Será um Livro? É um conjunto de 18 páginas mais capas, com as dimensões de 16 por 10 centímetros, cosidas à mão.
Sim é um livro; de pequeno formato e de aspecto modesto, mas de valiosa informação e da autoria de um ilustre historiador e crítico de arte.
“A Fábrica de Faianças das Caldas da Rainha” é publicado em 1891, sendo impresso na Tipografia Ocidental, no Porto.
O autor começa por fazer o historial da Fábrica criada em 1884 por Bordalo Pinheiro nas Caldas da Rainha, e passa depois a fazer a análise da atual situação da mesma, escrevendo:
“Realizou-se a empresa, e depois de quatro ou cinco anos de atividade prodigiosa, fecunda, e cheia e glória para a arte e para o país, parece que corre o risco de fechar!
Custa-me a acreditar em semelhante facto, que seria um desastre económico e moral.
Corre à imprensa a obrigação e elucidar o público em geral, e em particular os acionistas, sobre as consequências de semelhante medida.
[…]
A vitória foi, com efeito dupla, para Bordalo, como organizador e instalador de um espetáculo industrial nunca visto entre nós, e que constituía um primor de arte decorativa, e para o mestre dedicado e sagaz de tanto operário até ali obscuro, escravizado pela exploração e pela rotina.
Era evidente, e devia saltar aos olhos de todos, que semelhantes resultados não se podiam colher em três anos (1885-1888) de lavor fabril incompleto sem uma dedicação absoluta da parte do director pelos seus operários, sem o desprendimento e o desinteresse do mestre, do amigo e do protetor, que não mede o tempo, que não calcula o valor do conselho, que dá e semeia às mãos cheias os frutos da sua experiencia.
Se Bordalo não desse o exemplo, se não fosse de facto o primeiro operário da sua fábrica e se limitasse a sua ação a riscar, a traçar figuras e emblemas, a dar conselhos baratos do alto de uma poltrona, numa linguagem sibilina, com certeza poderíamos perder a esperança num renascimento da indústria das Caldas. O capital pode erguer paredes e instalar máquinas, amontoar matérias primas, recrutar braços e inundar as Bolsas com prospetos sedutores, mas não conseguirá improvisar um único operário bom, ativo inteligente e morigerado. Foi por isso que aplaudimos sinceramente o pensamento do governo, quando este realizou uma aliança oficial com a fábrica da faiança, confiando-lhe a educação pratica e profissional de um certo número de alunos da Escola Industrial das Caldas da Rainha.”
Ficamos por aqui, senão ainda corremos o risco de transcrever todo o livro, o que não é todo a nossa intensão.
Isabel Castanheira
































