“Cronologia do cotidiano – De Óbidos para Óbidos” dá título à exposição que se encontra patente na galeria novaOgiva. A mostra é da autoria do artista brasileiro Francisco Klinger Carvalho, natural de Óbidos do Pará, que trabalhou com a comunidade obidense na construção da obra final.
Pelos três andares da galeria novaOgiva é feita a ligação entre Óbidos no Pará (Brasil) e a vila homónima em Portugal. No terceiro piso, onde tem início a exposição, encontra-se uma instalação que resultou do trabalho com as crianças dos jardins-de-infância do concelho em que estas criaram barcos que o artista depois dispôs como se tratasse de uma “procissão” pelo rio Amazonas.
De acordo com o autor, esta foi uma forma de se integrar em Óbidos. “Não queria apenas fazer uma exposição, mas ter contacto com a comunidade”, disse, acrescentando que ficou surpreendido com o interesse das crianças.
No mesmo piso está também um conjunto de desenhos de estruturas de barcos, que mostra a importância que este meio de transporte tem para o povo da Amazónia. Há ainda um vídeo, que mostra uma viagem que o artista fez pela Amazónia, de barco.
No andar do meio está um conjunto de trabalhos de 2011, como é o caso de várias imagens do Pará, às quais Francisco Klinger Carvalho associa o termo “Terra Incógnita”, também utilizado pelos portugueses quando chegaram à Amazónia. Às imagens foram também associados sons que vem coleccionando, desde 2008, para uma instalação que se chama “Amazónia Sinfonia de uma Lembrança”. “Esta é a primeira vez que utilizo o som junto com a fotografia numa intervenção”, disse à Gazeta das Caldas.
Outra relação entre as duas terras é um género de altar escultórico em que foi utilizado como base um armário cedido pela associação Novo Mundo, que o artista inter-relacionou com um muro de tijolos, encimado por um globo com as duas terras assinaladas e interligadas. “De Óbidos para Óbidos” é o título.
Contributo da comunidade
Há muito tempo que Francisco Klinger Carvalho tinha vontade de fazer uma intervenção com uma obra cerâmica Rafael de Bordalo Pinheiro. Esse desejo passou a realidade em Óbidos, onde utilizou uma jarra do artista e em cima colocou uma carapaça de tartaruga, réptil muito usado na alimentação do povo da Amazónia.
No rés-do-chão encontra-se uma instalação feita tendo por base objectos doados ou emprestados pelas pessoas de Óbidos, como cadeiras, cómodas, a porta de um armário, um candeeiro ou um violino. “A ideia inicial era que as pessoas chegassem com os objectos e me ajudassem a construir a obra”, contou o artista, que depois os “empacotou” com grades de madeira.
Natural de Óbidos (Pará), Francisco Klinger Carvalho nasceu em 1966 e viveu na cidade até aos 19 anos, altura em que foi para Belém, também no Pará. Depois viajou para a Alemanha, onde viveu em meia dúzia de cidades. Mais tarde regressou ao sul do Brasil (Portalegre), depois mudou-se para a Colômbia, novamente Alemanha e agora regressou ao Brasil e reside em São Paulo. “Esse processo da viagem sempre me atraiu pelo empacotamento, como se fosse uma história do viajante, que cria uma relação com o lugar”, explicou, sobre o trabalho que desenvolve.
Na inauguração, Ana Calçada, responsável pela rede de museus e galerias de Óbidos, destacou que este é o tipo de trabalho que querem desenvolver no concelho, de ligação com a comunidade. “Mais importante que o resultado final do artista a ideia é que o processo envolva as pessoas e as traga à galeria”, disse, acrescentando que as crianças já visitaram a mostra.
A inauguração contou com um momento musical interpretado pelo artista francês Olivier Boussi.
A mostra estará patente até 5 de Janeiro de 2015.
Fátima Ferreira
fferreira@gazetadascaldas.pt































