A Fortaleza de Peniche reabriu ao público durante o passado fim de semana para celebrar a primeira fase do que será o Museu da Resistência e da Liberdade com a inauguração de um memorial que presta homenagem aos 2510 presos políticos que passaram por Peniche. Abriu também uma exposição que é o embrião do que será o futuro espaço museológico, que deverá inaugurar em finais de 2020 e que representa um investimento de 3,5 milhões de euros.
É impactante o memorial de homenagem aos presos políticos erguido na zona de entrada da Fortaleza. Estão ali gravados em metal os nomes de 2510 homens, opositores ao regime fascista que foram encarcerados naquela prisão política, entre 1934 e 1974. Poderão no futuro ser acrescentados mais nomes, consoante avança a investigação em curso sobre os presos políticos que ali estiveram. Esta obra integra o novo Museu da Liberdade e Resistência que deverá estar pronto em finais de 2020.
No passado dia 24 de Abril foi feita uma visita guiada à imprensa à exposição Por Teu Livre Pensamento, um embrião do que será o conteúdo do futuro museu, é comissariada pela Direcção Geral do Património Cultural e documenta momentos marcantes da história contemporânea do país a partir da memória do lugar – a prisão de Peniche. A visita contou com a presença da ministra da Cultura, Graça Fonseca, da directora-geral do Património Cultural, Paula Araújo da Silva, dos historiadores João Serra e Fernando Rosas e ainda do conselheiro de Estado, Domingos Abrantes. Os dois últimos são antigos presos e membros da Comissão de Instalação dos Conteúdos e da Apresentação Museológica (CICAM) e do Comité Executivo do Museu de Peniche (CEMP). A mostra foi oficialmente aberta ao público a 25 de Abril, data também da inauguração do memorial em homenagem aos presos políticos, numa sessão que contou com a presença do primeiro ministro, António Costa.
De Por Teu Livre Pensamento (primeiro verso de um fado, escrito por David Mourão Ferreira, musicado por Alain Oulman e cantado por Amália Rodrigues) fazem parte imagens, textos e objectos que documentam a repressão e violação dos direitos humanos pela ditadura militar e o Estado Novo, a Guerra Colonial, a resistência ao fascismo, a Revolução e o regime democrático.
A mostra encontra-se dividida em quatro núcleos: mostra documental, Parlatório, Capela de Sta. Bárbara e Fortim Redondo. O primeiro núcleo onde se encontra um resumo do que vai ser o museu está patente no antigo refeitório da GNR onde podem ser apreciados cartazes, jornais, fotografias icónicas, desenhos de Álvaro Cunhal, transcrições de conversas telefónicas entre Mário Soares e Maria Barroso e vários objectos que pertenceram aos presos políticos. No Parlatório podem ser visionados em vídeo testemunhos dos familiares que iam visitar os presos políticos. No Fortim Redondo, onde os presos eram submetidos aos castigos mais violentos, há um terceiro núcleo com painéis informativos que documentam as célebres fugas da fortaleza, entre elas as de Álvaro Cunhal e de Dias Lourenço, dois históricos do PCP.
Por sua vez a Capela de Sta. Bárbara acolhe o quarto núcleo, apresentado pelo investigador caldense João Serra, e que integra a história da fortaleza e a sua importância, desde que foi construída no século XVI. Começou por ter como função a defesa da costa, depois foi albergue e depósito de refugiados e, desde 1934, prisão política do Estado Novo.
Uma foto de casamento sem o noivo
Domingos Abrantes, ex-preso político e actual conselheiro de Estado, mostrou à comitiva a única fotografia que existe do seu casamento, onde ele não consta. E isto porque o regime não reconhecia as uniões de facto e para poderem receber as visitas das suas companheiras, vários presos casaram enquanto estavam no cárcere.
Domingos Abrantes esteve preso na fortaleza de Peniche entre 1965 e 1973. Era membro do comité central do PCP e já tinha fugido da prisão de Caxias até ter sido preso de novo, em Peniche. Foi em Outubro de 1969 que oficializou a relação numa sala da fortaleza onde se realizavam os casamentos. Estes eram “meros actos formais, sob forte vigilância e sem direito a cerimónias, fotos ou refeições em comum”, explica o catálogo do museu. A mulher de Domingos Abrantes e alguns familiares e alguns amigos quiseram assinalar o momento, tendo tirado uma fotografia já no exterior da prisão.
“Não podemos e não queremos esquecer”
“Todas as homenagens são importantes, mas tardava esta aos presos políticos”, disse a ministra da Cultura, Graça Fonseca, aos jornalistas no final da visita à exposição “que será um embrião do que será o futuro Museu”.
Para a governante, este museu irá guardar “este pedaço da nossa história que nós não podemos e não queremos esquecer”. Servirá também para que o que aconteceu na Fortaleza de Peniche “não se repita no futuro”.
A ministra explicou que as obras do futuro museu deverão estar concluídas em finais de 2020 e o seu director será escolhido através de um concurso internacional. O museu deverá ter cerca de 40 funcionários.

































