Arqueólogos propõem criação de um Centro de Interpretação do Concelho das Caldas

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3visitaPracaA criação de um Centro de Interpretação e da Carta Arqueológica do concelho das Caldas são duas propostas dos arqueólogos que trabalham na autarquia. A Câmara vê “com bons olhos” as duas propostas e, segundo o vice-presidente da Câmara, Hugo Oliveira, o futuro centro contará com o apoio da Associação Património Histórico e ficará  em pleno coração da cidade, de modo a estar acessível aos visitantes. No que diz respeito à Carta Arqueológica, esta vai contar com o apoio do Instituto Politécnico de Tomar.

Os dois projectos foram referidos na sessão dedicada ao Dia dos Monumentos e Sítios que decorreu a 18 de Abril, na sede da União de Freguesias de Nª Srª do Pópulo, Coto e São Gregório e se centrou na Praça da Fruta, tendo sido feita uma visita ao próprio tabuleiro. A conferência contou com as contribuições de Carlos Querido, autor do livro “Praça da Fruta” e colaborador da Gazeta das Caldas, da investigadora Cristina Horta e do arqueólogo Ricardo Lopes, que acompanhou as obras de Regeneração Urbana na cidade. Este último recordou que o que foi encontrado durante as obras da Praça foram vestígios osteológicos (ossos), moedas e algumas cerâmicas. Alguns já foram tratados e outros a ser classificados. “Agora estamos em fase de divulgar o que foi encontrado”, disse Ricardo Lopes à Gazeta das Caldas, tendo referido que se farão mais conferências com técnicos da Direcção Geral do Património Cultural sobre o património encontrado.
Para a história da Praça da Fruta, muito tem contribuído Carlos Querido.
O investigador conduziu os presentes por uma viagem com início no ano de 1482, quando a rainha D. Leonor tomou posse do senhorio de Óbidos, que lhe foi concedido por compromisso nupcial celebrado no ano de 1473.
Segundo o orador, em 1484 a rainha “terá tido o primeiro contacto com o velho balneário termal que então existia na localidade”. Um ano depois eram iniciadas as obras de construção do Hospital, terminadas em 1496. A vila das Caldas “nasce com o Hospital”, ficando o seu termo definido por carta régia de D. Manuel I, no ano de 1511, “e expande-se sobre as pequenas colinas que envolvem o local da sua construção: para sul, actual Largo João de Deus; e para norte, até ao Rossio, espaço baldio e periférico, onde nos séculos que se seguem baterá o coração da vila e da cidade”.

Pelourinho e Igreja no tabuleiro

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Na sua alocução, Carlos Querido referiu que o pelourinho da vila foi levantado no ano de 1533. A iniciativa foi da câmara, mas o pagamento ficou por conta do Hospital, porque a edilidade não tinha dinheiro. Custou 6$000 réis, tendo sido implantado no Largo da Praça Velha, frente ao Hospital, e mais tarde transferido para a Praça do Rossio, onde já se encontrava no ano de 1749, quando ali foi construído o edifício dos Paços do Concelho.
Segundo o investigador, na Praça do Rossio, para além do pelourinho, existiu a Igreja de Nossa Senhora do Rosário, inaugurada em 1591 e remodelada em 1750.
A demolição do Pelourinho e da Igreja de Nossa Senhora do Rosário ocorre em 1834 e em 1835, quando foram realizadas obras de remodelação da Praça, que teve vários nomes: inicialmente era designada por Praça do Rossio, Praça do Pelourinho e Praça Nova (em oposição à Praça Velha, frente ao Hospital); em 1886, por proposta de José Salles Henriques, passou a ser Praça D. Maria Pia; em sessão da Comissão Municipal Republicana Provisória, em Outubro de 1910 (por proposta de Custódio Maldonado Freitas), passou a chamar-se Praça da República; para os caldenses será sempre a Praça da Fruta.
Finalmente, referiu o autor do romance Praça da Fruta, que na era da ditadura das grandes superfícies comerciais não é fácil encontrar um espaço de afirmação da Praça como centro de comércio, e que talvez a salvação deste espaço passe por uma certificação dos seus produtos, que lhe restitua a genuinidade, concluindo: “mantê-la viva é uma pesada responsabilidade de todos nós, os que a herdámos”.
Na sua intervenção, a investigadora Cristina Horta, ex-directora do Museu de Cerâmica, fez uma descrição dos azulejos das Caldas que se encontram e que podem ser apreciados nas igrejas de Nossa Senhora do Pópulo, S. Sebastião e S. Jacinto.
A oradora deu a conhecer também os azulejos já destacados do seu local de origem, como os que revestiram o Hospital Termal, desde o século XVI ao XVIII, assim como os painéis de azulejos do século XVIII, que teriam revestido, tanto o Hospital como a Igreja de Nossa Senhora do Rosário situada no local da Praça da República. A convidada mostrou vários exemplos de azulejos que há 20 anos foram encontrados e nos quais Cristina Horta trabalhou na possível reconstituição dos painéis. Este trabalho foi exposto na Exposição dos Azulejos do Hospital Termal, no Museu de José Malhoa. O estudo fez parte da sua tese de mestrado e agora, por causa dos achados resultantes das escavações realizadas na Praça da República, a investigadora prevê que estes podem originar novos estudos que tragam “novas e interessantes” conclusões.

 

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