O Jardim de Água, a obra de Ferreira da Silva situada atrás do Chafariz das Cinco Bicas em propriedade do CHO, está ao abandono há vários anos e não há quem assuma a responsabilidade da sua recuperação e manutenção. A Câmara diz-se disposta a ajudar, mas empurra a responsabilidade da manutenção para o CHO, o qual se limita a dizer que está a estudar o assunto.
Entretanto a Associação Património Histórico (PH) pediu à Direcção Geral do Património Cultural (DGPC) a classificação daquela obra de arte como Imóvel de Interesse Público.
Mesmo não sendo a proprietária da obra de Ferreira da Silva, a Câmara das Caldas diz que “deseja colaborar com o Centro Hospitalar na aquisição e montagem de um novo sistema que funcione” e que possibilite que haja água a circular no Jardim de Água. Para tal, solicitou um orçamento a uma empresa local da especialidade, que estimou esse investimento em cerca de 22.500 euros.
Gazeta das Caldas questionou também a Câmara sobre os custos de funcionamento daquele conjunto artístico, mas a autarquia não sabe responder dado que
“o histórico antigo deve ser questionado ao CHO”. Remete igualmente a responsabilidade pela preservação e manutenção do Jardim de Água para o CHO dado que é este o proprietário da obra.
“Não nos parece possível legalmente ser outra entidade a responsável pelo seu funcionamento e manutenção”, respondeu a autarquia.
Aos pedidos de esclarecimento da Gazeta das Caldas, o CHO respondeu de forma lacónica. Reconhece que esta é uma obra de
“com altíssimo valor patrimonial, urbano e artístico colocado à disposição de todos os cidadãos”, mas quando questionado sobre qual é a estimativa dos custos de funcionamento apenas afirmou que
“à data a limpeza e a iluminação da obra têm custos suportados pelo CHO”, não respondendo concretamente à questão.
Sobre quem deve assumir o funcionamento e manutenção da obra, considera que
“qualquer obra necessita de manutenção de modo a garantir a sua segurança e de quem circula junto da mesma, de que se destaca a pintura e fixação de elementos metálicos da decoração”. Ou seja, o CHO não respondeu.
Mas aquela entidade reconhece que é necessária a reposição de elementos em pedra que estão soltos por actos de vandalismo, a execução de alguns pavimentos coloridos e reposição de torneiras de segurança.
“Está a ser estudado a forma de execução deste procedimento”, disse fonte oficial do Centro Hospitalar.
“O Jardim da Água pertence ao CHO”
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Por seu lado Vítor Marques, presidente da União de Freguesias de N. Sra. Pópulo, Coto e S. Gregório considera que a obra de Ferreira da Silva é um monumento “ímpar” onde “foi feito um grande investimento por parte do Centro Hospitalar para fazer esta importante obra de arte pública que agora é preciso preservar”. Na sua opinião, o Jardim de Água merece ser arranjado e divulgado. Só que este não está sob responsabilidade da Câmara nem da Junta, dado que, em 2015, quando o património do CHO passou para a gestão autárquica não incluiu a obra de Ferreira da Silva nem a gestão do Museu do Hospital e das Caldas. A decisão de os manter no âmbito do CHO “foi algo que estranhámos dado que ambos se encontram em espaço contíguo à Mata”, disse o autarca à Gazeta.
Contudo Vítor Marques acha que não se pode “virar costas” e continuar a deixar a obra a degradar-se. “Resta agora saber se é possível a autarquia intervir”, acrescentou. O presidente da união de freguesias não tem dúvidas em afirmar que a responsabilidade e o funcionamento da intervenção pertencem ao CHO, mas acha também que “todas as entidades têm que encontrar soluções” pois corre-se o risco da contínua degradação da obra.
PH pede classificação nacional e municipal
O PH requereu em 27 de Outubro à DGPC que classifique o Jardim de Água como Imóvel de Interesse Público e à Câmara das Caldas que o classifique como Imóvel de Interesse Municipal.
Isabel Xavier, presidente do PH informou também o CHO sobre estas diligências e pediu a colaboração daquela entidade para que fosse cedido ao PH a documentação sobre esta intervenção artística. “Temos algumas fotocópias desse processo, mas gostaríamos de digitalizar os originais para o Centro de Estudos Ferreira da Silva”, disse a presidente, que, contudo, não obteve resposta positiva ao pedido, apesar das várias insistências.
O PH vai também promover uma petição pública, recolhendo assinaturas para pedir a recuperação da obra. “Vamos fazer tudo o que for possível em termos cívicos para valorizar a intervenção”, acrescentou a historiadora.
A obra é um site specific, foi pensada e concretizada por Ferreira da Silva no próprio local entre 1993 e 2009. O artista usou peças pré-existentes do aqueduto das águas que hoje fazem parte daquela intervenção que evoca as águas termais, a Rainha D. Leonor e Gil Vicente.
“Isto é um crime”, diz a dirigente do PH referindo-se aos grafities que estão a contribuir para a degradação daquela extensa intervenção de cerâmica, vidro e ferro. “Até já serve de parque de estacionamento…”, acrescentou a historiadora, lamentando a atitude do proprietário de uma mota que achou por bem estacioná-la dentro do Jardim de Água.
“Este parque de estacionamento também não devia estar aqui”, disse. Ferreira da Silva gostaria era que a sua intervenção “fosse vivida” e que “pudesse acolher espectáculos de teatro e de dança”, salientou.
Durante a realização do Fólio, foi apresentada a obra “Ferreira da Silva em Espaço Público”. Os historiadores Isabel Xavier e João Serra e o fotógrafo João Martins Pereira expressaram grande preocupação com o estado de conservação e a necessidade de preservação daquela obra.