Criada em 1947 por um conjunto de comerciantes e industriais, a Banda Comércio e Indústria das Caldas tem hoje 76 músicos dos 11 aos 56 anos. Com 69 anos de existência, nem todas as marés foram de sucesso e a banda chegou mesmo a interromper a actividade em 1973. Apelidada de “segunda família” pela maioria dos músicos, a banda é local de aprendizagem, mas também de criação de laços (amizades que ficam para a vida) e até de casamentos.
Sexta-feira à noite e o relógio marca as nove em ponto. Falta meia hora para o ensaio da Banda Comércio e Indústria, mas a maioria dos músicos chega mais cedo. Seja para tomar um café no bar da sede, afinar o instrumento ou trocar dois dedos de conversa. A cerveja e o queijo estão guardados para depois da meia noite, hora em que o barulho dos instrumentos é substituído pelo ruído das vozes que enchem a sala. Mais de 20 pessoas que se deixam ficar para o convívio que muitas vezes só termina depois das três da manhã.
São momentos de curtição, diz Adelino Mota, maestro da banda há oito anos. “Há sempre alguém que traz algum petisco para trincar, como eu, que no outro dia estava no supermercado e comprei 12 latas de sardinhas para comermos no final do ensaio”.
Apresentações feitas, a banda tem 76 elementos, o mais novo com 11 anos e o mais velho com 56. Em 1960, quando José António entrou para o grupo (tinha 13 anos, os mesmos da banda na altura), era o músico mais jovem. Uma exceção, naqueles tempos, em que se aceitavam poucos miúdos.
“As bandas eram formadas pelos velhos e os mais novos tinham muita dificuldade em entrar. Se um jovem tivesse jeito só conseguia lugar se fosse muito teimoso ou tivesse um pai músico”, conta José António, salientando que agora se passa o inverso: quando um músico atinge uma certa idade, acaba por retirar-se.
Criada em 1947 por um conjunto de comerciantes e industriais – daí o seu nome – a banda nasceu alimentada pela música militar de alguns elementos do Regimento de Infantaria Nº5.
Até 1973, data em que a banda parou a actividade por falta de músicos, a sua agenda estava principalmente preenchida com concertos no coreto do Parque. Todas as quintas-feiras e domingos, durante o Verão: era este o acordo com a Câmara Municipal. “Fora isso, tínhamos poucos serviços”, adianta José António, recordando que nos dois últimos anos chegou a ser necessário recrutar músicos de outras bandas para compor uma actuação. E embora não faltassem lugares disponíveis, nem por isso se apostou no talento dos jovens.
Nova banda depois do 25 de Abril
Um ano feito da revolução dos cravos e a Banda Comércio e Indústria voltava a pegar nos instrumentos. Carlos Branco, da actual direcção, lembra-se bem do dia em que assinou a folha de inscrições, afixada na Casa da Cultura. “Nessa altura vinham actuar às Caldas grupos muito bons e nós, miúdos, ficávamos entusiasmados. Pelo menos mais de dez rapazes do meu grupo de amigos assinou aquela folha”, recorda.
José António fez parte do grupo que se voluntariou para ensinar o solfejo aos novos músicos e conta que só a partir da lição 18 é que os alunos começavam a aprender um instrumento. Reuniam-se na antiga sede da banda, onde é hoje o Museu do Hospital e das Caldas.
No dia em que fez 14 anos, Graça Louro entrou para a banda. Há 41 anos, quando ainda não era bem visto que as meninas pertencessem a um conjunto maioritariamente masculino.
“Vinha para aprender música, mas não só… a banda servia como um local para os jovens se reunirem, como desculpa para sairmos de casa e conhecermos novas pessoas”, conta a professora primária, relembrando as matinés que os músicos organizavam ao domingo para ouvir uns discos e passar o tempo. A paixão pelo saxofone estendeu-se a um dos elementos: Carlos Branco, com quem viria a casar-se. Sim, porque a banda é também terreno fértil para namoros e matrimónios.
Em 1976, sob a direcção das batutas de Luís Rego, a nova banda estreou-se em palco, num ano em que além da filarmónica, existia ainda um coro e uma orquestra ligeira com cantores. Seguiram-se anos dourados, com dois concertos em directo para a estação pública de rádio e televisão – a recepção do Cacilheiro em Lisboa (RDP, 1978) e a Gala do Dia de Portugal na Figueira da Foz (RTP, 1982) – e várias participações em festivais de bandas.
Entre tantos concertos, nem todos trazem boas recordações. Como um em Viana do Castelo, conta José António, em que a banda tocou na Praça de Touros e quase se arriscava a levar com as pedras dos manifestantes anti-tourada. Ou todos aqueles em que São Pedro não se junta à festa, seja porque traz a chuva, que molha os instrumentos, ou um calor que exige aos músicos o dobro do esforço físico.
Actualmente a banda realiza entre 10 a 12 espectáculos por ano, além das procissões (nestas, contudo, participa menos vezes do que gostaria). É que, diz Adelino Mota, os peditórios são importantes fontes de receita mas as comissões organizadoras preferem contratar grupos com menos músicos. “Sai-lhes mais barato do que alimentar 70 bocas. Além disso, para este tipo de festa pouca importância se dá à qualidade musical”.
Repertório variado agrada os jovens
A paixão pela música, o ambiente familiar e o reportório diversificado são os três ingredientes que, na opinião de Adelino Mota, atraem jovens talentos à banda. “Tocamos o que eles gostam”, desde soundtracks (músicas de filmes), transcrições de peças clássicas, obras originalmente escritas para filarmónicas, medleys de clássicos dos anos 80, música portuguesa e, claro está, o “pom-pom-pom” característico das procissões.
E, se há 40 anos não existia internet (importante ferramenta do maestro), os instrumentos eram de pior qualidade e os mais novos não tinham a oportunidade de aprender música na escola, hoje as condições são melhores e as facilidades maiores.
Joaquim Tomé, 54 anos, entrou para a Comércio e Indústria aos 24. Antes, pertencera à filarmónica de A-da-Gorda. Recorda-se que no seu tempo quem lhe ensinou o clarinete tocava trompete. “Era normal isso acontecer, havia pouca formação… tive que ser muito curioso e auto-didacta para evoluir”, explica, frisando que agora a maioria dos jovens concilia a banda com aulas de música na escola ou nos conservatórios. “Há mais qualidade, e isso é bom”.
Sentados lado a lado, músicos de 50 anos partilham o naipe com instrumentistas que têm idade para ser seus filhos. “Quando estão todos a tocar não há diferença entre um músico mais velho e mais novo, ambos partilham a mesma peça, o mesmo papel, a mesma postura”, salienta Adelino Mota, defendendo que o convívio geracional é uma mais-valia para os jovens, que aprendem a respeitar os “veteranos”.
Muitas despesas, poucas receitas
Embora a sede da banda (localizada ao lado do Centro da Juventude) tenha sido cedida pela Câmara em 2004, os custos de manutenção do espaço são elevados, assegura Carlos Branco. A estas despesas juntam-se os gastos com a compra dos instrumentos e respectiva manutenção, custos de deslocação, fardas (cerca de 300 euros cada) e salário do maestro – “que recebe metade do que devia”.
Uma trompa custa cerca de 7000 euros, um clarinete 1200 e uma tuba 6000. “O que nos vale é que muitos músicos têm instrumento próprio, senão seria impossível a colectividade assegurar todos”, explica Carlos Branco, adiantando que há pouca colaboração dos sócios (que não querem pagar um euro a mais) e das empresas caldenses (poucas prestam apoio à banda). O subsídio camarário também é insuficiente, “embora o município se disponibilize a ajudar quando há um encargo maior”.
A funcionar gratuitamente está a Escola de Música Armando Escoto, cujas aulas são leccionadas pelos músicos mais experientes da banda.
José António garante: “não sei como conseguimos dinheiro… somos uns inventores e às vezes sai-nos do bolso. Se é por amor ou vício isso é que já não sei”.
Saxofone
O Saxofone foi inventando em 1841 por Adolphe Antoine Joseph Sax, exibido pela primeira vez em 1844 na “Paris Industrial Exibicion”, e patenteado em 1846.
Apesar de ser fabricado em metal, o saxofone genericamente pertencente à família das madeiras, uma vez que a emissão do som se faz através da vibração de uma palheta simples (normalmente de bambu) presa numa boquilha semelhante à do clarinete e a articulação dos vários graus tonais se faz através da utilização de um mecanismo de chaves semelhante ao da flauta transversal.
Existem 14 variações de modelos de Saxofones, porém os saxofones mais usados são: Soprano, alto, tenor e barítono.































