
Em “Comendo Ambientes”, o mais recente livro de António Eloy, lançado no final de Novembro em Lisboa e no Porto, a comida é o ingrediente principal. Ao longo de 70 páginas, o ambientalista leva o leitor numa viagem pelos mais variados sabores do mundo: da feijoada brasileira à “pasta” italiana, passando pelo ritualismo da refeição chinesa, pelo borsch típico da Rússia, pela cachupa de Cabo Verde, as especiarias da Índia, o sushi do Japão e a moamba angolana.
Embora aborde a temática da comida, “Comendo Ambientes” não é um livro de receitas. Estas surgem apenas no último capítulo, dedicado ao património gastronómico de Barrancos (Alentejo). Sopa de peixe da ribeira, migas à barranquenha e carne de toiro com tomate são alguns dos pratos mencionados por António Eloy, que em 2001 escreveu “Barrancos, Resiste!”.
O livro, editado pela Esfera do Caos, e com prefácio de Serafim Riem, explora sobretudo as relações que se estabelecem através da comida. É possível conhecer a origem de certos alimentos e como é que pratos específicos de determinados países se associam às suas tradições, à sua História, às suas crenças e identidades. “É em torno dos alimentos que podemos descobrir uma sociedade e o que ela tem para oferecer. Os alimentos são um espelho da paisagem, ligam-nos à História, são o resultado da construção que gerações fizeram sobre o tempo, a organização social e os sentidos”, refere o autor logo nas primeiras páginas.
Este é também um ensaio “contra o fanatismo alimentar, que tenta contrariar as imposições das grandes indústrias, como a Nestlé ou a Coca-Cola, mas também os fundamentalistas que dizem que só devemos comer soja”, acrescenta Eloy. A própria capa do livro reflete esta ideia, pois é baseada no quadro “Um leão que devora a sua rapina”, de Rousseau, que transmite a mensagem que na natureza as espécies comem-se umas às outras, adaptando-se naturalmente àquilo que o habitat lhes oferece.
Em “Comendo Ambientes”, António Eloy diz-se defensor da alimentação regional, não só porque esta implica menos custos ambientais, mas também porque os produtos locais contribuem para a suficiência e economia das regiões. Assumindo-se como um “bom garfo”, o autor revela que faz questão de provar as iguarias típicas de todos os países e localidades que visita. “Se vou a Inglaterra, não quero comer cozido à portuguesa. A comida diz-nos muito sobre o país em questão e é uma forma de nos relacionarmos com o seu ambiente”, realça. Da sua “lista negra” de alimentos, António Eloy dá o exemplo do nabo e da banana como dois ingredientes que não aprecia.
“Comendo Ambientes” relaciona-se também com “Paisagens de Portugal”, livro lançado terça-feira em Lisboa, em que os autores António Eloy e Nuno Farinha percorrem todos os distritos de Portugal em busca daquilo que lhes é típico e único.






























