Realiza-se este ano a segunda edição do workshop de Big Band integrado no Caldas Nice Jazz. Vinte e um jovens da região (a maioria das Caldas, mas também de Valado dos Frades, Benedita, Alcobaça e Bombarral) entre os 14 e os 30 anos, reúnem-se durante quatro fins-de-semana sob a batuta do maestro Adelino Mota, para ensaiar 14 temas clássicos do jazz, que apresentarão publicamente a 9 de Outubro.
De Miles a Mingus, o reportório não é fácil de tocar, mas é de fácil audição. As canções são ritmadas e o coordenador do projecto, Adelino Mota, garante ter tido “o cuidado de escolher vários estilos dentro do jazz, como o swing, os ritmos latinos e o latin jazz”.
Comparando com o último ano, o maestro assegurou que tudo está a ser feito nos mesmos moldes, só mudou o reportório. “Ao início chegam um pouco crus, até porque não sabem o que vão tocar, estão a ‘ler à primeira vista’”, contou, comparando a situação a um cenário em que alguém recebe um poema impresso, que não conhece e vai para um palco tentar declamá-lo. “A pessoa sabe ler e lê, mas não interpreta, não declama. Aqui queremos que eles consigam transmitir a emoção da música”, concluiu.
Para isso é preciso dar-lhes a conhecer o formato Big Band “que requer uma forma de tocar muito diferente da chamada música ligeira”. Resumindo, é “como falar outra linguagem, porque as letras do alfabeto são iguais em várias línguas, mas a forma como se juntam e se pronunciam são diferentes, tal como as notas musicais”.
No segundo fim-de-semana, durante a primeira parte da formação, encontramos as secções divididas por salas com os respectivos professores. Metais numa sala (orientados por Rúben da Luz), Madeiras noutra (João Capinha), Metais, Secção Rítmica (Daniel Bernardes) aqui e Vozes (Inês Sousa) acolá. No fim, tutti para mais duas horas de ensaio.
Adelino Mota explicou à Gazeta das Caldas que alguns dos jovens que participam este ano também o haviam feito na edição anterior e que já conhecia a maioria dos participantes. O maestro voltou a mostrar a sua incompreensão relativamente à falta de participação das bandas da região.
Inês Sousa é professora de canto especializada no jazz e dá aulas no Conservatório de Caldas. Neste projecto orienta duas raparigas e um rapaz que não conhecia. “Estão bem preparados e vê-se que já têm experiência, são quase uns profissionais”, disse, elogiando a postura dos mesmos em contexto de sala de aula.
Como tem de ensinar no menor tempo possível procura condensar a informação e virar tudo para a parte prática. “Fazemos muitos exercícios de técnica vocal aplicados às canções que vão cantar”, explicou.
A concluir afirmou que “é de louvar este tipo de iniciativas e era giro ter ainda mais pessoas”.
UM DESAFIO PARA TODOS
A caldense Ana Matos, que entre outros projectos, toca na Banda das Caldas, é uma das cantoras e já participou no último ano. “É um desafio”, considerou a jovem que contou ao nosso jornal que “a cada ensaio, a musicalidade melhora um bocadinho, fica mais parecido com o que vai ser o concerto”.
O workshop “é muito acessível, tanto em termos económicos como na relação com os professores, que são muito humildes e simpáticos, são um de nós”.
A jovem esperava maior competição no acesso à formação. “Acho que houve pouca publicidade e divulgação”, disse.
A terminar explicou que “este workshop serve para plantar a semente, porque ficamos com o gosto e queremos melhorar”.
Já Gonçalo Justino, do Valado dos Frades, não teve disponibilidade para participar no último ano, frequentando apenas o último ensaio e tocando como guitarrista convidado no concerto. A mais-valia desta formação é “o contacto com profissionais com grande visibilidade e partilha de conhecimento”. Mas exige muito trabalho em casa, porque o timing é curto.
Gonçalo revelou estar à vontade com o formato porque pertence à Big Band da Nazaré, e também por isso procura ajudar quem nunca participou numa formação deste tipo. “É mais restrito, tens de estar mais atento e respeitar muito mais o outro”, comparou.
A terminar afirmou ter “pena que não existam mais iniciativas destas, que aproveitam uma mostra para formar os interessados nessa área”, sendo que considerou que o formato pode ser aplicado a diferentes campos, da dança à cerâmica, por exemplo.
Quem se estreia nestas andanças é a caldense Maria Brás, que toca flauta clássica na A. M. Óbidos. A jovem está a tocar um estilo musical que gosta de ouvir, mas que ainda não havia experimentado interpretar.
“Para mim a grande diferença tem sido essa, no geral sinto que está a melhorar, o nosso som está cada vez está mais audível e expressivo”, afirmou.
Por alto, disse que metade dos participantes estuda música e outra metade não. “É muito importante esta troca de conhecimentos, técnicas e impressões para alargar a nossa musicalidade”, referiu, salientando que, ainda assim, “podia vir mais gente, porque temos alguns naipes desfalcados”.































