Perto de duas centenas de pessoas resistiram à chuva e ao vento que se fizeram sentir particularmente fortes no passado sábado e percorreram as ruas da cidade para a assistir à inauguração da Rota Bordaliana. A cerimónia decorreu dentro da estação de comboios por se tratar do local por onde o artista chegava às Caldas vindo de Lisboa, seguindo-se uma visita guiada às peças feita por Rafael Bordalo Pinheiro, muito bem interpretado pelo actor José Ramalho. Agora podem ser vistas por toda a cidade mais de 20 peças, algumas delas de grande dimensão que são o resultado de um investimento de 120 mil euros comparticipado em 85% por fundos comunitários.
Quando há três anos Jéssica Gonçalves apresentou a rota bordaliana como Prova de Aptidão Profissional na ETEO estava longe de imaginar que estaria presente na sua inauguração. “Superou as minhas expectativas porque a Câmara acrescentou as peças gigantes e vai ser muito bom, tanto para os visitantes como para a população caldense”, disse à Gazeta das Caldas a agora estudante de turismo no ensino superior que, daqui por uns tempos, “adorava” fazer visitas guiadas por este percurso.
A cerimónia começou na estação dos comboios caldense, onde Bordalo Pinheiro desembarcava quando chegava às Caldas da Rainha. O espaço foi pequeno para o público presente e, nem mesmo o comboio faltou à festa, chegando à estação quando discursava o presidente do Turismo do Centro, Pedro Machado. O responsável aproveitou a deixa para sugerir que a CP possa criar um bilhete especial para utilizadores que queiram vir às Caldas para fazer a rota bordaliana que, entende, tem um alcance internacional.
Pedro Machado destacou ainda que esta é uma manifestação de turismo cultural, mas com impactos económicos, permitindo criar valor e riqueza. “A comunidade tem que sentir que é uma mais-valia o investimento público que aqui foi feito e que se deve traduzir em valor acrescentado para os cafés, restaurantes e hotéis”, sustentou.
Também presente na cerimónia, o administrador da Visabeira, Lázaro Sousa, lembrou o percurso do projecto, desde a ideia inicial até à concretização das peças, e destacou o trabalho da equipa da Fábrica de Faianças Bordalo Pinheiro. “Foi necessário um estudo meticuloso das peças nas suas várias fases, obrigando a desenvolvimentos ao nível de novos materiais, pastas, vidros, cozeduras”, disse, acrescentando que só desta forma foi possível alcançar o detalhe e definição patente nas peças de grande dimensão.
O legado deixado por Bordalo Pinheiro está desde 2009 nas mãos da Visabeira que tem homenageado este artista, ceramista e caricaturista com novas colecções, parcerias com artistas contemporâneos e a internacionalização da marca, sobretudo nos mercados do Brasil, Estados Unidos e Ásia.
Aposta na água termal e na cerâmica
De acordo com o presidente da Câmara, Tinta Ferreira, a autarquia está a “retomar o seu rumo” apostando nos seus recursos endógenos, como é o caso da água termal e do barro, que deu origem à cerâmica. A rota agora inaugurada constitui-se como um “elemento de atractividade turística e está integrada num contexto de investimento em animação, divulgação do concelho, o que permitirá trazer muitas pessoas às Caldas para visitar e fazer compras”, disse o autarca. Contudo, e apesar das de maiores dimensões estarem protegidas por uma caixa de vidro inquebrável, há o risco das peças serem danificadas, pelo que Tinta Ferreira apelou à população e à PSP para estarem atentos e ajudarem a preservar este património.
O autarca destacou ainda o papel de Isabel Castanheira e de Elsa Rebelo na promoção de Bordalo Pinheiro nas Caldas e por todo o país, e deu a conhecer que os operadores turísticos têm mostrado interesse pela rota.
Finalizada a cerimónia solene, foi sob uma chuva intensa e muito vento, que dezenas de pessoas seguiram um corajoso e satírico Bordalo Pinheiro – interpretado por José Ramalho – pelas ruas da cidade e conhecendo as várias peças deste criador.
Depois de uma primeira paragem na fonte da rã, o caminho fez-se para pela Avenida da Independência Nacional onde, em cima do quiosque se encontra uma vespa de grandes dimensões. No Bairro Azul está o gato a caçar, uma peça que sensibilizou o Bordalo, que acredita que noutra vida terá sido um felino. Também o Parque D. Carlos I reservava emoções para o ceramista, que “lacrimejou” junto à peça da Maria Paciência, uma figura feita pelo filho, Manuel Gustavo e que homenageia as vendedoras da Praça da Fruta.
Já dentro do parque e pendurados nas árvores estão os macacos e, subindo ao mercado, pode-se encontrar uma folha de couve pendurada na fachada de um dos edifícios. Ao cimo da praça é possível encontrar a veia naturalista de Bordalo, com um grupo de cogumelos, tartarugas e caracóis. Um deles, apressado, já sobe o novo edifício do Espaço Turismo, onde também está o polícia civil e, noutra das suas paredes, um sardão.
O CCC acolhe a ama das Caldas, uma peça onde Bordalo mostra o apreço que tinha às mulheres da região que davam o seu leite para proveito dos filhos de famílias abastadas. Já na fachada da Rodoviária do Tejo está um bando de andorinhas, enquanto que no meio da rua “vive” o gato assanhado.
O padre encontra-se na Rua Hemiciclo João Paulo II (por trás da igreja) e em frente à Câmara está o Zé Povinho, a homenagem do artista ao povo e à sua capacidade de se inquietar.
Peças contemporâneas e histórias no centro histórico
Até ao final do ano serão colocadas na zona do centro histórico da cidade oito peças contemporâneas inspiradas nos animais de Bordalo Pinheiro. O projecto intitula-se Caldas District History e prevê a colocação de peças em metal nos largos do Termal, das Enfermeiras e João de Deus.
De acordo com o presidente da Câmara, Tinta Ferreira, estas peças serão acompanhadas por uma gravação onde os visitantes podem ouvir histórias antigas da cidade. “Permite ouvir contar a história das Caldas e contribuir para a sua identidade”, disse à Gazeta das Caldas.
Também até ao final do ano deverá ser inaugurado o Espaço Turismo, situado ao cimo da Praça da Fruta. A obra está praticamente concluída, faltando apenas colocar algum equipamento e fazer o concurso da hasta pública para o restaurante.
Texto e fotos: Fátima Ferreira
fferreira@gazetadascaldas.pt






























