Alunos das Belas Artes em workshop no Cencal

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Está a decorrer no Cencal um workshop com estudantes da Faculdade de Belas Artes da Universidade de Lisboa, repetindo-se uma iniciativa já lançada no ano passado.
Os alunos dos cursos de Escultura e de Design estão a aprender várias técnicas relacionadas com a modelação em faiança tirando partido do conhecimentos dos técnicos especializados daquele centro de formação. Dizem que nas Caldas encontram as condições técnicas e de equipamento que não têm na sua escola. Há estudantes desta Faculdade lisboeta que irão participar em iniciativas da próxima Festa da Cerâmica, coordenados pela escultora e docente Virgínia Fróis.

notícias das Caldas
Os alunos da Faculdade de Belas Artes estão a desenvolver aspectos práticos da cerâmica no centro de formação caldense

Acompanhados pela escultora Virgínia Fróis, 13 alunos de Belas Artes estão a trabalhar no Centro de Formação Profissional das Caldas da Rainha conteúdos relacionados com a modelação e execução de peças em faiança.
É no âmbito da cadeira de Laboratório de Cerâmica que estão a realizar este workshop. “A Faculdade não tem equipamentos nem materiais para responder às exigências tecnológicas ligadas à faiança”, disse a escultora e docente  que tem desenvolvido com os seus alunos as mais variadas propostas relacionando com a cerâmica caldense desde uma intervenção na toponímia (“Nomes”) à própria Praça da Fruta (“Mercado da Fruta”).
“De uma maneira geral os alunos conhecem mal a obra de Rafael Bordalo Pinheiro”, disse  a docente que acha que a cerâmica poderia desempenhar um papel mais importante no ensino da história da arte contemporânea.
O workshop nas Caldas decorrerá em três fases. Os estudantes trouxeram os protótipos de Lisboa e, numa primeira fase, com o formador António Anunciação, fizeram os moldes. Nas fases seguintes vão produzir as suas próprias peças e aprender as técnicas de vidrados.
A Faculdade de Belas Artes tem um protocolo com o Cencal e, por isso,  o centro de formação proporciona preços acessíveis para a realização do workshop nas Caldas, assegurando os custos das deslocações e do alojamento dos alunos.
“Temos interesse em continuar com estes projectos de parceria até porque aqui podemos ficar em residência fechada  e conseguimos ter melhores resultados no trabalho”, disse a escultora, que foi acompanhada pela também pela docente Ana Vasconcelos.
Segundo Virgínia Fróis, há já um grupo de alunos que está a trabalhar num projecto para participar na próxima Festa da Cerâmica, que se vai realizar este ano. “Partimos da ideia de Bordalo e a atitude critica em relação à sua época”, contou a responsável acrescentando que esse mote será o ponto de partida para se pensar sobre “o que hoje está sobre a mesa, quais são as preocupações dos tempos de hoje”.
Isto é, para a docente e escultora, a próxima Festa da Cerâmica será um lugar “para reflectir sobre Bordalo, sobre a crise e como se pode conjugar arte e técnica”.
Para esta escultora, responsável também por realizações relacionadas com a animação cultural e a intervenção em cerâmica num espaço cultural em Montemor-o-Novo, “era  bom que as Caldas tivesse uma resposta para a cerâmica como tem para a escultura em pedra”. Na sua opinião, este tipo de simpósios como o da Festa da Cerâmica, deve ser sempre
momentos de formação e de partilha entre artistas e também estudantes.
“Caldas tem condições excepcionais para fazer isto pois há muito conhecimento. Só falta é a  vontade”, disse a docente para quem é preciso reunir a vontade de entidades como o  Cencal, a Câmara, a ESAD, as  Belas Artes e administração da Bordallo Pinheiro e outras empresas. Todos em  conjunto têm condições para fazer uma realização verdadeira que valorize a cerâmica, como se faz noutros países.

Investigadora brasileira conhece cerâmica portuguesa através das Rotas

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Muito surpreendida com a cerâmica portuguesa está Lalada Dauglish, docente de escultura e de cerâmica na Universidade Estadual Paulista. A investigadora, que está a fazer o seu pós-doutoramento no nosso país, está a efectuar uma viagem de norte a sua de Portugal para tomar conhecimento da nossa realidade , através da Rotas da Cerâmica que foram lançadas na nossa cidade no início da década passada.
Quer pois estudar a cerâmica popular portuguesa com o objectivo de conhecer  as influências portuguesas na cerâmica brasileira. Esta docente formou-se na Universidade de Berkeley (Califórnia – EUA) onde fez o mestrado e o doutoramento e quis “resgatar” a cerâmica para o ensino superior.
Tornou-se especialista Cerâmica Popular da América Latina, sobretudo da do Vale do Jequitinhonha e tem um estudo realizado sobre o trabalho feminino daquela zona, tendo já publicado o livro “Noivas da Seca”, as mulheres que criam figurado que tem similitudes com que se faz “em Barcelos e em Estremoz”. Aquela produção especial, feita na região de Minas Gerais (Brasil) irá marca presença na Festa da Cerâmica de 2013.
Lalada Dauglish também se deixou encantar pelas Caldas e a sua cerâmica, em especial, pela produção bordaliana. Em 2012 comemora-se Portugal no Brasil e “eu gostava muito de levar uma exposição de Bordalo Pinheiro”, disse a docente que ficou surpreendida pelas obras daquele artista existentes no museu da Fábrica e no Museu da Cerâmica.
Habituada às grandes distâncias do seu país acha piada que se possa percorrer Portugal num só dia o que lhe permite percorrer rapidamente as terras lusas em busca da sua cerâmica popular.
O seu estudo ainda quer ir mais além pois, em parceria com Virgínia Frois  pretendem conhecer as influências que percorreram a cerâmica do Brasil, de alguns países africanos e de Portugal.
A investigadora, impressionada com a obra bordaliana considera que a cidade poderia apostar forte na cerâmica já que hoje um turista aprecia “história e tradição” e “há um mercado para o turismo da cerâmica”. Todos os anos Lalada Dauglish faz viagens com os seus alunos sob o pano de fundo da cerâmica e acha que a cidade termal tem todas as condições para ser um ponto interessante de visita para os ceramistas de todo o mundo.  “Em vez de procurar coisas novas para começar do zero, porque não aproveitar a cultura cerâmica que já têm?”, questiona esta especialista que, em 2013, trará uma mostra da cerâmica popular brasileira que conhece bem e que é produzida pelas artesãs do Vale do Jequitinhonha, em Minas Gerais.

Natacha Narciso
nnarciso@gazetadascaldas.pt

Inês Velez, 22 anos
notícias das Caldas“Com este workshop estamos a complementar o nosso trabalho da cadeira de cerâmica. Sei algo sobre moldes de gesso e aqui no Cencal há óptimas condições de trabalho. Na faculdade não temos tão bons equipamentos nem ferramentas.
Já conhecia a cerâmica das Caldas e considero que é uma escola.
Gostaria de trabalhar em cerâmica pois acho que é uma tecnologia em que me veria a trabalhar como escultora”.

Julianna Franciney, 22 anos
notícias das Caldas“Estou a adorar esta experiência. O  Sr. António sabe tanto desta área e  tem-nos dado uma grande ajuda nos nossos trabalhos. Na Escola António Arroio já tinha lidado com moldes de gesso e vim agora recordar como se trabalha esta tecnologia. Desde a secundária que trabalho com cerâmica e gostaria de continuar actividades de formação aqui no Cencal. É preciso que este centro mexa mais, convidando mais jovens para se formarem aqui”.

Luís Magro, 29 anos
notícias das Caldas“Está a ser uma óptima experiência pois temos aqui uma oportunidade de trabalho que não temos na faculdade. Lá temos poucos técnicos e equipamentos relacionados com a cerâmica. O Sr. António tem muitos conhecimentos, o que tem sido muito enriquecedor para nós.
Aqui encontramos a oficina prática que não temos em Lisboa. Acho que gostaria de continuar a complementar a aprendizagem aqui no Cencal”.

N.N.

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