar o meu novo disco “Beethoven… Reminiscências”, que resulta de uma encomenda do Centro Cultural de Belém para piano e coro. Comigo estará Pedro Moreira, que assegurou a direcção musical, e o Coro Ricercare, do maestro Pedro Teixeira. Gravámos música minha inspirada nos Ciclos de Canções de Ludwig van Beethoven que, nas dezenas de canções que escreveu, tem uma cantada em português! Acabo também de musicar dois poemas de Sophia de Mello Breyner Andersen para o próximo disco da Cantora Lara Martins e a partir de Maio entro em Tour pelo país a apresentar o meu primeiro disco a solo com concertos em Lisboa na Fundação Saramago e Hot Club de Portugal, Porto, Coimbra, Leiria, Torres Vedras e Caldas da Rainha. Em Junho, estarei também em Belgais no concerto de homenagem a Bernardo Sassetti, onde terei como companheiros de palco Maria João Pires, Mário Laginha, Filipe Raposo, entre outros.

GC: Concilia bem o facto de ser docente, intérprete e compositor? Em qual das vertentes se sente mais confortável?
DB: Não conseguiria estar apenas numa destas áreas. A docência é muito importante para mim pois é uma forma de reflectir sobre as fundações e ajudar os outros no processo de crescerem enquanto músicos, isso acaba por criar novas questões que me ajudam no meu próprio processo. Por vezes temos de olhar para trás para seguir em frente e o contacto com os diferentes alunos cria diferentes reflexões, a soma destas reflexões faz de mim melhor músico. Não há muita diferença entre o intérprete e compositor, são ambas vertentes da criação, há um gozo incrível num concerto que corre particularmente bem, mas a estreia de uma obra tocada por outros também é uma ocasião muito especial. Sinto-me muito privilegiado por poder experimentar todas estas vivências.

Artistas gravam álbuns nas Caldas

Além de Daniel Bernardes há uma série de artistas que escolhem gravar os seus trabalhos no CCC. Segundo o director do equipamento da cidade das Caldas da Rainha, Carlos Mota, são já vários os artistas e grupos que têm realizado residências artísticas neste equipamento caldense. Filipe Melo Dimitris Andricopolus, Sérgio Carolino, os Sétima Legião, os Madredeus, Raul e Lina Refree e ainda António Rosado.
“Desde o início do funcionamento do CCC, há 12 anos, que organizamos residências artísticas e gravações de álbuns”, disse o responsável, explicando que além da música, o CCC também recebe projectos relacionadas com outras áreas como a dança ou o cinema. “Além do equipamento as nossas equipas técnicas e de produção também trabalham com os convidados”, rematou Carlos Mota.

Gazeta oferece bilhetes

Os interessados em assistir ao concerto do pianista Daniel Bernardes poderão fazê-lo gratuitamente, caso respondam a estas duas questões: “Em que autor se baseou Daniel Bernardes para o concerto Liturgia dos Pássaros?” “Onde foi gravado e feita a residência artística da Liturgia dos Pássaros?” Os 10 primeiros leitores que responderem correctamente e entregarem esta edição da Gazeta na bilheteira do CCC ganham uma entrada dupla.

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