
Um grupo coral de S. Pedro do Sul, cujos participantes trabalham maioritariamente na agricultura, trouxe às Caldas os sons e cantares de uma terra – Manhouce – que conserva grande parte das suas tradições. Um espectáculo que encerrou com chave de ouro a época coral promovida pelo Coro dos Pimpões.
Sendo o Grupo Coral dos Pimpões o anfitrião, iniciou a actuação dando a conhecer dois temas em estreia do Renascimento. São agora 30 os elementos deste coro caldense, que sob a batuta de Joaquim António Silva, deu as boas-vindas aos presentes que encheram a parte central da plateia dos Pimpões.
O coral apresentou um repertório variado, a várias vozes, sempre a capella apresentando temas eruditos, tradicionais e contemporâneos.
Depois do intervalo foi a vez dos Cantares de Manhouce. Vieram 15 elementos, todos trajados de festa. Por isso, as senhoras da região do Maciço da Gralheira (concelho de S. Pedro do Sul) apresentam-se de saia comprida, um avental, uma blusa de cetim e um lenço de seda que é colocado com um pequeno chapéu. No braço trazem um negro xaile de fitas e ainda brincos e vários fios de ouro. ”É assim que manda a tradição da terra”, explicou Maria dos Anjos Correia, uma das cantoras do grupo de música popular. “Cantamos a três vozes e temos alguns solos”, acrescenta Almerinda Tavares, explicando que apenas duas pessoas do grupo estão empregadas por conta de outrém, já que as restantes trabalham na agricultura e cuidam dos seus animais.
“Estamos a tentar segurar a tradição do grupo e a divulgar as canções do Ti Silva, fundador do grupo, que já partiu, mas que nos ajudou sempre muito”, rematou Maria Martins, também elemento dos Cantares de Manhouce.

“Um disco em homenagem ao Ti Silva”
Quitó, maestro e músico caldense do Coro dos Pimpões, há muito que é amigo dos Cantares de Manhouce, tendo ajudado o grupo na produção do último álbum, dedicado ao mestre António Silva. “O Quito ajudou-nos muito na gravação e produção do nosso últimos disco, foi incansável. Devíamos-lhe esta actuação…”, disse António Silvestre, o actual responsável pelos Cantares de Manhouce.
O grupo, fundado em 1978, passou por várias fases e chegou a ter como solista a cantora Isabel Silvestre.
Serranita, A Laranjeira, Deolinda, O Velho e a Folha do Castanheiro, foram alguns dos temas entoados nas Caldas, alguns dos quais a capella.
António Silvestre há muito que queria gravar as canções de Ti Silva, como era carinhosamente conhecido o fundador do grupo de Cantares e que faleceu em 2010. “Fazemos tudo por amor à camisola”, disse o responsável, explicando que entoam cantos espontâneos que eram habitualmente cantados no campo. Aliás, as temáticas da sua música referem o trabalho e também as festas e romarias. “Ia-se para uma festa, cantava-se pelo caminho dançava-se no local e volta-se a cantar no regresso a casa”, explicou António Silvestre.
O problema é que “a malta nova não acompanha isto”, disse o responsável. O elemento mais novo do grupo tem 30 anos, mas na verdade são os mais velhos que vão levando e mantendo a coesão do grupo. “Agora temos actuado menos. Antes tínhamos concertos todos os fins de semana, em especial no Verão…”, contou o coordenador.
A maioria dos cantores está ligada a agricultura e possui o seu gado e para actuar nas Caldas “deixámos tudo tratado”, disse António Silvestre. Por causa destes deveres, a actuação foi marcada para o final da tarde e não à noite, como é habitual e assim não mexer com os horários madrugadores de quem tem deveres para com a terra e com os animais.
Natacha Narciso
nnarciso@gazetadascaldas.pt






























