Auren, o pequeno serial killer que se tornou escritor

0
756

auren6A história de Joseph Danan “As aventuras de Auren, o pequeno serial killer” é a mais recente aposta do Teatro da Rainha, que estreou esta peça de teatro infantil no CCC no dia 26 de Fevereiro, sexta-feira.
O palco é invadido por oito actores que representam o universo dos sonhos de Auren, um rapazinho com 11 anos, desafiando o espectador a reflectir sobre o lado bom e mau do ser humano. Como é possível que o menino mais querido à face da terra seja também o mais terrível?

O cenário aparatoso é de encher os olhos, especialmente das crianças. Num dos cantos, uma janela e uma pilha de móveis, alguns virados de pernas para o ar, representam a casa de Auren. O cesto de basquete transporta-nos para o recreio da escola e o candeeiro de pé alto para o espaço da rua. Ao fundo, as árvores negras são a porta de entrada para a floresta.
É por este turbilhão que Auren deambula enquanto dorme e é para os sonhos (ou pesadelos) que o menino transfere os seus principais medos. O medo de ir ao dentista, de ser apanhado sem bilhete no comboio ou pelo rapaz mais velho da escola, preguiçoso, que ainda está no primeiro ciclo e faz troça dos outros. Ao Auren, por exemplo, pendurou-o no cesto de basquete.
Para resolver estas ansiedades, Auren não é de meias medidas e transforma-se num javali serial killer. Primeiro mata uma gaivota, depois o dentista-castor, o revisor-lagosta dos caminhos de ferro, o grande lagarto, o inspector-pinguim e três ursinhos. E fá-lo sem qualquer piedade pois, como ele próprio diz, a raiva multiplica em dez a sua força.
É quando se observa no reflexo da cascata encantada que Auren se apercebe que já não reconhece o seu rosto. Transformara-se num monstro. Graças à piedade de um ganso, que lhe oferece uma pena, Auren tem a oportunidade de recomeçar do zero. Acaba por tornar-se escritor e é com a pena que escreve um poema à rapariga que, no início da peça, não lhe quis dizer o nome. Desta segunda vez, sussurra-o ao seu ouvido.
“O mais curioso é que Auren encontra a solução para os seus problemas na arte, passando de serial killer a poeta”, comentou o encenador Paulo Calatré, para quem esta peça é a “prova de que o ser humano tanto é capaz das acções mais piedosas como cruéis”.

Pôr as crianças a pensar

- publicidade -

Embora o público alvo sejam as crianças, Paulo Calatré afirma que a escrita de Joseph Danan pouco tem de infantil (ainda que a peça seja pontuada por muito humor). “Este enredo não trata as situações com ligeireza, pelo contrário, coloca as crianças a pensar, o que é raro encontrar na escrita para infância, que na maioria dos casos não encara as crianças como seres críticos”, afirmou.
Quanto ao cenário, 90% em madeira, Paulo Calatré explica o objectivo: “queremos proporcionar às crianças uma experiência visual e táctil, porque hoje em dia os mais pequenos vivem num mundo demasiado clean, onde tudo é de plástico”.
“As aventuras de Auren, o pequeno serial killer”, obra traduzida por Luís Varela, conta com a interpretação de Tiago Moreira, Inês Barros, Maria Quintelas, Fábio Costa, Alexandre Calçada, Élio Ferreira e os estagiários Mafalda Taveira e José Ferreira,  com cenografia e máscaras de Sandra Neves, desenho de luz de Nuno Meira, música de Carlos Adolfo e figurinos de José Carlos Faria. A peça continua em cena nos dias 6 e 11 de Março às 16h00 e 21h30, respectivamente.

- publicidade -