
Ator e compositor musical são amigos há vários anos e estão a preparar estreia para Teatro LU.CA, na capital
“Eu Cá, Tu Lá” é uma peça de iniciação à escuta que se dirige ao público infantil. É assim que o caldense Nuno Lucas, se refere a esta obra que vai estrear a 11 de março, no Teatro Luís de Camões (LU.CA), em Lisboa.
Trata-se de “uma peça sobre a escuta e sobre as dificuldades em nos expressarmos”, contou o ator, performer e encenador que vive entre Lisboa, Paris e Seul (Coreia do Sul).
Para a construção desta obra, partiu de entrevistas feitas a crianças em diferentes localidades portuguesas. O autor recolheu a opinião de 50 crianças em escolas de Lisboa, Porto, Loulé, Guarda e da ilha Terceira, feitas a partir do final de 2020.
“Pretendia auscultar o que os inquieta”, referiu Nuno Lucas, que recolheu as suas opiniões sobre temas como o bem e o mal, o dinheiro, a separação, Deus e o diabo…
“Uso fragmentos das suas ideias que são reproduzidas pelos dois atores”, referiu o artista, de 42 anos, que para esta peça convidou os atores, Joana Brandão e Paulo Quedas, com quem já tinha trabalhado antes. Ambos funcionam como DJ nesta dramaturgia destinada ao público mais jovem, com idades entre os 9 e os 12 anos.
Às ideias das crianças juntam-se outras sonoridades como frases de youtubers a jogar online, ao relato do lance em que Éder marcou o golo que permitiu a Portugal ganhar o Europeu de França, em 2016, ou sons dos desenhos animados da série Lady Bug. Juntam-se ainda frases de Vitorino Nemésio a comentar assuntos como a Educação.
“Essas falas retiradas dos contextos originais ganham interesse teatral”, disse Nuno Lucas, a quem interessa ainda explorar como se define “em relação ao outro” através daquilo que diz. É nessa fronteira que existe entre o espaço íntimo do (eu, cá) e no contato com o outro (tu, lá) que Nuno Lucas diz que esta peça nasce.
O caldense trabalha muito com o coletivo “Encyclopédie de la Parole”, que se foca na oralidade, na linguagem, nos modos de falar e diz que se inspirou nos seus projetos para criar este seu “Eu Cá, Tu Lá”. De resto, nas peças daquele coletivo internacional explora-se o que diz respeito à linguagem e às formas de expressão.
É comum, por exemplo, usar nos seus espetáculos excertos de um relato de um crash da bolsa, de um discurso motivacional de um treinador de futebol ou de um político no momento em que informa o seu país sobre a invasão de outro país como aconteceu em 2003, quando os EUA invadiram o Iraque.
Colaboração de amigo caldense
Por norma, Nuno Lucas interpreta também as suas criações. “Pela primeira vez estou fora do palco, estou só a criar a encenar”, referiu o coreógrafo que convidou o seu amigo de longa data Aurélien Lino, também caldense, que é músico e compositor e que tanto dá cartas no jazz, como no música para cinema e publicidade.
O antigo diretor do Conservatório de Música das Caldas é o responsável pelo som deste espetáculo, onde até as vozes dos atores são apresentadas com modificações ao longo do espetáculo.
Segundo o músico, esta já é a terceira colaboração que une os dois amigos, tendo o anterior sido uma apresentação num festival internacional que teve lugar na Alemanha.
Para Nuno Lucas é sempre bom trabalhar com Aurélien Lino. “Como somos de áreas diferentes, ele confronta-me com a sua perspetiva e ajuda-me a construir projetos mais ricos”, disse o criador ligado à dança e ao teatro, enquanto que o compositor trabalha, sobretudo, nas áreas do cinema e também da publicidade.
“Ele acaba por ser exigente sobre a ideia de dramaturgia da história enquanto que eu estou mais ligado a formas híbridas e indefinidas e que convocam a subjetividade do espetador”, contou Nuno Lucas, que se movimenta na multidisciplinaridade dos mundos da performance, dança e do teatro.
“Eu Cá, Tu Lá” vai ser apresentado em Lisboa, Porto, Guimarães e estão em negociações outras apresentações em mais localidades.
Nuno Lucas está também em digressão com a peça “Farm Fatale” onde trabalha com o encenador francês Philippe Quesn e que vai ser apresentada pelos maiores palcos da Europa e EUA. Chegará em fevereiro de 2023 a Portugal e será apresentada no Porto. O caldense, licenciado em Economia, trocou definitivamente os números pelos palcos com projetos a solo ou integrado em coletivos internacionais. Além de criador e intérprete, Nuno Lucas também leciona performance em vários países.






























