René (João Didelet) tenta ao máximo escapar das “garras” da mulher Edith (Elsa Galvão) que faz de tudo para ter a sua atenção | BEATRIZ RAPOSO
As famosas personagens de ‘Allo ‘Allo saltaram do ecrã televisivo para o palco do CCC nos dias 25 e 26 de Junho, interpretadas por caras bem conhecidas do público português como João Didelet, Elsa Galvão, Melânia Gomes, Suzana Borges, Filipe Crawford ou Pedro Pernas. Onze actores recordaram as principais peripécias da série britânica numa história que girou à volta da famosa pintura da Madona Caída (com grandes mamas). ‘Allo ‘Allo foi produzida pela Yellow Star Company e encontra-se em digressão pelo país depois de ter estado em exibição no Teatro da Trindade e no Armando Cortez.
A expectativa é grande entre a plateia do grande auditório, ansiosa por rever as personagens que entre 1982 e 1992 animaram o canal da BBC. Como serão as “versões portuguesas” de René Artois, a sua mulher Edith, a amante Yvette, ou o espião-polícia inglês Crabtree? Aquele que ficou conhecido pelas valentes calinadas no francês e a expressão “Good Moaning” (bom dia)? Rapidamente a expectativa dá lugar a gargalhadas que se prolongam até ao fecho das cortinas. ‘Allo ‘Allo tem como cenário principal o café de René, localizado em Nouvion, vila francesa ocupada pelos alemães em plena II Guerra Mundial. Três mesas de madeira com toalhas aos quadrados azuis, um piano no canto esquerdo, o balcão em madeira, a caixa registadora antiga e a gaiola que guarda uma catatua (que na verdade disfarça um rádio de comunicação) são alguns dos elementos que rapidamente nos transportam para o estabelecimento original da série britânica.
René apresenta-se como o comerciante francês que, para manter a casa aberta, faz por agradar a gregos e troianos. Ou melhor dizendo, à resistência francesa, aos soldados e coronéis alemães, aos agentes da Gestapo, aos aviadores ingleses que estão escondidos na sua adega, às duas empregadas de mesa que são também suas amantes, à mulher Edith e ainda à sogra que vive no primeiro andar.
Para manter o negócio é preciso ser-se simpático com todos e ter um bom jogo de cintura para evitar que os planos de uns sejam descobertos pelos outros.
De pano na mão, René limpa constantemente o suor da testa, preocupado com a possibilidade de ser fuzilado caso os alemães, os franceses e os ingleses descubram que dá a mão a todos. Como ele próprio o diz no início da peça: “a minha esperança de vida é praticamente a mesma de alguém que já está morto”.
Entre os planos falhados da Resistência para enviar de volta a Londres os dois aviadores em fuga e os casos amorosos com as empregadas Mimi e Yvette às escondidas da mulher Edith, a maior preocupação de René é a pintura da Madona Caída com Grandes Mamas (originalmente The Fallen Madonna with the big boobies de Van Klomp).
O retrato valiosíssimo está escondido numa salsicha a pedido do coronel alemão e do oficial da Gestapo, Herr Flick. Ambos querem vendê-lo no final da guerra e garantir assim a sua reforma. O problema é que Edith mudou o esconderijo da pintura, decidida a não entregá-la aos alemães. E depois a chegada do general Smelling traz mais um problema: este quer encontrar a famosa obra e oferecê-la a Hitler, que chega dentro de poucos dias.
Numa corrida à Madona, os vários personagens pensam em diferentes esquemas para chegar à pintura antes do verdadeiro Führer, quer disfarçando-se de Hitler, quer servindo-se de um boneco insuflável que, em pleno enchimento, teve um furo. Sai um Hitler roto!
No final nenhum deles ganha a “caça à pintura” porque esta está afinal escondida no sítio menos provável de todos. Ou, pelo menos, num sítio onde René dificilmente iria procurar, para desgosto da sua Edith: debaixo da blusa da mulher.
“Sair de Lisboa é muito gratificante”
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Para João Didelet (René em palco e encenador da peça, em conjunto com Paulo Sousa Costa) “a digressão fora de Lisboa tem sido muito gratificante, porque é uma oportunidade para conhecer diferentes públicos”. Além disso, “embora já comece a existir boa programação fora das grandes cidades – e Caldas é exemplo disso – a digressão leva o teatro a quem não tem possibilidade de deslocar-se à capital”, acrescentou o actor, também responsável pela tradução do texto.
A adaptação das expressões inglesas para português – como a intemporal “Oiçam com atenção, só vamos dizer isto uma vez” – não foi possível em todos os casos. “Felizmente tal como os ingleses são ricos em trocadilhos, nós também o somos e conseguimos ser fiéis à peça original”, disse.
Em cena desde o ano passado, ‘Allo ‘Allo tem conquistado a geração que acompanhou as sete temporadas, mas também os jovens que não conheciam o êxito de Jeremy Lloyd e David Croft. “Curiosamente a série está a ser transmitida pela RTP Memória, por isso os mais novos que ficaram com curiosidade começaram agora a acompanhá-la”, acrescentou João Didelet.
René (João Didelet) tenta ao máximo escapar das “garras” da mulher Edith (Elsa Galvão) que faz de tudo para ter a sua atenção
O café é frequentado por muitos alemães e, embora nem René nem os empregados o façam por gosto, têm que ser simpáticos para salvar a sua própria pele