Inês Querido, 30 anos, tem a decorrer uma exposição em Emmendinger (Alemanha) de fotografia e instalação. A autora caldense apresenta o seu olhar sobre várias comunidades europeias que vivem uma vida alternativa e sustentável, mais de acordo com a natureza e sem “luxos” como a internet, electricidade, ou água corrente.
Depois de ter vivido nos EUA, Holanda e Itália, Inês Querido mora agora numa aldeia alemã, junto à fronteira francesa pois nesta zona consegue um equilíbrio entre vários factores que ela e o seu marido, italiano, consideram importantes como “a proximidade com a natureza e boas oportunidades de trabalho nas nossas áreas”.
Depois de Emmendinger, a sua mostra “Building on a dream” vai poder ser vista em Ludwigshafen, numa torre da água que serviu de abrigo durante a 2ª Guerra Mundial e que recentemente foi transformada em espaço cultural.
GAZETA DAS CALDAS – Fotografou essas comunidades envolvendo-se com o seu modo de vida, sentindo-o como seu, partilhando-o, sendo um deles ou no momento de fotografar, distanciou-se para ter uma visão de “repórter” na captação dessa realidade?
INÊS QUERIDO – “Building on a dream” documenta estilos de vida de baixo impacto ambiental. O projecto recebeu um patrocínio da Kodak em 2011 e, nesse mesmo ano, comecei a fotografar exemplos de comunidades ecológicas na Europa. Com o objectivo de explorar a dimensão humana da sustentabilidade, comecei por visitar os países europeus com o maior número de eco-aldeias registadas (Alemanha, Itália e Espanha). Passei duas ou três semanas em cada comunidade, tentando compreender as diferentes iniciativas na sua complexidade, bem como as perspectivas individuais dos seus habitantes.
Apesar de frequentemente convergirem com experiências pessoais importantes, os meus projectos têm como objectivo passar mensagens informativas sobre temáticas que considero importantes, sobretudo relacionados com a ecologia, sustentabilidade e culturas emergentes.
Enquanto desenvolvo os meus projectos, considero extremamente importante ter a disponibilidade de passar algum tempo com as pessoas que fotografo de forma a partilhar a sua rotina diária e conhecê-las melhor.
A oportunidade de viver as situações que documento é sem dúvida o resultado mais valioso que retiro destas experiências.
GC – E teve uma visão de “repórter”?
IQ – Uma abordagem do género produz, sem dúvida, fotos mais distanciadas, mas também muito superficiais. Com uma visita de duas ou três semanas não tenho a pretensão de me sentir parte integrante do grupo, nem é esse o meu intuito.
A documentação de uma determinada realidade é sempre algo de subjectivo, mas uma visita mais prolongada cria a possibilidade de ir um pouco mais além das aparências.
O distanciamento existe de qualquer maneira pois a máquina pendurada ao pescoço e o bloco de notas não deixam margem para dúvidas acerca do meu papel durante a minha estadia.
Mas o facto de adoptar uma abordagem contemplativa e genuinamente curiosa permite-me o acesso a muitas pessoas que normalmente não se deixam fotografar.
Tornada a casa, no momento de escolher as imagens para integrar no projecto, tento criar uma narrativa que transmita o que tive oportunidade de descobrir acerca do sítio e das pessoas que conheci.
“Apercebi-me que afinal não lhes faltava nada”
GC – Identificou-se com essas comunidades?
IQ – Enquanto fotografava para este projecto, houve muitas coisas que me surpreenderam e me inspiraram nas várias comunidades que visitei (em Itália, Alemanha, Portugal, Espanha e Finlândia). Nomeadamente a força de vontade de quem decide dar um passo numa direcção diferente, que não é a mais fácil nem a mais difusa. Mas é uma opção, tão real e viável como viver na cidade e ter um emprego das “9h às 17h”. Essa foi para mim uma grande lição.
Conheci pessoas que abdicaram dos considerados confortos indispensáveis dos dias de hoje (como electricidade, internet, água corrente, etc.), e que me fascinavam por conseguirem viver com tão pouco. Mas enquanto partilhava o seu dia-a-dia, apercebi-me que afinal não lhes faltava nada.
GC – Que projectos tem mais para expor depois de Emmendingen?
IQ – Nos últimos anos fotografei muito e de momento tenho alguns projectos em “lista de espera”. Mas para já vou concentrar as minhas energias em levar a exposição “Building on a dream” a outras galerias. “Building on a dream” foi exposto o ano passado na Finlândia e está de momento aberto ao público na Galeria im Tor em Emmendingen.
Para o ano o projecto vai ser exposto na cidade alemã de Ludwigshafen, numa torre da água que serviu de abrigo durante a Segunda Guerra Mundial e que recentemente foi transformada em espaço cultural.
A exposição contém mais de 50 fotografias a preto-e-branco que imprimi manualmente num pequeno laboratório fotográfico em casa. Há também diversas instalações feitas com materiais reciclados e uma instalação sonora que desenvolvi em parceria com o meu amigo e engenheiro de som, Sergio González Cuervo.
Em POrtugal duas vezes por ano para matar saudades
GC – Onde vive actualmente?
IQ – De momento vivo numa pequena aldeia alemã na região de Rheinland-Pfalz, junto à fronteira com a França. Eu e o meu marido Leonardo (de pai italiano e mãe alemã), escolhemos esta zona da Alemanha para viver porque aqui conseguimos encontrar um bom equilíbrio entre vários factores que consideramos importantes, nomeadamente a proximidade com a natureza e boas oportunidades de trabalho nas nossas áreas.
GC – Em que países já viveu?
IQ – Já vivi em Nova Iorque (USA), Londres (UK), Amesterdão (Holanda) e em Modena (Itália).
GC – Como é hoje a sua relação com Portugal? Pensa regressar?
IQ – Regresso a Portugal duas vezes por ano, sobretudo para matar saudades da família. Além disso encontro-me com os meus pais e com o meu irmão (que vive perto de Berlim) algures na Europa sempre que possível.
No início de Maio tivemos todos reunidos, com tios, primos e amigos, em ocasião da inauguração da minha exposição em Emmendingen.
Apesar de longe, mantenho contacto regular com a minha família, e o apoio incondicional que me dão tem-me ajudado a continuar e a não desistir dos meus sonhos, dos quais, aos poucos, me vou conseguindo aproximar. Continuo a trabalhar para que um dia se tornem realidade.
Natacha Narciso
nnarciso@gazetadascaldas.pt

































