
A conservadora Arlinda Ribeiro está a trabalhar no acervo do Museu Leopoldo de Almeida desde Setembro. Ao todo já foram tratadas 230 peças – em barro, gesso e bronze – daquela colecção, que vão dar vida ao novo edifício, o quinto espaço museológico do Centro de Artes, que será inaugurado a 15 de Maio.
A obidense dedica-se à conservação e ao restauro, mas também à produção de concertos de música do mundo.
É na cave do museu Barata Feyo que Gazeta das Caldas encontrou Arlinda Ribeiro de pincel em punho. A restauradora está a tratar de todas as maquetas das obras de Leopoldo de Almeida que fazem parte do acervo do novo museu, que abre portas ao público no próximo 15 de Maio, no Centro de Artes.
“As Caldas vai ficar com um espólio importante da época do Estado Novo”, comentou a técnica, que conversa sem parar o seu trabalho, limpando, pincelando e reparando as peças. “Na sua maioria são maquetas da obra pública do escultor”, disse a restauradora, de 52 anos, que está a trabalhar na colecção desde Setembro passado. A cada uma das peças do futuro museu é feita a limpeza e a sua manutenção. “Optámos por fazer reconstruções muito minimalistas”, disse, acrescentando que não há nada que seja repintado, apostando apenas nalguns retoques que respeitam a integridade física das obras. Para alguns trabalhos mais complexos de restauro, a técnica tem contado com a colaboração do escultor alcobacense José Aurélio, que foi aluno de Leopoldo de Almeida. Este, contactado pela Gazeta das Caldas, mostrou-se muito satisfeito por estar a colaborar neste trabalho que lhe permite “pôr-se à prova” dado que auxiliou a sua amiga Arlinda na recuperação de modelos em barro e em gesso. Um dia espera que haja também alguém que possa restaurar as suas peças, como fez às do seu professor, apesar deste ter vivido numa época política diametralmente oposta aos ideais políticos do alcobacense.
José Aurélio diz que regressará ao novo museu caldense, mais perto da inauguração, para auxiliar a restauradora nos últimos detalhes, dado que “os grandes problemas estão resolvidos”.
“Não se pode apagar a História…”
Arlinda Ribeiro conta que “neste momento estou a tratar de D. Fernando e ontem estive de volta do monumento de agradecimento das mulheres de Portugal a Salazar…”. E acrescenta: “não é fácil lidar com isto…!”. É que esta colecção reflecte uma época histórica bem demarcada e politicamente muito diferente da actual com a qual a restauradora não se identificava de forma alguma.
“A colecção é importante pois permite perceber como se chegou aqui”, disse.
“Não podemos apagar os períodos da História e é bom que se perceba porque é que as coisas foram fabricadas com esta glória toda”, afirmou a conservadora que também chamou a atenção para o facto de haver bastantes esculturas de homens e poucas de senhoras. ”Só me estou a lembrar de duas rainhas”, referiu.
Algumas das obras de Leopoldo de Almeida eram maquetas para mostrar aos clientes enquanto que outras estavam prontas para partir para a fundição ou passar para a pedra.
Entre as mais interessantes estão “alguns esbocetos em barro, que são muito frágeis e que só lhes vou mexer na altura em que as vitrines estiverem prontas”, referiu Arlinda Ribeiro.
“Está horrível, mas vai ficar bom!”
A autora nasceu nas Caldas, mas vive em Óbidos e em Monsaraz. Frequentou as escolas caldenses, incluindo quando a actual Escola Secundária Raul Proença (antigo liceu) ainda funcionava nos Pavilhões do Parque. Apesar de ter ido estrear o novo edifício, jamais esquecerá o verde do Parque e os lanches na pastelaria Machado, impossíveis de replicar na nova zona da cidade.
Hoje acha que as Caldas é uma localidade bem diferente daquela que deixou quando foi durante seis anos estudar Conservação e Restauro em Inglaterra. Passou por vários museus de Londres e de Liverpool e esteve no Castelo de Windsor a fazer um trabalho de recuperação num espólio que foi danificado por um incêndio em 1995.
Os conservadores têm, segundo Arlinda Ribeiro, uma perspectiva de “cura” perante as peças que precisam de restauro. “Está horrível, mas vai ficar bom!”, referiu a restauradora que também trabalhou vários anos naquela que considera a sua terra natal, Óbidos.
Entre o Alentejo, o Oeste e o mundo
Nos últimos 20 anos Arlinda Ribeiro está ligada a Monsaraz onde vive e trabalha o seu marido, que é artista plástico. Diz que aquela terra é a mais parecida com Óbidos que há no Alentejo.
Entre os vários trabalhos de restauro que fez em Portugal, salientou a restauração da charola (oratório privativo dos Cavaleiros) do Convento de Cristo, trabalho feito entre 2007 e 2012.
Para além da conservação e restauro, Arlinda Ribeiro é produtora musical de grupos de música do mundo, o que a leva a viajar por todo o planeta. Neste momento está em digressão com o grupo as Amazonas de África, tendo concertos agendados na Martinica, Finlândia, Polónia, Suécia Suíça, França e Ilha da Reunião. “Volto a tempo para terminar a colecção e para abrir o museu”, disse a conservadora.
Antes das músicas do mundo, agenciava concertos de música barroca.
Voltando ao restauro, a empreitada do futuro Museu Leopoldo de Almeida, é o primeiro trabalho de restauro que Arlinda Ribeiro faz nas Caldas da Rainha. A conservadora está preocupada com o futuro da sua actividade, dado que tem visto que as empresas de construção civil têm “engolido” esta profissão que deveriam ser desempenhada por técnicos de restauro. O resultado final é desastroso, diz.
Por isso, espera que esta (má) prática corrente não aconteça nas Caldas em espaços como, por exemplo, os Pavilhões do Parque.
Arlinda Ribeiro, além de trabalhar para as entidades públicas também dá atenção à cultura independente. Sempre que pode, dá um pulo ao Museu Bernardo, entidade alternativa que se dedica à arte contemporânea e da qual também faz parte.


Um museu para grandes esculturas
O programa do museu Leopoldo de Almeida está a ser implementado e neste momento decorre a colocação das obras no espaço expositivo. Além das esculturas de pequena e média dimensão, já chegaram às Caldas peças de maior porte (entre os dois e os quatro metros) que foram cedidas por empréstimo do Museu de Lisboa. Segundo José Antunes, director do Centro de Artes, o novo museu terá também uma área dedicada ao desenho de Leopoldo de Almeida. Expostos vão estar cerca de uma centena dos 800 desenhos que integram a colecção. “Vamos procurar, através de uma componente tecnológica e interactiva, apresentar o que ficar em reserva”, afirmou o responsável. Do novo museu farão parte esculturas de Leopoldo de Almeida desde os anos 20 até aos anos 70 do século XX. N.N.






























