Capitão Manuel Ferreira vai ser recordado amanhã no Museu Malhoa

0
1142
Gazeta das Caldas
Manuel Ferreira viveu nas Caldas nos anos 50

No sábado, 22 de Julho, às 15h00, no Museu José Malhoa, será  inaugurada a exposição “Manuel Ferreira. Capitão de Longo Curso”, numa iniciativa comissariada pelo investigador João Serra.
A mostra está integrada no centenário de Manuel Ferreira, escritor e investigador que  viveu nas Caldas durante algum tempo a partir de 1954, quando era militar.
Natural de Leiria, foi por causa da condição de militar que veio para a cidade termal com a mulher e dois filhos. Enquanto a esposa desenvolvia o professorado numa escola da cidade, Manuel Ferreira terminava e publicava um romance “A Casa dos Motas” (1956). Por cá escreveu outros livros “ao mesmo tempo que participava nas tertúlias culturais e políticas e na vida associativa caldense”, refere um comunicado da Câmara das Caldas.
Em 1956/57 Manuel Ferreira acompanhou a criação do Conjunto Cénico Caldense, “tendo sido o seu primeiro presidente”.
Manuel Ferreira fez parte de um círculo de artistas plásticos, residentes ou atraídos à cidade, “num momento de surto criativo dinamizado pela SECLA, e de que fizeram parte, entre outros, Ferreira da Silva, Hernâni Lopes, Júlio Pomar, Alice Jorge, Dias Coelho e Jorge Vieira”.

O pintor e ceramista Ferreira da Silva, de quem se tornou amigo, foi o ilustrador de A Casa dos Motas, o romance terminado em terra caldenses em 1956.
No evento no Museu Malhoa, depois de inaugurada a exposição, às 16h00 terá lugar uma mesa-redonda “Manuel Ferreira, quem és?”, com a participação dos professores Fátima Mendonça (Universidade de Mondlane, Maputo), Ana Paula Tavares (Faculdade de Letras de Lisboa), Mário Tavares e João B. Serra (Instituto Politécnico de Leiria).
Da exposição, nas Caldas, fazem parte documentos inéditos sobre a vida deste militar, e depois escritor e investigador que teve contacto com a identidade cultural das antigas colónias portuguesas durante a Segunda Guerra, quando integrou o exército expedicionário destacado para Cabo Verde, bem como depois quando viveu noutras colónias.
Manuel Ferreira tem ainda uma obra de ficcionista, inspirado pelo movimento neorrealista, na qual o lugar de destaque vai para os livros de temática cabo-verdiana (Morna, 1948, Hora di Bai, 1962, Voz de Prisão, 1971). Em 1967 publicou A Aventura Crioula, um longo ensaio sobre a história da cultura cabo-verdiana. Quando esteve estacionado em S. Vicente, veio a casar com a jovem estudante  Orlanda Amarílis, futura professora e escritora.
Em 1974, quando regressou ao continente, Manuel Ferreira foi convidado para leccionar a cadeira de “Literatura Africana de Expressão Portuguesa” na Faculdade de Letras da Universidade de Lisboa. Começou depois uma intensa carreira académica, ao longo da qual formou e orientou estudantes de licenciatura, mestrado e doutoramento. Escreveu vários livros sobre literatura africana de expressão portuguesa e fez ainda conferências pela Europa, África, Brasil e Estados Unidos.

Celebrações também em Leiria e Lisboa

- publicidade -

Esta iniciativa faz parte das cerimónias comemorativas do centenário de Manuel Ferreira, natural da Gândara dos Olivais, Marrazes (Leiria), onde nasceu a 18 de Julho de 1917.
Na terra natal a evocação do escritor começou a 28 de Março de 2017, com uma conferência do professor Pires Laranjeira, docente da Universidade de Coimbra, seu antigo discípulo.
A 22 de Junho, dia do Município, a Câmara de Leiria entregou a Hernâni Ferreira, filho do homenageado, a medalha de ouro da cidade, atribuída a seu pai a título póstumo. A 18 de Julho houve um sarau literário e a organização de uma exposição itinerante sobre a vida e obra de Manuel Ferreira a qual deverá circular pelas escolas do seu concelho.
A exposição que será apresentada nas Caldas no próximo dia 22, organizada por João Serra, seguirá depois para Leiria em Setembro, altura em que a autarquia pretende organizar uma conferência internacional sobre o homenageado. Em Dezembro, no Centro Cultural de Belém, em Lisboa,  haverá uma sessão evocativa de Manuel Ferreira, com a presença do escritor cabo-verdiano Filinto Elísio e da escritora angolana Ana Paula Tavares e de Deolinda Barros, antiga aluna daquele professor que testemunhará essa experiência e lerá passagens da obra de ficção daquele autor. Nessa altura está prevista a edição uma biografia de Manuel Ferreira, de João B. Serra, editada pela Rosa de Porcelana, uma editora cabo-verdiana.

- publicidade -