Memórias das Caldas da Rainha – 1484/1884 – Augusto da Silva Carvalho – 1932 – Frontispício
O livro que hoje vamos folhear é da autoria de Augusto da Silva Carvalho [1861-1957], médico e membro da Academia das Ciências de Lisboa, que tendo dedicado a sua vida à medicina, produzido mais de 29 obras, quase todas sobre temas médicos.
O livro intitula-se “Memórias das Caldas da Rainha, 1484-1884”, foi editado em 1932, tendo sido impresso da Tipografia da Livraria Ferin, situada na Rua Nova do Almada, n.ºs. 70 a 74, em Lisboa.
No seu livro, Silva Carvalho utiliza inúmeras fontes, fazendo com que esta obra ocupe um lugar indispensável para o saber do passado caldense.
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Curiosa é a descrição de uma máquina projetada em 1825, pelo engenheiro João Carlos Tam, para extração da água. Passo a transcrever:
“Até 1825 a água das Caldas para uso interno era tirada do pocinho por meio de bilhas que por uma corda se desciam e mergulhavam até se encherem. Neste ano e tendo havido um legado destinado a melhorar a extração da água, um engenheiro João Carlos de Tam, inventou a mandou executar uma máquina, tapando o pocinho, que trazia a água à superfície da copa em quantidade para correr permanentemente em três bicas, gastando nisto 2.800$000 réis. A água vinha mais quente, pois apresentava mais dois a três graus do que a tirada pelas bilhas. O médico José Pinheiro de Freitas Soares verificou isto e que a água trazia mais gases, vinha mais pura, porque as impurezas do ar por estar coberto o pocinho a não conspurcavam e porque a imersão das bilhas lhe não levava impurezas. Sendo-lhe pedido o seu parecer sobre a continuação das obras e aperfeiçoamento que o referido engenheiro pretendia fazer da sua máquina, Freitas Soares depois de referir estas vantagens, diz que lhe pareceu o aparelho um pouco complicado, tendo-se lembrado que talvez tapando hermeticamente o pocinho e rebaixando em volta o pavimento de maneira a ficar abaixo do nível da água, esta se pusesse a correr por bicas de marfim, ouro e platina, para não ser alteradas pela água. Feita e aplicada a máquina de Tam, Freitas Soares tivera a curiosidade de indagar se os materiais que nela eram utilizados não alterariam a composição da água. Eram eles madeira de bucho, vinhático e latão dourado: a primeira, mergulhada muito tempo na água não a alterava; a segunda, atingiu-a fortemente, pelo que o engenheiro se viu obrigado a fazer-lhe um preparo para que não largasse nada de si, e quanto ao latão dourado, Freitas Soares esperava que pela incorruptibilidade do ouro daqui não viesse mal.
Parecia-lhe mais que o marfim e sola de que eram feitos os pistões, não alterariam também a água. Achou portanto vantajoso o que estava feito, e quanto a autorizar nova despesa de trezentos a quatrocentos reis, que se julgava necessário fazer para completar o melhoramento, inclinava-se a que pessoa competente fosse encarregada de indagar se a máquina continuava a funcionar bem e poderia desempenhar cabalmente o seu fim e quais as peças que primeiramente se inutilizariam e qual o se preço. Este parecer tem a data de 28 de Novembro de 1826.
Por portaria de 4 de Dezembro do mesmo ano se ordenou ao diretor que informasse se a despesa a fazer podia sair do cofre ao hospital. Mas a celebrada máquina era pesadíssima e para puxar a água exigia um trabalho penosíssimo e um artista de Torres Vedras, sem instrução mas muito habilidoso, José da Costa Freire, pedindo e obtendo licença para emendar o que estava feito, modificou-o, substituindo algumas rodas e alterando outras peças, do que resultou ficar o aparelho a funcionar muito bem com um insignificante dispêndio de força. Não tendo recebido nenhum auxílio pecuniário por este serviço, pediu uma gratificação, sendo-lhe mandado dar duzentos mil réis por aviso de 25 de Maio de 1829.”
Cadeirinha de transporte de doentes
Curiosamente o autor termina as suas memórias caldenses, no mesmo ano em que chega Rafael Bordalo Pinheiro às Caldas da Rainha, e a sua Fábrica de Faianças começa a laborar.