Canções de protesto contra a ditadura

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Irene Pimentel, Manuel Freire e Francisco Fanhais

As celebrações sobre Zeca Afonso continuam. No sábado foi dado destaque às canções de protesto e a sua contribuição para o fim do Estado Novo

Irene Pimentel, Manuel Freire e Francisco Fanhais estiveram, a 30 de setembro, no auditório da Expoeste, para partilhar ideias sobre “A resistência no canto”. Manuel Alegre estava também convidado mas não esteve presente por questões de saúde. O ator Zé Carlos Faria – que integra o núcleo da AJA- Caldas, o organizador do evento – leu vários poemas do político poeta, também pescador de robalos na Foz do Arelho. A plateia esteve quase cheia para ouvir a investigadora e os cantores de intervenção que lutaram contra a ditadura.
Para Irene Pimentel, a canção de intervenção acabou por ter um papel importante já que era através dela, nas sessões e nos concertos, que se reunia quem queria acabar com o Estado Novo.

Zé Carlos Faria leu poemas de Manuel Alegre

Segundo a historiadora há outros factores relacionados com as canções de intervenção. Foram eles o movimento estudantil, pois eram os jovens que ouviam e cantavam estas canções, cheias de mensagens contra o regime em vigor. Também a guerra colonial teve um papel fundamental pois cada vez mais vozes se expressavam contra a mesma. E há ainda um terceiro vetor que não é muito falado e que, para Irene Pimentel, é essencial: o exílio. “Estavam vários cantores exilados que tinham maior liberdade para se expressarem em França”. Os discos e os livros chegavam a terras lusas e eram trazidos de comboio ou de avião, de França, e eram distribuídos por debaixo dos balcões, pelos opositores ao Estado Novo.
“Muitos dos livros eram depois distribuídos pelos interessados em fotocópias”, referiu a autora, acrescentando que, no final do regime, vivia-se uma situação de panela de pressão e, além do papel dos militares, a população acabou também por contribuir para a mudança.
A investigadora está atualmente a terminar dois livros: um que se dedica ao período temporal que vai desde o 25 de abril ao 25 de novembro e um outro sobre o relacionamento da Pide com os serviços secretos das democracias ocidentais.

Documento da GNR sobre concerto no Inferno D’Azenha
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Relatório do Inferno d’Azenha
Durante a sessão houve vários apontamentos musicais e foi referido o documento da GNR para a Pide sobre o concerto de Zeca Afonso, Adriano Correira de Oliveira e de Francisco Fanhais, que teve lugar no serão de 4 de julho de 1970, no Inferno D’Azenha, que fica na Quinta de Santo António. Segundo Irene Pimentel, o relatório “está muito bem descrito”, algo que não era nada habitual, pois, por norma, “continham erros e imprecisões”. Próximo evento da AJA Caldas decorrerá, a 14 de outubro, no Museu do Hospital e das Caldas.■

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