João Serra, Emanuel Sebastião (ESE) e Isabel Xavier | Natacha Narciso
A presença militar nas Caldas está a celebrar cem anos dado que o Regimento de Infantaria 5 (RI5) se instalou nos Pavilhões do Parque em 1918. Em 1951 o RI5 mudou-se para o quartel actual, que permaneceu ligado à história das Caldas e do próprio país, devido ao envio de tropas para a Guerra Colonial e à tentativa de revolução do 16 de Março.
Estes e outros acontecimentos serviram de mote ao seminário militar que teve lugar no CCC a 18 de Abril e que, além dos militares, contou com as intervenções dos historiadores João Serra e Isabel Xavier, ambos da associação Património Histórico.
Segundo o historiador João Serra, não deve ter sido nada fácil a instalação do RI 5 nas Caldas em 1918. Os Pavilhões do Parque tiveram que sofrer obras de adaptação pois não tinham sido desenhados para ser um quartel e nem sequer tinham sido acabados. Além do mais, era necessário evacuar o edifício dos seus ocupantes que eram alemães, detidos nas Caldas, na I Guerra Mundial e repará-lo dos danos provocados por uma utilização intensiva.
A então vila das Caldas tinha enfrentado graves dificuldades devido à guerra. “A procura termal diminuiu drasticamente”, disse o historiador, explicando que os problemas se estendiam à danificação dos equipamentos hospitalares (não havia técnicos de manutenção) e à falta de combustível (carvão de pedra importado). “Em 1917 a situação foi tão dramática que a Câmara declarou que a cidade não tinha abastecimentos de primeira necessidade e teve que recorrer a empréstimos e à emissão de títulos de dívida municipal”, contou o historiador, referindo ainda que nos anos de 1917 e 1918 se viveu em Portugal a gripe pneumónica, a epidemia mais mortífera da história de Portugal que matou entre 100 a 150 mil portugueses, causando mais mortes do que a I Grande Guerra ou a Guerra Colonial.
A instalação do RI5 nas Caldas da Rainha “foi certamente um prodígio de perseverança e de resiliência às dificuldades”, contou o historiador.
Sala cheia para conhecer alguns factos históricos relacionados com o centenário do RI5/ESE nas Caldas | Natacha Narciso
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OS PAVILHÕES DO PARQUE
O Regimento ficou instalado nos Pavilhões do Parque até Junho de 1953, altura em que se mudou para o quartel onde hoje se encontra. Com a eclosão da Guerra Colonial, o quartel caldense passa a dedicar-se à formação de sargentos. “Em 13 anos formaram-se 62.400 sargentos milicianos, número muito superior à população das Caldas”, disse o autor, acrescentando que apesar da estadia desses jovens ser curta e destes terem pouco tempo livre, “deixaram na cidade uma presença que avivou e sublinhou a cultura juvenil nas Caldas que eclodiu nos anos 60”. O investigador explicou que esse gosto se manifestava nas novas maneiras de vestir e nos novos gostos musicais.
Sobre o relacionamento entre o RI5 e a cidade, Isabel Xavier fez um levantamento nos jornais caldenses onde se conta que entre 1926 e 1927, o RI5 que estava nas Caldas foi para o castelo de S. Jorge em Lisboa. Os caldenses indignaram-se e foi por acção de entidades caldenses como a Associação Comercial que “conseguiram que o Regimento voltasse à cidade”.
A historiadora ainda deu a conhecer que a construção do quartel se insere numa época em que houve a construção de vários novos edifícios nas Caldas como a igreja de Nossa Sra. da Conceição, a urbanização do Borlão, os Capristanos, os Silos e o tribunal.
MÚSICA LIGOU MILITARES À CIDADE
O pequeno auditório do CCC encheu-se de gente para assistir a este seminário onde foram sublinhados os aspectos que mantiveram a ligação entre o RI5 e a cidade das Caldas. Só da Escola de Sargentos Exército vieram 60 alunos. “Além do aspecto social e cultural, houve uma forte ligação entre a cidade e o militares por causa da música filarmónica e que aconteceu logo a partir dos anos 40”, disse Joaquim Oliveira Silva, professor de História Militar da ESE.
Foi do RI5 que saíram em 1941 elementos para o Corpo Expedicionário Português destacado para defesa das posições atlânticas portuguesas nas ilhas dos Açores e no barlavento de Cabo Verde.
Já nos anos 50 é dada uma nova missão ao regimento instalado nas Caldas: formar instruendos que frequentavam o primeiro ciclo da formação de sargentos. É, aliás, por isso que o R5 vai dar origem à actual Escola de Sargentos do Exército.
Outro momento central da história da instituição é a intervenção militar que conduz aos acontecimentos que resultaram na queda do Estado Novo: o 16 de Março de 1974.
Já em 1981 instala-se no quartel a Escola de Sargentos do Exército, que já estava prevista na lei, mas até então “não existia uma escola destinada a tal fim”. Passa então a existir na cidade formação para os sargentos do quadro permanente do Exército.