Artista cria manifesto pela proteção das Zonas Húmidas

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Momento da performance no Festival Paragem, onde os autores Eunice Artur e Bruno Gonçalves leram o manifesto

A caldense Eunice Artur apresentou, num festival, no passado mês de setembro, um manifesto pela proteção de zonas como o Paul de Tornada

Eunice Artur é uma artista visual e de som e performer, natural das Caldas da Rainha, que tem participado em várias iniciativas internacionais. Viaja pelo mundo, dando a conhecer o seu trabalho e, em setembro último, apresentou um manifesto de proteção a Zonas Húmidas, como o Paul da Tornada, pois há várias no território continental e Açores que se encontram ameaçadas.
Em Portugal, as zonas húmidas são importantes locais de paragem para descanso e alimentação de muitas aves aquáticas. As associações ambientais têm alertado para a necessidade de uma estratégia de conservação destes locais ameaçados pela poluição da água, políticas erradas de ordenamento do território, incêndios florestais, proliferação de espécies exóticas, além da falta de planos de ordenamento nestes estuários.
A artista chamou ainda a atenção para o facto de se celebrar na próxima semana, o Dia das Zonas Húmidas, que se assinala a 2 de fevereiro e que pretende trazer uma consciência global acerca da importância das Zonas Húmidas para as pessoas e para o planeta.
“Cresci perto daquela zona e desde cedo esse contacto foi essencial para a necessidade de cuidar”, contou a artista, formada na ESAD.CR e na Universidade de Aveiro.
A caldense considera que o Paul, que não corre tanto perigo como outras Zonas Húmidas em Portugal, a leva a refletir sobre “a fragilidade e a importância de cuidar destas zonas e no significado de termos uma tão perto da cidade das Caldas”. Como tal, resolveu integrar essa preocupação no seu trabalho artístico de performance e criou “asprimeirascoisas”, em parceria com Bruno Gonçalves.
A obra foi apresentada no Festival Paragem de 2021, no passado mês de setembro, num momento em que a zona húmida das Alagoas Brancas em Lagoa, no Algarve, necessita “ser salvas da voragem urbanística que a ameaça”, explicou a autora.
Preocupada com a atitude do município de Lagoa, a artista plástica afirmou que se “continua a insistir na destruição desta zona húmida, ignorando o seu valor ecológico e permitindo a construção em zona inundável”. “É preciso parar este processo!”, frisa Eunice Artur, que conjugou, nessa iniciativa, a arte e o ativismo ecológico, além de um manifesto que foi lido durante a performance.
Na mensagem, os autores pediam: “venha a nós o verde, o bicho, o alagado e o ermo”, “deixemos viva a memória de um lugar que é memória de uma cidade. Nós só queremos poder contemplar a passagem dos ciclos e das estações neste lugar. (…) Que o mundo seja aquilo que sonhamos e não apenas o mundo possível…”.
À Gazeta das Caldas, Eunice Artur explicou que o manifesto artístico foi criado após o convite do Festival Paragem que acontece todos os anos na cidade de Lagoa e que a “alertou para a ameaça que tem estado a acontecer desde 2017”. A artista contou que a defesa e proteção das Alagoas Brancas até já chegou aos tribunais, havendo estudos feitos pela a Almargem – Associação de Defesa do Património Cultural e Ambiental do Algarve que asseguram a importância desta zona húmida. Segundo a artista plástica, o manifesto pode inclusivamente “ser adaptada para futuras apresentações em outros locais que estejam em perigo”.
Já em relação ao Paul da Tornada, a caldense sente uma ligação “mais emocional e pessoal”, pelo contacto que teve quando era mais jovem e que continua a ter quando o visita, “tal como a consciencialização para a importância da conservação da sua flora e da sua fauna”.
E como o Paul tem a sua classificação de Reserva Natural reconhecida “não corre o mesmo tipo de ameaça que as Alagoas Brancas no Algarve”. E diz que este tipo de intervenção serve para chamar a atenção sobre outras zonas húmidas que precisam de ser protegidas pois estão em risco e “não têm a mesma “sorte” que teve o Paul de Tornada”, disse a artista que até gostaria de apresentar este seu manifesto, não excluindo a hipótese “de ser pensado e adaptado”.

Arte nas montanhas dos Alpes
Atualmente a caldense está envolvida em vários projetos pessoais de criação artística. Um deles, designado “Les Sens de La Forêt”, envolve um conjunto de caminhadas sonoras em contexto de floresta primária e de montanha nos Alpes Suíços.
Para concretizar esta iniciativa, Eunice Artur está a trabalhar em co-autoria com uma guia de montanha, que é também suíça e conhece bem o terreno.
Aquele projeto artístico envolve investigação e aborda temas como “a tensão entre o humano e o não-humano, auditiva e visual, na área das mudanças climáticas, sons antrópicos e os efeitos subaquáticos/terrestres da globalização e da industrialização pesada”, referiu a autora, que, após a formação em Artes Plásticas na ESAD.CR, prosseguiu estudos de mestrado na área da Criação Artística Contemporânea na Universidade de Aveiro. Do seu trabalho artístico faz parte a fotografia, o vídeo, a escultura, a instalação, o som e, claro está, a performance. Trabalha regularmente com músicos em atuações que exploram a relação e a fusão das áreas do som e do desenho.
Os seus trabalhos, muitos deles que procuram unir arte, som e natureza, têm sido apresentados em Portugal, Espanha, França, Itália, Grécia, Reino Unido e Canadá. Neste último país, a caldense foi uma das duas portuguesas a participar na Bienal Internacional do Linho de Portneuf, no Canadá, em 2017. Eunice Artur apresentou uma exposição no Museu/Galeria de Arte em Deschambault, no Québec.

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