A XIII Bienal Internacional de Cerâmica de Aveiro abriu portas a 28 de Outubro e contou com a participação de 125 autores, nacionais (52) e estrangeiros (73). Entre as peças seleccionadas para esta edição – perto de duas centenas – há propostas de autores ligados ao Oeste. Vários estiveram na inauguração do evento, presente em toda a cidade e com as mais variadas propostas. Xohan Viqueira, artista galego ligado às Caldas desde os anos 80, foi o autor convidado desta edição da Bienal (que já venceu e foi várias vezes elemento do júri). Apresentou no Museu “Geografias do Tempo e da Memória” uma instalação de 1500 peças, sobre cidades do mundo a que o artista está ligado e que é constituída por obras de anteriores fases da sua carreira.
Em exposição no Museu de Aveiro está a exposição referente à Bienal que integra perto de duas centenas de obras, de 125 artistas de duas dezenas de países. A mostra, patente até 4 de Dezembro, apresenta peças de cerâmica contemporânea de autores belgas, espanhóis, italianos, brasileiros, norte-americanos, britânicos, eslovenos, ingleses, alemães, turcos e chineses, bem como de Taiwan, Ucrânia, Áustria, Roménia, África do Sul, Egipto, Hungria, Coreia do Sul e Argentina.
A escolha feita pelo juri, presidido pelo ceramista João Carqueijeiro, distinguiu a proposta de Alberto Vieira, artista de Braga, galardoando a peça “O Bairro”.
Em segundo e terceiro lugares ficaram o italiano Gaetano Rossi e a portuguesa Yola Vale que concorreram com “Vórtice Reciso” e “Long walk to freedom”. Os vencedores receberam prémios de seis mil, quatro mil e 2.500 euros, respectivamente.
Durante a inauguração, o presidente da Câmara, Ribau Esteves congratulou-se com a Bienal Internacional até porque a iniciativa, nesta 13ª edição contou com um aumento de 50% na participação de artistas estrangeiros, em relação à edição de 2015.
“Para nós, a cultura é um factor de desenvolvimento”, disse o edil aveirense tendo ainda acrescentado que este município quer ser a Capital Europeia da Cultura em 2027.
A Bienal inclui outras exposições que estão patentes noutros espaços da cidade, com destaque para a exposição individual “Deambulações”, de Sofia Beça, no Museu da Arte Nova, junto à ria de Aveiro. Esta ceramista portuguesa do Porto venceu a edição de 2017 do Concurso Internacional de Cerâmica de Alcora, em Espanha.
A programação da 13ª edição incluiu uma homenagem ao ceramista Vasco Branco que foi feita com uma exposição colectiva onde participaram dez artistas plásticos, bem como uma exposição temática no seu estúdio na cidade. Os artistas plásticos inspiraram-se na Jarra Moliceiro para criar projectos contemporâneos.
Do evento fez parte o Seminário Novas Tecnologias de Decoração na Indústria Cerâmica, que decorreu, no Centro de Congressos e realizado pela Sociedade Portuguesa da Cerâmica e do Vidro (SPCV). Está igualmente prevista a realização de workshops e de visitas guiadas às fábricas de cerâmica, parceiras da Sociedade Portuguesa de Cerâmica e do Vidro.
Cidades de Xohan em 1500 peças
Xohan Viqueira foi o artista convidado desta edição da Bienal. O ceramista galego apresentou uma instalação com mais de 1500 peças que pode ser apreciada no Museu de Aveiro (ou de Sta. Joana) que também acolhe a mostra principal do certame internacional.
“Este foi um trabalho de dois meses, recolhendo peças referentes a várias fases de 28 anos de trabalho”, disse à Gazeta o artista galego que tem uma forte relação com as Caldas da Rainha há várias décadas e é um grande admirador da obra de Bordalo Pinheiro.
“Há um pouco de tudo: peças de porcelana, faiança, grês, peças de alta temperatura”, contou o autor que usou a cor azul (que associa às cidades) e o branco que além da luz, também representa lugares como as salinas aveirenses.
A marca do pé do artista também faz parte desta instalação onde o farol é uma presença central.
Nas janelas do museu aveirense podem ser vistas outras obras deste autor globe-trotter, inclusivé algumas que datam do início da sua carreira artística, dos finais dos anos 80. “Uma é de 1989, ano em que ganhei o primeiro ano desta bienal”, disse o autor. Xohan Viqueira percorre o mundo realizando obras de cerâmica a convite de várias entidades ligadas à cerâmica, após ter feito carreira como docente na Escola Superior de Cerâmica de Manises.
“É também uma triologia dado que faço uma homenagem a várias cidades por quem sinto muito afecto: Valência, Corunha e Aveiro”, afirmou o artista. “Das Caldas também há muitas referências mas irei no futuro preparar uma instalação sobre a minha ligação à cidade”, contou Xohan Viqueira. Em 2019, este autor vai realizar uma outra obra de fôlego – com 2500 peças – para apresentar na Corunha.
Em Aveiro, o autor ainda orientou um workshop de três dias, acompanhado por um colega da Universidade de Valência, para professores. Em debate esteve o papel da cerâmica na educação.
Xohan Viqueira ainda possui várias obras públicas de cerâmica nas Caldas não só no Cencal onde tem sido convidado como formador por várias vezes, como também no Centro de Educação Especial Rainha D. Leonor. É também um divulgador da obra de Rafael Bordalo Pinheiro e nele se inspira para realizar alguns trabalhos. São suas as várias figuras contemporanêas de movimento que decoram o jardim interior do centro de formação caldense.
Além de vários artistas que marcaram presença na inauguração da Bienal, outros autores que vivem e trabalham ou estudaram na região viram as suas obras serem seleccionadas para esta 13ª edição. Foram eles Ana Sobral, Amílcar Sousa, Carlos Enxuto, Catarina Nunes, Elsa Rebelo, Francisco Pessegueiro, Vítor Reis e as duplas Vítor Santos/Sónia Borga e Ana Cruz/Maria Betânia. A participar estão também autores cuja formação incluiu o Cencal como é o caso de Alexandra Monteiro, ceramista que trabalha com o barro negro de Molelos e que teve uma menção honrosa.
Artistas do Oeste
Elsa Rebelo
“Medusas” para lembrar a protecção dos mares
“Concorri a esta edição da Bienal com as “Medusas”. São peças que nos dão uma visão macro destes seres que podem ser encontrados à beira-mar e com quem contactamos nos passeios. São pois retratos da natureza que existem no fundo dos oceanos e que nos brindam com estas cores oceânicas e vibrantes. Estas obras têm também uma mensagem de protecção aos mares, que tanto precisam”.
Ana Cruz Papoila
Cacto erótico feito em Montemor
“Fiz esta peça com Maria Betânia nas Oficinas da Cerâmica e da Terra em Montemor-o-Novo, antes de termos aberto a nossa oficina de trabalho nas Caldas. Inspirámo-nos na envolvência daquele espaço e, com o barro local, fizemos esta peça utilizando uma técnica que aprendemos no local, de construção de telhas.
A obra designa-se “Cacto leiteiro para perdidos na fase oral” e é uma abordagem ao universo erótico e à psicologia de Freud . O próprio cacto possui uma forma fálica e depois introduzimos seios. Quando há seca extrema e clima árido são os cactos que permitem dar vida aos seres vivos. Foi importante estarmos representadas na Bienal de Aveiro pois é a única oportunidade de ter visibiliade em Portugal. Este é o único concurso artístico no país na área da cerâmica contemporânea.”
Francisco Pessegueiro
Uma obra com fragmentos de várias localidades
“Esta peça guarda vários anos de trabalho. É uma obra que é um painel, que lembra os mosaicos feito com fragmentos encontrados nas várias localidades por onde passo. Das Caldas da Rainha estão pequenos pedaços cerâmicos encontrados perto de fábricas como a Bordallo Pinheiro ou a Secla. Recolho as peças, limpo-as e depois trabalho-as de forma a poder posteriormente construir o mosaico. Também há peças encontradas no Porto e S. João da Madeira, onde tenho as minhas raízes. É importante ter sido seleccionado para a Bienal, pois estou entre autores que muito admiro”.
Amílcar Sousa
Um desfecho Incerto
“Foi a primeira vez que concorri e foi importante ter sido seleccionado, logo com duas peças. Estas foram feitas no Cencal. Em “Desfecho Incerto” pediram-nos algo relacionado com peixes. Fiz um nadador que tem um peixe na boca e não se adivinha como terminará a história. Concorri também com “Vertigem” que é um grande peão com rosto. O júri gostou das peças. Acho que tive sorte!
Vivo em Setúbal, sou professor de Artes Visuais, mas tenho casa no Baleal e vou muitas vezes às Caldas. A cerâmica é para mim um hobbie e agora vou dedicar-me cada vez mais”.
Catarina Nunes
Cerâmica com som ao toque
“A minha peça é feita em faiança e é uma instalação, dado que funciona também com som. Há um vídeo, próximo que mostra quando se toca na obra qual é o som que se produz.
Estudei na ESAD, terminei a licenciatura em 2001 e regresso várias vezes para fazer formações no Cencal. Fiz o meu mestrado no Japão e actualmente lecciono na António Arroio. Dou também aulas de Cerâmica, conseguindo manter-me ligada à minha área. Para mim, a bienal tem vindo a crescer e está com uma excelente qualidade. Em Dezembro terei uma exposição em Lisboa e uma outra nos Açores. Fiz parte da Exit nas Caldas da Rainha e tive peças na montra da Mercearia Pena”.
Comissão Europeia quer redução dos metais na cerâmica de mesa
A Comissão Europeia está a trabalhar para reduzir a quantidade de metais – cádmio e chumbo – na louça de mesa. “Já há regulação para respeitar e já há valores mínimos que é preciso respeitar”, disse Beppe Olmeti, responsável europeu pela Associação de Cidades de Cerâmica e que foi membro do júri da Bienal.
A Comissão Europeia está a trabalhar numa regulação “para uma redução drástica dos valores permitidos destes materiais químicos”, acrescentou. Aquele responsável referiu ainda que regulação na Califórnia (EUA), era aquela que impunha níveis muito baixos daqueles metais nas peças de cerâmica , só que agora, “a Europa está a propor níveis ainda mais baixos”.
Beppe Olmeti diz que a proposta só admite percentagens destes metais pesados “equivalentes aos valores que são permitidos na água que consumimos”.
Aquele responsável concorda que é necessário reduzir os valores mas “seria o suficiente se seguíssemos o regulamento da Califórnia”. A sua preocupação prende-se sobretudo com a produção de cerâmica de mesa de países como Espanha e Portugal que vão ter que reduzir a presença dos metais. “Isto é algo que não será fácil para as empresas que apostam no out sourcing ou seja na subcontratação”, disse o dirigente italiano que ainda acha que a Comissão Europeia “está muito fechada” e que esta decisão da redução drástica será tomada a curto prazo.































