Caldense Pedro Silva foi distinguido com prémio internacional de música

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O músico, hoje com 43 anos, partiu para os EUA quando tinha apenas nove anos

Nascido nas Caldas da Rainha e a viver desde criança nos Estados Unidos, o guitarrista Pedro Miguel Silva, de 43 anos, foi recentemente distinguido com um prémio no Portuguese Music Internacional Awards, na categoria de música instrumental.
O guitarrista – que também escreve artigos sobre Economia para vários jornais norte-americanos – deu uma entrevista por e-mail à Gazeta das Caldas onde dá a conhecer o seu percurso profissional. Dividido entre os dois lados do Atlântico, Pedro Miguel Silva, não esconde o desejo voltar a viver na sua terra natal onde, diz, “se sente em paz”.

Natacha Narciso
nnarciso@gazetadascaldas.pt

GAZETA CALDAS: Como é a sua ligação à sua terra natal?
PEDRO SILVA: Eu nasci e morei nas Caldas até 1985. Frequentei a Escola Básica da Encosta do Sol e saí de Portugal com nove anos para imigrar para os Estados Unidos. Já voltei várias vezes pois a maior parte da minha família vive em Portugal.
Sair de Portugal tão novo é um pouco estranho porque não sou 100% americano e não sou 100% português. Os dois países conhecem-me como estrangeiro.

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GC: Fale-nos um pouco sobre o seu percurso profissional.
PS: Lembro-me de querer ser músico desde sempre pois queria muito “fazer” alguma coisa que não existia antes. Quando vivia em Portugal havia pouca televisão, mas havia muita música. Carlos Paredes, Marco Paulo, Roberto Leal, José Cid, Herman José e Carlos Paião.
Eu penso que vivi durante uma era de imenso talento e isso nunca me deixou. Antes de ter instrumentos musicais, eu gravava músicas nas cassetes recorrendo à rádio.
Quando tinha 13 anos, os meus pais compraram-me uma guitarra e penso que nunca mais quis fazer outra coisa. Dediquei-me à música, comecei a gravar, a escrever e a cantar. Também colaboro com outros músicos.
Penso que não tem passado um dia em que não tenha feito música.

Entre a música e a Economia

GC: Dedica-se a tempo inteiro à música?
PS: O meu tempo é dividido entre a música e outra carreira a que me dedico, que é a de escrever sobre Economia e Finanças. Sou consultor de bolsas e como cresci a falar as duas línguas, tenho facilidade em explicar as coisas [de Economia] de forma simples. Escrevo artigos para jornais como Morningstar, Wall Street Journal, Us News and World Report. Tive a honra de ser mencionado no Wall Street Journal pela primeira vez na semana passada.

GC: Tem alguma banda?
PS: Toquei em várias bandas. A primeira foi com o Kevin Figueiredo (que agora pertence aos Extreme), e Donovan Bettencourt, (Lúcia Moniz e João Pedro Pais).
Eu gosto das amizades e do convívio de bandas, mas penso que me sinto mais livre e sem limites de estilo quando estou sozinho. Dessa forma posso tocar qualquer estilo e não é preciso combinar dias de ensaio ou ter de considerar todos os pontos de vista dos vários elementos. É um pouco “selfish” (egoísta), mas penso que ser artista tem sempre um pouco disso.
Por não ter banda, eu posso dedicar-me a qualquer tipo de música que eu sinto naquela altura. E com a internet, posso encontrar pessoas que gostam daquele som e que querem participar.
A internet acabou com todos os limites para os músicos. Eu posso trabalhar com uma pessoa da minha “banda” ou uma pessoa que se encontra no Cazaquistão e que nunca conheci. A língua comum é a música e o meio é a internet.

GC: Como decorreu a sua ligação aos Portuguese International Awards (IPMA). Já tinha concorrido antes?
PS: Eu ouvi falar dos prémios IPMA através do meu amigo Aloísio DaSilva. Ele é um grande guitarrista e foi vencedor há dois anos deste concurso que distingue os músicos com ascendência portuguesa e que se encontram por todo o mundo. Este ano decorreu a sétima edição e concorreram músicos oriundos de oito países de três continentes.
Eu fui nomeado em 2015, mas não ganhei nessa altura. É uma oportunidade enorme e eu trabalhei muito para este prémio. O concurso recebe música de todo mundo e todos os anos a competição é sempre mais difícil. São verdadeiramente músicos espetaculares de todas a partes do mundo e posso afirmar que, naquele dia, somos todos portugueses juntos a celebrar a música. É uma competição, mas é também uma celebração do que é ser português e imigrante.

Canção a “Joe” cumpriu o sonho

GC: A sua canção, vencedora do prémio foi feita em que contexto?
PS: A cancão é “Ode to Joe”. O Joe é uma pessoa verdadeira (Joe D’Ângelo). Há três anos passei um bocado difícil, a nível pessoal, e precisava de fazer alguma coisa para mudar o meu estado.
A única coisa que sempre me fez feliz foi a música e como tal decidi voltar a ter lições de guitarra. Procurei o meu professor de há 20 anos e começámos a trabalhar onde tínhamos acabado. Foi dessas conversas e lições que saiu a cancão vencedora.
O tema também precisava de mais alguma coisa especial para acabar. Eu procurei músicos na internet para me ajudar a acabar de compor o tema e cheguei a outro Joe… o Joe Byerly, que soube mais tarde que vive no Cazaquistão. Foram os dois Joe que me ajudaram a finalizar a canção vencedora.

GC: Conhece alguns músicos portugueses actuais?
PS: Quando fui para os Estados Unidos, tive a sorte de morar em Hudson (Massachusetts), a mesma cidade do Nuno Bettencourt da banda Extreme. Conheço o Nuno desde 1989 e tenho visto a careira dele a crescer, ano após ano. Por ter tido a sorte de ter aterrado em Hudson, tenho trabalhado com o Nuno em várias músicas que espero que possam aparecer em público brevemente. Talvez em filmes, CDs, ou até em trabalhos de teatro (Broadway).

GC: Com que frequência vem a Portugal?
PS: Eu estou a visitar Portugal cada vez mais e de forma mais frequente. Espero comprar uma casa nas Caldas ou perto e, qualquer dia, penso regressar. Reconheço que os EUA me têm dado muitas oportunidades, mas é em Portugal que me sinto mais em paz. É um ritmo completamente diferente. Se conseguir o que eu estou a pensar, gostava de dizer que vivo nos dois sítios. Não sou de um nem do outro, sou dos dois.

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