João Serra, Mário Tavares e Rui Lopes foram os três oradores da segunda conferência, organizada pela Escola Secundária Rafael Bordalo Pinheiro, no âmbito da celebração dos 130 anos daquele estabelecimento de ensino.
As comemorações vão continuar com um concurso sobre Bordalo Pinheiro, o lançamento de um livro sobre a própria escola e quem a frequentou, e ainda uma mega-festa em Junho, em que a instituição vai convidar toda a população a participar.
Qual foi o impacto de Rafael Bordalo Pinheiro e da sua fábrica quando se instalou nas Caldas da Rainha em 1884? Foi esta a questão que o investigador João Serra se propôs responder tendo em conta que, quando o artista chegou, “tinha autores a trabalhar que eram reconhecidos nacional e internacionalmente pelo menos desde a década de 70”. Bordalo vem para um local onde já existia tradição cerâmica e terá sido esse facto que o trouxe. Só que a sua relação com o meio existente foi tempestuosa, tal como escreveu José Queirós, estudioso da cerâmica que privou com Bordalo e que assim deu a conhecer este facto em 1907, dois anos após a morte do artista.
É também este autor que conta que na fábrica de faianças, Bordalo teve que lidar com “intrigas e descontentamento entre operários que inclusivamente chegaram a fazer greves”, disse.
Quando chegou, Bordalo Pinheiro era visto por alguns como um intruso. Durante a sua alocução, o investigador caldense analisou os estatutos da Fábrica que datam de 1883 e fez uma leitura cuidada sobre o que estes previam. A unidade industrial passou por várias fases e o orador deu a conhecer as modificações feitas em relação à gestão e à direcção artística da mesma.
Rafael Bordalo Pinheiro fez os primeiros ensaios cerâmicos nas Caldas em 1884 na fábrica de Gomes Avelar. O investigador deu também a conhecer a cronologia de factos importantes relacionados com a produção de cerâmica nas Caldas, de que é exemplo a abertura da loja da Fábrica na Avenida da Liberdade, em Lisboa, que contou com a presença da família real.
O orador salientou ainda que Bordalo sempre foi próximo do governo da época. Era amigo de Emídio Navarro, então ministro das Obras Públicas, Comércio e Indústria que visitou a fábrica em 1886.
No ano seguinte foi ainda preparado um contrato de formação profissional que a fábrica assina com o governo, possibilitando a Bordalo ensinar os aprendizes recebendo um subsídio estatal por tal. Os restantes pequenos industriais locais também queriam tais benesses, mas o problema é que não tinham a mesma escala da fábrica de Bordalo Pinheiro, que, na altura, tinha 150 funcionários ao passo que “ao todo, as restantes fábricas existentes nas Caldas, somavam cerca de 30 pessoas”.
Em conclusão, João Serra afirmou que a chegada de Bordalo às Caldas provocou uma deslocação do interesse das elites compradoras da produção tradicional de Manuel Mafra, entre outros produtores, para Bordalo Pinheiro, sendo que este último “era mais mediático, conhecido e com um gosto mais refinado”.
As permanentes reformas da Educação
Rui Lopes dedicou a sua intervenção às “Reformas Educativas no último quartel do século XIX/Início do século XX” tendo com isso dado um contributo para se conhecer “o ambiente cultural/educativo que se traduziu em produção legislativa que suportou o aparecimento de instituições como esta”.
O convidado abordou o conceito de reforma educativa e destacou a tendência, sempre presente na Educação em Portugal, “da necessidade de reforma o que tem provocado uma situação paradoxal de “reforma permanente””.
Abordou também a dinâmica da escola moderna nas suas componentes tendo referido a “cultura de escola” como elemento estruturante da realidade educativa.
Abordou ainda o facto desta escola ter sido criada em 1885 e identificou a altura “como o momento de génese de uma cultura escolar que chega aos nossos dias”.
O convidado, que se doutorou recentemente nesta área, abordou globalmente as reformas educativas que rodearam a época, como forma de explicação para a formação e compreensão da matriz histórico-educativa da Escola Secundária Rafael Bordalo Pinheiro.
Mário Tavares abordou o tema “Escola Industrial e Comercial Rafael Bordalo Pinheiro – 1884 – 2014 – Razão e Evolução de um projecto com 130 anos”. O orador apresentou os estudos e as motivações que estiveram na base da criação da Escola de Desenho Industrial Rainha D. Leonor que abriu portas em 1885, com 54 alunos, um ano depois da chegada de Bordalo Pinheiro às Caldas.
O investigador fez uma análise histórica ao ambiente que se vivia nas Caldas quando por cá se instalou “a Fábrica dos Bordalos”.
Este estabelecimento de ensino, em 1887, por ordem de Emídio Navarro, passa a ser Escola Industrial Rainha D. Leonor. Posteriormente, o governo de então, assinou com a Fábrica de Faianças um protocolo em que esta se “responsabilizava pela educação prática e profissional de um certo número de alunos da escola Industrial”, atribuindo um montante de cinco contos de reis anuais durante 15 anos. O acordo vigorou a partir de 1887/1888. “Dava-se assim início em Portugal de uma inovadora experiência teórico-prática”, disse o orador.
Em 1918 a escola foi despromovida e passou a ser Escola de Artes e Ofícios.
Mário Tavares deu ainda a conhecer as mudanças pelas quais a escola passou referindo o facto de ter integrado em 1919 uma aula de Comércio. A escola passou por nova reforma em 1948 com a criação do ciclo preparatório e dos Cursos Gerais. Em 1924, quando foi criada a Escola Industrial e Comercial Rafael Bordalo Pinheiro, o seu primeiro director foi o escultor Eduardo Gonçalves Neves. Seguiram-se Cunha Vaz e Agostinho de Sousa, Morais do Vale, Leonel de Sotto Mayor e Eduardo Loureiro. Referenciou ainda o nome de um docente muito reconhecido nas Caldas pelo seu papel pedagógico, Abílio Moniz Barreto.
Maria do Céu Santos, directora do agrupamento, estava satisfeita com a adesão do público e com o decorrer das comemorações dos 130 anos do estabelecimento. Em breve será criado um concurso sobre Bordalo Pinheiro para outras escolas a quem se propõe que façam trabalhos em várias vertentes desde a escrita às artes. Posteriormente será lançado um livro com os testemunhos de quem frequentou esta escola e que se vai designar “Eu faço parte desta história”. No final do ano lectivo está prevista uma grande festa, organizada pela escola, e que se destina a toda população.
Natacha Narciso
nnarciso@gazetadascaldas.pt






























