Ana Sousa Dias considera a última obra de Carlos Querido – que foi apresentada no dia 22 de Junho no CCC – “um livro de caminhos obscuros e muitas vezes absurdos, recheado de citações discretas (ou evidentes) de grandes livros que fazem a história da nossa humanidade”. A jornalista espera que os leitores destes micro-contos “se divirtam como eu, sem gargalhadas, mas com um sorriso cá por dentro, à espera do desfecho que chega na página seguinte”.
Nas histórias de Habeas Corpus, os mortos “estão nos retratos, gritando desalmadamente, ou na sala de reanimação do hospital num coma causado por uma meditação mais profunda, ou no cemitério que é onde costumam estar”, disse Ana Sousa Dias, durante a apresentação do livro, que teve lugar a 22 de Junho no CCC. Há outros falecidos, que sabem que estão mortos “e que tudo em seu redor conspira contra eles”, acrescentou. Noutros contos está presente a família, “esse prato de sopa cheio de gulosos à espera, lá está, da morte do artista, e por sua vez muitos deles também já mortos mas não devidamente enterrados”.
E há também os amigos que aparecem preferencialmente “à mesa de um bar e de copo na mão, mas coisa passageira”. E há sexo, pois surge “uma dengosa Felismina, nome recorrente, por causa de um certo Asdrúbal”.
Tal como no livro anterior de Carlos Querido, Insanus, também esta colectânea é povoada de “gente lá da Repartição, lugar de todas as possibilidades na vida de um funcionário cumpridor e confortável(…)”. Para Ana Sousa Dias – que é uma das curadoras do Festival Fólio – nestas estórias há amor, “único e, no entanto, repetível” e muitos comboios com “gente em viagem para a Repartição ou para o amor”.
A convidada afirmou que gosta deste livro “de caminhos obscuros e muitas vezes absurdos, recheado de citações discretas (ou evidentes) de grandes livros que fazem a história da nossa humanidade”. A jornalista espera que os leitores dos micro-contos “se divirtam como eu, sem gargalhadas mas com um sorriso cá por dentro, à espera do desfecho que chega na página seguinte”.
“Piscar o olho a Kafka”
João Paulo Cotrim, da Abysmo, referiu que se sente em casa cada vez que faz uma apresentação nas Caldas. É o responsável pela edição de cinco dos sete livros de Carlos Querido e é também o editor das obras de Isabel Castanheira, dedicadas a Bordalo Pinheiro.
“Acho que os contos de Carlos Querido se integram na linha do absurdo e alguns até piscam o olho a Kafka”, referiu.
O editor contou que nas novas histórias se perdeu o contexto das Caldas, algo que serviu de pano de fundo a obras anteriores do autor. No entanto, “continua a haver, aqui e ali, a presença da ruralidade, assim como do ambiente do Direito”.
João Paulo Cotrim diz reconhece ainda que “Carlos Querido teve a coragem de enfrentar um dos grande temas da literatura – a morte”.
Na sua alocução, o autor do livro referiu a João Paulo Cotrim constatando que “não é nada fácil o trabalho de um editor num país que não ama os livros”. Sobre a sua convidada, Ana Sousa Dias, salientou a serenidade da jornalista e o facto de esta nunca ter pressa nas entrevistas que realiza.
Depois do tema da morte, Carlos Querido vai continuar a dedicar-se às histórias curtas e contou no final que se segue a temática do Amor.
A apresentação do livro ainda contou com momentos musicais com Joaquim António Silva, Orlando Trindade e Ana Margarida Silva.
































