Consolidar o eixo territorial Óbidos, Caldas da Rainha e Alcobaça, ao nível da cerâmica, e colocar em diálogo todos os intervenientes, desde empresários a artistas, passando por designers, investigadores e curadores, é o objectivo das conversas sobre cerâmica.
A primeira aconteceu em Óbidos, no passado dia 28 de Março e terá continuidade nas Caldas da Rainha e Alcobaça, com mais e novos intervenientes.
Tendo por ponto de partida a exposição “Prometheus Fecit: terra, água, mão e fogo”, que se encontra patente na galeria nova Ogiva até ao próximo dia 5 de Abril, artistas, investigadores e ceramistas, reflectiram sobre o futuro da cerâmica no Oeste.
A curadora da mostra, Maria de Fátima Lambert, falou sobre o trabalho desenvolvido pelos 15 artistas portugueses e brasileiros, em residência artística na Fábrica Perpétua Pereira & Almeida – São Bernardo (Alcobaça) e que teve como destino o Museu Nacional Soares dos Reis, no Porto. A também docente na Escola Superior de Educação do Porto destacou o cruzamento de saberes entre artistas, empresas e instituições museológicas, como uma mais valia e vê estas conversas como um contributo para a consolidação da relação entre a educação e a cultura.
O arquitecto Manuel da Bernarda foi o grande mentor das residências artísticas na fábrica de Alcobaça, tendo lembrado que esta aliança com as artes começou praticamente desde a criação da fábrica Cerâmicas S. Bernardo, em 1981, com a presença de artistas e com a realização, em 1985, de um simpósio, em conjunto com a ARCO.
“As coisas aconteceram sempre pelo gosto da cerâmica e isso foi compensador. Se agisse apenas a pensar nos números não teriam acontecido com a mesma felicidade”, disse, recordando que, quando há três anos a artista Graça Pereira Coutinho lhes propôs a residência, a imposição que colocou foi apenas que esta não interferisse com o trabalho da produção da fábrica. O primeiro grupo resultou bem e continuaram as residências com artistas portugueses e brasileiros, num total de 15. Pela primeira vez, destacou o arquitecto, uma região (e uma fábrica) vê-se ligada a um pólo de cultura como é o Porto, através do Museu Soares dos Reis. “As coisas aconteceram porque achamos que a cerâmica é uma actividade afectiva e emocional”, destacou Manuel da Bernarda.
E, tendo em conta a abrangência que este projecto já alcançou com a envolvência dos espaços museológicos e dos artistas, o arquitecto considera que estão reunidas as condições para a criação de um evento de abrangência internacional. Manuel da Bernarda deixou ainda a sugestão para que destas conversas saísse uma comissão que tentasse desbloquear alguns constrangimentos e permitisse avançar com o evento.
A necessária sustentabilidade económica dos projectos
O historiador e investigador João Serra falou sobre a sua experiência na organização da Festa da Cerâmica, que começou em 2009, e cuja próxima edição está em preparação, com a assessoria de Carlos Martins, programador com quem trabalhou na Guimarães Capital da Cultura.
O convidado lembrou também que este ano a ESAD.CR celebra 25 anos e que a cerâmica esteve na sua génese. “Arrancou como uma escola de cerâmica quando esta componente era decisiva e influenciada pela Secla, Cencal e outros empresários”, disse, acrescentando que o reforço do lugar da cerâmica na região seria uma boa maneira de comemorar o 25º aniversário desta escola.
Ceramista e empresária, Sónia Borga falou sobre a sua experiência, que diz “não ser muito bem interpretada ao nível da arte”. Proprietária de duas lojas, uma em Óbidos e outra em Sintra, refere que este foi o resultado de uma antiga intenção de viver da cerâmica. E, embora “obcecada” por esta arte, como a própria se caracteriza, Sónia Borga refere que “vivemos num mundo prático e temos que ter proveitos”.
A ceramista defende que é necessária uma sustentabilidade económica nos projectos para poder fazer arte, embora também reconheça que a arte é geradora de receita e os artistas geradores de potencial económico.
Sónia Borga diz que tem vivido nesta arte com “uma certa liberdade” e que é através dos proveitos das estruturas das lojas que pode dedicar-se à cerâmica contemporânea.
A autora abordou ainda a importância da educação e formação nesta área. “Sou fruto do Cencal e da ESAD e essa formação foi vital para o meu desenvolvimento”, concluiu.






























