


O concelho das Caldas vai ter uma carta arqueológica onde estarão marcados os sítios e achados arqueológicos com as respectivas identificações. Este documento, que estará pronto dentro de quatro anos, resulta de uma parceria entre o Instituto Politécnico de Tomar e a Câmara, que financia os 100 mil euros que custa o projecto.
Actualmente existem apenas 36 pontos que incluem estações (sítios visitáveis) como locais onde foi encontrado algo.
Nas Caldas há pegadas de dinossauros, há vestígios de ocupação pré-histórica, há marcas da passagem dos romanos pela região, da rainha que deu nome à cidade e, claro, dos monges de Cister. Mas em termos arqueológicos estão apenas marcados 36 pontos na DGPC.
Esta é uma realidade que poderá mudar com a criação de uma carta arqueológica. A ideia é marcar num mapa todos os sítios e achados arqueológicos do concelho e fazer uma ficha de identificação datada para cada um.
O projecto, que arrancou em Fevereiro, tem uma duração de quatro anos e resulta de uma parceira entre o Laboratório de Arqueologia e Conservação do Património Subaquático (LACPS) do Instituto Politécnico de Tomar (IPT), Associação Computer Aplications Archeology Portugal (CAA Portugal) e a Câmara das Caldas, sob a autorização da Direcção-Geral do Património Cultural. A autarquia financia a iniciativa, que tem uma dotação de 25 mil euros anuais, num total de 100 mil euros.
O projecto CARACA (Carta Arqueológica de Caldas) tem a coordenação de Alexandra Figueiredo (LACPS) e, na equipa, conta com o caldense Ricardo Lopes (técnico do IPT).
O objectivo é musealizar sítios arqueológicos nas Caldas e potenciar os achados, tanto terrestres como subaquáticos. “Não existe nada parecido com uma carta arqueológica nas Caldas!”, salientou Ricardo Lopes.
A maior esperança de encontrar algo novo está nas freguesias rurais, porque em zonas urbanas o terreno foi sendo mexido ao longo dos anos e hoje tem habitações e serviços que dificultam o estudo do mesmo.
Esta iniciativa pretende também trazer de volta às Caldas alguns achados arqueológicos do concelho que estão espalhados um pouco por todo o país, sendo necessário para tal um espaço museológico.
Fazer uma leitura de conjunto
O objectivo, segundo Ricardo Lopes, é “fazer uma leitura de conjunto e perceber como foi feita a ocupação humana”. Para isso começam por recolher informações documentais (escritas, mapas e fotográficas) e orais (em conversas com a população). Depois incluem-nas numa base de dados e num sistema de georeferenciação, organizam-nos por prioridades e incluem-nos na cartografia do município.
O projecto CARACA está na primeira fase, de recolha da informação, analisando também a toponímia e fotografias aéreas. A segunda fase é a prospecção dos locais.
Durante esta fase irão ouvir as comunidades piscatória e agrícola, os caçadores, associações de jovens, de terceira idade e outras ligadas à História e ao património. Nas sessões fazem inquéritos e procuram também pessoas que estudem os locais.
A importância dos testemunhos orais
Gazeta das Caldas acompanhou duas sessões do ciclo de palestras: “Conversas sem idade, olhares diversos sobre o património arqueológico de Caldas”. A primeira no Centro de Dia dos Vidais e outra no café-concerto do CCC.
A zona de Vidais tem ocupação humana de há mais de 4000 anos, como comprovam as Grutas de Ribeira de Crastos, que foram escavadas pelo Homem. Terão sido, provavelmente, usadas para rituais funerários.
O material recolhido na Ribeira de Crastos foi depositado nos anos 50 no Museu Nacional de Arqueologia, mas 20 anos depois, quando foi consultado o espólio, não correspondia em números ao inventário.
Nos tempos modernos as grutas já serviram, por exemplo, para abrigar os trabalhadores agrícolas dos campos próximos, quando chovia.
A segunda sessão que a Gazeta acompanhou contou com a presença de Sónia Simões, também técnica do projecto, que explicou que das 12 associações convidadas, dez aceitaram participar.
Nas várias freguesias as pessoas tomam contacto com objectos antigos (alabardas, pontas de lança e machados com perto de 5000 anos) e vão dando sugestões de “coisas antigas” que conhecem: grutas, pontes, pedras e lendas.
Na plateia estava Isabel Xavier, da Associação Património Histórico, que revelou que são entregues naquela associação mapas antigos e outros achados (como pedras, por exemplo). Sugeriu ainda uma consulta ao arquivo da Gazeta das Caldas dos anos 60, aos textos de Franjorfu (pseudónimo de Francisco Jorge Furriel). Comparando com outros países, Isabel Xavier afirmou que em Portugal apenas se escava à superfície e que “depois os trabalhos páram porque pode encontrar-se algo mais”, o que pode representar mais custos ou o embargo de obras.
Um dos temas abordados foi o barco que está enterrado em frente à duna de Salir do Porto, e que se supõe que seja um caíque inglês do século XIX. Deverá ser alvo de prospecções ou neste Verão ou no próximo, com auxílio de alunos do IPT. O objectivo é perceber, em duas a três semanas, a importância daquele achado.
UM CASTRO ENTRE DOIS CONCELHOS
Na sessão falou-se também do Castro de Santa Catarina, que está dividido por dois concelhos – Caldas e Alcobaça. Ricardo Lopes esclareceu que as duas Câmaras ficaram de conversar sobre o assunto, mas a resposta do arqueológo de Alcobaça nunca chegou. “Vamos tentar fazer algo nesse sentido”, assegurou Ricardo Lopes, notando que não devem ser as fronteiras geográficas a limitar este processo, até porque se descobriram “muitas coisas interessantes e há muita zona que não foi escavada na altura”.
Também presente na sessão esteve Hugo Oliveira, vice-presidente da Câmara, que defendeu que as grutas de Salir do Porto merecem também uma visita e revelou que a Igreja está a ponderar recuperar a Capela de Sant’Ana, em Salir do Porto.
Recordou que quando estavam a ser feitas obras junto ao antigo lar das enfermeiras (perto da Igreja de Nossa Senhora do Pópulo) foram encontrados vários ossos, mas haviam sido depositados numa caixa. “Significava que quando alguém fez obras ali há muitos anos os encontrou e os depositou ali”, esclareceu.
Sugeriu que fosse consultado um trabalho da TVCaldas em que as pessoas com mais idade das freguesias contavam histórias dos lugares. Ainda que não exista nenhuma prova, o autarca disse que “têm de haver vestígios romanos no concelho”. Um pensamento lógico se notarmos que uma das principais vias romanas passaria nesta zona.
O vereador falou da conduta da água termal que vem do Hospital e passa por baixo da antiga Casa da Cultura e da Rua Luís de Camões foi desactivada e que poderia ser reabilitada e usada para fins turísticos, apesar do elevado custo que representa a reabilitação.
Sobre a Pocinha de Salir do Porto, foi lembrado um estudo que atestava as propriedades curativas daquela água. Hugo Oliveira afirmou que deve existir um furo no outro lado da duna e que a exploração desta água esteve concessionada no fim dos anos 60. I.V.

































