Cristina Horta, Isabel Castanheira e João Paulo Cotrim foram os três oradores da primeira conferência sobre o patrono da Escola Secundária Rafael Bordalo Pinheiro (RBP). Perto de uma centena de pessoas quis assistir a esta sessão, a primeira de um programa que vai assinalar os 130 anos daquele estabelecimento escolar. A próxima terá lugar a 30 de Janeiro e contará com os investigadores João Serra, Mário Tavares e Rui Lopes.
“Creio que Rafael Bordalo Pinheiro não tem sido devidamente estudado. Ele deveria ser visto como um todo”. São palavras de João Paulo Cotrim, editor e investigador, sobre a vida e obra deste artista que viveu entre 1846 e 1905. O editor referiu que tem sido estudada a sua obra cerâmica, a sua caricatura e a sua banda desenhada, mas que falta estudar Rafael Bordalo Pinheiro “como artista total, muito moderno e contemporâneo no sentido em que ele é a personagem principal do seu teatro”.
O orador disse também que Bordalo Pinheiro “é um artista atípico em Portugal pois teve sucesso desde muito cedo” quando começou logo a despertar o interesse dos coleccionadores.
Antes de ser uma personagem das Caldas, Rafael Bordalo Pinheiro “começou por ser uma personagem do Chiado”. João Paulo Cotrim fez desfilar um pouco do percurso do artista, recordando como este “era um verdadeiro bon vivant”.
Ao longo da sua intervenção, João Paulo Cotrim foi mostrando vários trabalhos gráficos de Bordalo sobre a sua vida e sobre a sua intervenção social, política e cívica. Já perto do final da vida, publica na Parodia uma série de desenhos que ainda hoje mantêm actualidade e na qual “a finança é apresentada como um grande cão, a economia é choca, o parlamento tem muitos papagaios e a política é a grande porca”.
Para João Paulo Cotrim, o artista “possuía um talento extraordinário e por uma vez teve as devidas homenagens em vida”. Foi apreciado e admirado e “merecia lugar no Panteão”, disse. “Só que, com tantos desportistas não sei se haverá lugar para ele”, ironizou.
Variações Caldenses
Isabel Castanheira, tal como João Paulo Cotrim, referiu os ataques ao jornal francês Charlie Hebdo, conhecido pelas caricaturas contundentes que publicava para recordar que também Rafael Bordalo Pinheiro foi alvo de censura na sua época.
A livreira saudou alunos e professores da escola a quem a cidade muito deve, já que “foram os antigos estudantes desta escola que na vida prática com trabalho e dedicação, aplicaram os conhecimentos aqui adquiridos, honrando o nome do patrono da sua escola”.
Seguiu-se a apresentação Variações Caldenses, onde a oradora se “transformou” em Maria Paciência e, acompanhada por Rafael Bordalo Pinheiro, percorreu os locais que o artista referiu nas suas publicações Pontos nos ii, no António Maria e na Paródia.
“Com um lápis bem aguçado, aliado a um espírito de fina crítica, lega-nos um precioso conjunto de croquis em que a sociedade caldense é analisada à lupa com graça, humor e ironia. Ainda hoje nós, os caldenses, muito lhe agradecemos”, disse Isabel Castanheira, agora transformada em repórter daqueles jornais e ajudando o mestre em várias situações relacionadas com a estátua que Bordalo Pinheiro queria erguer ao Dr. Pim, o administrador do Hospital Termal, o enchimento do Lago do Parque, referindo Rodrigo Berquó entre tantas outras situações relacionadas com as termas, a cerâmica e a sua fábrica.
Trabalhos menores para sustentar a fábrica
Para Cristina Horta, o ceramista “assinala o novo paradigma do artista moderno, polivalente que abre a sua arte às mais diversas manifestações e áreas artísticas”, afirmou.
A investigadora deu a conhecer o percurso de Bordalo pela cerâmica, recordando a importância do seu antecessor, Manuel Mafra e do seu sucessor, o filho Manuel Gustavo. “Só que por causa da sua personalidade exuberante, Bordalo Pinheiro abafa tudo em volta”, disse a investigadora.
Quando a Fábrica de Faianças das Caldas encerrou portas, o também empresário ficou com pouco mais de meia dúzia de operários. O próprio artista “desdobrou-se a corresponder a trabalhos para conseguir proventos para a sua fábrica, e na carta que escreve, em 1891, a Mariano Pina, evoca por um lado o enorme êxito obtido, mas não deixa de assinalar as dificuldades económicas que a fábrica vivia”.
Cristina Horta contou que Bordalo se viu obrigado a aceitar – para se sustentar a si e pagar aos operários que tinham ainda ficado a seu lado – trabalhos menores como rótulos de vinho, de conservas, de bolachas, de cigarros, cartazes, anúncios. E queixava-se que tudo somado “dá uma bagatela”.
Segundo a oradora, em 1905 Rafael Bordalo Pinheiro vai, com o filho Manuel Gustavo, trabalhar na decoração do cortejo carnavalesco do Clube dos Fenianos, no Porto. “A sua saúde já era débil pois sofria de uma bronquite crónica, ressente-se do frio do Norte, sofre uma pneumonia, regressa a Lisboa, a sua casa no Largo da Abegoaria e sem se recompor vem a falecer de uma ataque cardíaco a 23 de Janeiro de 1905”, disse a ex-directora do Museu de Cerâmica.
A directora da Escola Secundária Rafael Bordalo Pinheiro, Maria do Céu Santos, estava satisfeita com a adesão do público a esta proposta do agrupamento que dirige.
“A escola está na dianteira cultural ao propor esta iniciativa em ligação à cidade”, disse a responsável, que também irá organizar sessões congéneres para os alunos do agrupamento. Sobre a próxima conferência, que terá lugar a 30 de Janeiro, a directora afirmou que esta sessão dará ênfase à história da educação, às escolas profissionais e à evolução do ensino.






























