Chamam-se As Contadeiras e surpreendem miudos e graúdos com a forma expressiva e interactiva com que contam as suas estórias. Conheça melhor este projecto caldense que até já actuou no Brasil
Foi com “Contos de Perrault” que as “Contadeiras” regressaram aos palcos caldenses a 29 de Fevereiro. As autoras do projecto – Leonor Pintos e Marta Machado – transformam-se em duas personagens de outros tempos para dar vida ao conto do Polegarzinho.
O auditório da Biblioteca encheu-se de petizes, pais e alguns avós para escutar a história do casal de lenhadores que se vê forçado a abandonar os sete filhos na floresta para não ter que os ver morrer de fome.
Sem recurso a cenários, usando apenas o corpo e vozes, as autoras arrancaram fortes aplausos da plateia pela forma expressiva e de interacção constante com o público durante toda a actuação. Crianças e adultos são chamados a subir ao palco e a interpretar personagens como os filhos dos lenhadores como o próprio ogre, uma personagem sinistra que, a dado momento, também vai querer comer as crianças.
O projecto surgiu em Maio de 2012 e uniu as duas amigas: Leonor Pintos, que é educadora de infância, e Marta Machado, formada em Artes Plásticas da ESAD.
Começaram por desenvolver um projecto em que contavam as histórias relacioanadas com os vários quadros presentes na colecção do Museu Malhoa. E como não querem ser contadoras tradicionais assumem personagens como as empregadas do palácios da época barroca e são criadas com olhos de vidro e dentes pretos, criando assim figuras que não se destinam apenas aos mais novos. “Contamos histórias para todos e pedimos a participação das crianças e também dos adultos”, explicaram as autoras, que criam personagens consoante a época dos contos. E também são convidadas a apresentar-se não só em palcos e em eventos itinerantes. Uma das suas participações é em casamentos onde contam a própria história dos noivos, dando vida a personagens medievais ou contemporâneas.
Histórias para todos
“Temos comprovado que as histórias se dirigem a gente de todas as idades”, disseram as contadeiras, que estiveram em duas ocasiões no Brasil a participar em itinerâncias relacionadas com a descentralização cultural. Durante três semanas fizeram actuações em nove localidades diferentes, promovidos pelo CESC e levaram um espectáculo sobre Fernando Pessoa, dando vida a alguns dos seus contos. “Foi uma experiência para a vida! Tanto que voltámos no ano seguinte, em 2018!”, disseram as Contadeiras, que da última vez actuaram não só em escolas brasileiras mas também num Festival Literário. As autoras ficaram impressionadas, pois em muitos dos locais havia sempre intérpretes de língua gestual, mesmo que não estivessem presentes surdos.
Leonor e Marta, apesar de serem de Viseu e de Vila Nova de Famalicão respectivamente, já moram nas Caldas há mais de 15 anos e na última ida ao Brasil, contaram com apoio financeiro da autarquia caldense.
Em 2019, tiveram vontade de regressar a terras de Vera Cruz mas acharam que era melhor não viajar. “A questão da segurança não está assegurada nesta era Bolsonaro. Houve também grandes cortes na área da Cultura”, salientam as contadoras que, nestes dois anos, têm apostado sobretudo no mercado interno. “Os espectáculos nunca são iguais, dependem da interacção com o público”, dizem as autoras, que não prescindem de uma certa dose de improviso nas actuações.
De Roma até às Caldas
Do repertório das Contadeiras fazem parte espectáculos de várias épocas históricas, desde a fundação de Roma, mas também relacionadas com Rafael Bordalo Pinheiro, José Malhoa e com a fundação das Caldas pela Rainha D. Leonor. Leonor Pintos e Marta Machado fazem parte de um novo colectivo de contadores, cantadores e tocadores que se vão expressar em português, castelhano e inglês. Chamam-se Bubulos e querem partilhar histórias ligadas à cultura portuguesa. O grupo integra também o contador espanhol Marco Luna, que veio viver para as Caldas.































