Cerâmica em festa no Casal da Eira Branca nos Infantes

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A nova peça contou com os contributos de Vítor Reis, Eduardo Pereira, Paulo Óscar, Mário Reis e de Carlos Enxuto

 

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“Falo na Eira” foi como se designou a festa que decorreu a 3 de Março, no Casal da Eira Branca, na aldeia dos Infantes (Salir de Matos).
A iniciativa contou com a presença de várias dezenas de pessoas, de todas as idades e teve vários momentos importantes: o primeiro foi a inauguração de um “falo” de mais de dois metros de altura, feita por um conjunto de artistas locais. Seguiu-se a homenagem a Armindo Reis, a entrega dos prémios aos vencedores do logótipo e do troféu da Confraria do Príapo, assim como foram dadas as primeiras distinções a dois autores que mantêm viva a tradição da loiça erótica.
Projectos é coisa que não falta à renovada Confraria que está a trabalhar no registo desta tradição caldense. Edgar Ximenes, o presidente da Confraria, anunciou que até ao final deste ano, será editado um livro sobre a origem da louça erótica das Caldas.


“Com a morte do Armindo Reis desaparece irremediavelmente a tradicional olaria caldense”.
Palavras de Herculano Elias, durante a homenagem que foi prestada àquele ceramista recentemente desaparecido e que Herculano Elias, artista da mesma geração ainda designou como “um homem simples, sem pretensão a honrarias, mas consciente da sua mestria como oleiro”.
Herculano Elias lamenta que a própria cidade não tenha providenciado um espaço que permitisse a passagem do conhecimento da olaria às novas gerações mas referiu que Armindo Reis, com o seu irmão João Reis acabaram por “influenciar muitos dos actuais ceramistas caldenses”.

Edgar Ximenes, Herculano Elias, Arminda Reis, Jacinto Gameiro e a vereadora da Cultura, Maria da Conceição Pereira durante a homenagem a Armindo Reis

A vereadora da Cultura, Maria da Conceição Pereira congratulou-se com a Eira Branca e a Confraria do Príapo pela iniciativa e referiu que o tema da cerâmica erótica é um tema caro à cidade, tendo a Câmara há vários anos organizado um curso sobre as Malandrices.
A autarca lembrou que o tema é muito sensível que até foi necessário mandar retirar uma obra de arte pública “que não foi bem recebida pela população por ter uma forma fálica”.
Maria da Conceição Pereira expressou palavras de apreço para com Armindo Reis e a obra olárica que este deixou. A autarquia já iniciou conversações com a família para a aquisição de obras deste autor que, no futuro, “vão estar num grande Museu de Cerâmica da cidade”, disse. Arminda Reis, filha do ceramista confirmou o contacto do presidente da Câmara e da vereadora para a futura aquisição das obras paternas.
Segundo Arminda Reis esta foi “uma homenagem bonita que o meu pai teria gostado”. Lamenta ainda que o poder local não tenham reconhecido o mérito do seu pai ainda em vida.

Registo da marca e um livro sobre a cerâmica erótica

Segundo Edgar Ximenes, presidente da Confraria do Príapo, já foi constituído um grupo de trabalho que está a trabalhar na edição de um livro sobre a tradição da cerâmica erótica caldense. “Não há nada sobre este tema e gostaríamos de lançar a obra até ao final deste ano”, disse este responsável, esperando que o livro venha a contar com o apoio da autarquia.
O responsável referiu que neste momento a Confraria está a trabalhar para efectuar o registo das Malandrices das Caldas pois “é uma tradição que deve ser defendida e valorizada para que não morra”.
Considera que há trabalho a fazer “para derrubar preconceitos”, mas acha que juntando sinergias e boas vontades se pode fazer um bom trabalho “sem cair na brejeirice nem na ordinarice”.

Uma sala cheia de gente que participou nesta iniciativa nos Infantes (Salir de Matos)

Foram ainda entregues os prémios aos autores do logótipo da Confraria e do troféu Falo Sempre em Pé, respectivamente, o designer Pedro Regadas e o ceramista Paulo Óscar.
O primeiro veio de S. João da Madeira para receber o seu cabaz criativo (no valor de 500 euros) e contou que soube do concurso através da internet. “Concorri por brincadeira e tentei criar uma imagem que não chocasse as pessoas”, disse o autor com 34 anos, que trabalha com designer na Silampos, em Oliveira de Azeméis.
Para Paulo Óscar foi um desafio criar o troféu “Falo sempre em pé” que tem uma forma simplificada, feita em porcelana. “Nas minhas pesquisas acabava sempre por encontrar factos mitológicos relacionados com o falo erecto e por isso acabei por dar o nome à peça de porcelana de “Falo Sempre em Pé” e de associar a peça aos antigos brinquedos que também se mantinham em pé, o que se adequava na perfeição a este contexto.” O artista é também escultor e formador no Cencal.
Foram também  entregues menções honrosas que distinguem os trabalhos dos concorrentes Ana Sobral, Pedro Gouveia e Vasco Loubet.
Jacinto Gameiro, o proprietário do Casal da Eira Branca estava satisfeito com a adesão ao evento por parte de autores e visitantes e salientou que o desafio que fez aos cinco artistas “prova que se pode unir a tradição com a modernidade”.
Jacinto Gameiro recordou que os artistas Carlos Enxuto, Mário Reis, Eduardo Pereira, Paulo Óscar e Vítor Reis, que marcaram presença na iniciativa – não sabiam o que os seus  companheiros estavam a fazer, pois todos tinham apenas as dimensões com que deveriam trabalhar.
Apesar de cada elemento da obra ser bem diferenciado, o resultado final é uma agradável peça contemporânea, diversificada e como é amovível, pode ser apresentada noutras localidades.
O responsável conta que agora será produzido um catálogo, numa edição bilingue – com textos de Herculano Elias e de Teresa Perdigão – que dará a conhecer como foi feita aquela peça. Para já, está em casa,  no Casal da Eira Branca.

Confraria do Príapo distinguiu dois ceramistas

Os ceramistas Vitor Lopes Henriques e Umbelina Barros foram os autores que receberam os primeiros troféus “Falo-sempre-em-pé 2011-2012”. Umbelina Barros, que é vice-presidente da Confraria foi distinguida após o falo gigante que esteve em Aveiro ter dado enorme projecção mediática para esta tradição caldense que foi objecto do seu estudo no âmbito do Mestrado que obteve na ESAD.CR. A autora estava satisfeita com esta distinção.
Vítor Lopes é um dos ceramistas que continua a produzir cerâmica erótica e que esteve a trabalhar ao vivo durante este evento na Eira Branca. O autor, que costuma representar a cidade em várias iniciativas, possui o seu atelier de trabalho na Expoeste e continua a produzir a louça das malandrices.

Natacha Narciso

nnarciso@gazetadascaldas.pt

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