Cavaquinhos das Gaeiras vão ao Luxemburgo

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O Grupo de Música Tradicional Portuguesa “Os Cavaquinhos das Gaeiras” com o seu novo fardamento

O grupo de música tradicional portuguesa foi criado em 2016 e desde então tem atuado por todo o país e na vizinha Espanha. Em junho estarão na Festa da Música, que assinala o Dia de Portugal

Admirador confesso da dança folclórica e da música tradicional, Venâncio Santos acalentava o sonho de aprender a tocar um instrumento musical. “A minha ambição era aprender na banda filarmónica, mas nunca tive oportunidade”, conta o gaeirense, que viu no regresso do emigrante no Luxemburgo, Américo Mendes, à sua terra, essa possibilidade. Tinha 65 anos e, juntamente com José Ramos (que também já tinha mostrado o mesmo interesse), foi ter com o músico, que acedeu ensinar-lhes a tocar cavaquinho.
Estávamos em inícios de 2016 e, a estes dois gaeirenses juntou-se um terceiro, Américo Oliveira, e sob as orientações do ensaiador Américo Mendes, começaram a dar os primeiros acordes nos cavaquinhos.
Foram-se juntando mais elementos e o grupo foi crescendo. “A ambição deles era provar que eram capazes de aprender a tocar um instrumento e apresentar-se ao público. Pensaram então surpreender a terra na festa das Tasquinhas das Gaeiras, em maio de 2016”, recorda Américo Mendes. E essa apresentação, já com sete elementos em palco, correu tão bem que começaram a aparecer convites para o grupo atuar em várias localidades.
“Não temos pretensão de ser um grupo que faz coisas muito elaboradas, mais vale fazer simples e bem”, realça o ensaiador do grupo, que foi crescendo e que atualmente conta com 9 elementos. Quatro deles tocam cavaquinho, dois tocam precursões e os restantes tocam acordeão, bombo e viola.
São todos músicos amadores e alguns não têm conhecimentos aprofundados de música, apenas um “bom” ouvido. Luís do Coito é um desses casos. Filho de um músico da banda filarmónica, o gaeirense é o verdadeiro homem dos sete instrumentos. Toca reco reco, tabuinhas, pandeireta, ferrinhos, castanholas, entre outros. Alguns desses instrumentos têm a particularidade de terem sido construídos por outro colega do grupo, Francisco Lourenço, que aproveitou o tempo livre, durante a pandemia, para fazer um reco reco e, recentemente, umas tabuinhas.
Os músicos ensaiam no edifício do Pombal num espaço cedido pela Junta de Freguesia.
A pandemia levou a que o grupo, que tinha a agenda praticamente lotada, ficasse quase dois anos sem ensaiar e atuar. Os ensaios foram retomados há cerca de três meses e agora estão a voltar as atuações. Fazem animações em eventos, no final de maio irão estar na Feira do Cavalo Lusitano, nas Caldas, e, no mês seguinte, rumam ao Luxemburgo. “Os Cavaquinhos das Gaeiras” foram convidados pelo Centro de Apoio Social e Associativo para estar presente na grande Festa da Música, que se irá realizar nos dias 11 e 12 de junho de 2022, na Place de la Constitution e que este ano celebra também o dia de Portugal, de Camões e das Comunidades Portuguesas. O grupo das Gaeiras destaca o “orgulho” sentido na receção deste convite, que considera ser o reconhecimento do trabalho realizado ao longo dos últimos cinco anos e um “tónico” para continuarmos a divulgar a sua música pelos quatro cantos do mundo”.
De acordo com Américo Mendes, estão a preparar um repertório alargado para a atuação de dois dias. Neste momento têm ensaiadas cerca de 40 músicas do cancioneiro tradicional português, percorrendo os vários pontos do país, inclusive as ilhas. No entanto, para além da música tradicional portuguesa, o grupo possui um repertório dedicado ao Natal e, antes da pandemia, fizeram várias atuações.
“Assim que acaba a festa das Gaeiras (que se realiza em setembro) começamos a preparar as músicas de Natal”, explica o ensaiador, reconhecendo que o grupo, composto por elementos com idades entre os 15 e os 70 anos, prefere os ritmos mais animados.
Impulsionador da valorização e divulgação da música tradicional, Américo Mendes tem um projeto para a sua terra. Gostava de ver implementada a Gaeiras Vila das Artes, que consiste um atelier “vivo”, com a participação de artesãos de algumas artes manuais como a carpintaria, a pintura e a modelação, e também ceramistas, entre outros.
Nesse projeto está também incluída a criação da Escola de Instrumentos Tradicionais, com o objetivo de preservar essas sonoridades. “Alguns instrumentos deixaram de aparecer nos ranchos folclóricos porque não há quem os toque”, salienta o músico e ensaiador, que começou aos 45 anos a dar os primeiros acordes na guitarra. ■

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