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Os Alter Egos de Bordallo são Inês Fouto e Mariana Calaça Baptista, duas amigas que criaram um projecto onde é possível reviver o Parque D. Carlos do século XIX e conhecer Bordalo Pinheiro através de uma visita guiada que alia a História e o património ao teatro.
O grupo, que arrancou graças a uma campanha de crowdfunding, organizou o primeiro roteiro no mês passado. Gazeta das Caldas assistiu à segunda edição, realizada no dia 27 de Novembro, e conta-lhe como foi.
O ponto de encontro está marcado para as 11h00 no coreto do parque. Juntam-se cerca de 20 pessoas. Metade veio de Lisboa para assistir a este roteiro turístico que está muito próximo de também ser um espectáculo. O encontro com a primeira personagem acontece no telheiro (entre o lago e a antiga Parada). A caldense Inês Fouto (fundadora do Teatro Cenas) veste a pele do Gato Pires, um “senhor gato” que era o preferido de Bordalo e fala entusiasticamente sobre o seu dono. Esta é a primeira de três performances que irão decorrer ao longo da manhã.
Mais tarde, no Céu de Vidro, conheceremos a Marquesa (Miss Stela), uma amiga íntima de Bordalo que o trata por Rafael Augusto e recorda a história por detrás de uma fotografia que este lhe enviou por correio, juntamente com uma andorinha de loiça. A Marquesa não se lembra da data da fotografia, apenas que foi tirada numa noite de Verão no Parque e que nesse baile convidou Bordalo Pinheiro para uma valsa. Era ele um homem casado e com muito pouco talento para a dança, revela.
A bisneta da Maria dos Pontos nos is
A performance que encerra a tour decorre no Posto de Turismo. Os visitantes pensam que irão conhecer a Maria dos Pontos nos is, mas deparam-se com a sua bisneta, Maria Rita. Esta também é contestatária, como a bisavó, mas pertence a outra geração, à que nasceu depois do 25 de Abril, num país cheio de esperança em que o futuro parece que vem embrulhado e se pode comprar com um cartão de crédito. À geração “que tirou um curso para ser alguém, mas acabou por ser ninguém”, como é o caso de Maria Rita, que é artista e vive precariamente.
Esta última personagem, irónica e sarcástica, faz um retrato da sociedade actual, à semelhança do que fazia Bordalo Pinheiro na sua época.
Entre as performances, Mariana Baptista, formada em arquitectura e património e com experiência em turismo, guia os turistas pelo Parque, passando pelo coreto, Pavilhões, Museu José Malhoa, levando-os à figura da Saloia da Rota Bordaliana, aos azulejos de Bordalo, à cerâmica das Caldas e à Praça da Fruta. O Hospital Termal e a sua ligação a Rodrigo Berquó, o ambiente do Parque no século XIX (altura em que aqui trabalhavam 2000 pessoas) e o seu conceito de jardim romântico, assim como a fábrica de faianças, foram outros temas abordados por Mariana Baptista.
Alter Egos de Bordallo surgiu de uma conversa entre duas amigas, Inês Fouto e Mariana Baptista, que resolveram juntar num só projecto as suas áreas de conhecimento, ligando o teatro à história, ao património e ao turismo. Desenvolvido na ESAD, o roteiro conseguiu sair para a rua graças a uma campanha de crowdfunding que amealhou cerca de 600 euros.
Os textos das peças foram escritos por Cristina Nobre Soares, Ana Félix e Jorge Vitorino e baseiam-se em testemunhos de Isabel Castanheira, livreira e estudiosa da vida de Bordalo.
Após duas edições, Alter Egos de Bordallo pretende organizar a terceira tour no início do próximo ano e conquistar público que torne o projecto sustentável (cada pessoa paga 15 euros para participar na experiência). Inês Fouto e Mariana Baptista deixam o convite não só a quem é de fora, mas também aos caldenses, que “têm assim oportunidade de melhor conhecer as suas raízes de forma original”.
O roteiro tem apenas a duração de duas horas (das 11h00 às 13h00), mas as autoras salientam que contribui para a economia local, pois a maioria dos turistas opta por almoçar nas Caldas nesse dia e espreitar o comércio tradicional.
