Como ajudar os franceses a não lerem apenas José Rodrigues dos Santos?

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Valério Romão, Carlos Cipriano (que moderou o debate) e Jean Pierre Hougas - Carlos Cipriano

Os franceses residentes em Portugal não conhecem muito da literatura portuguesa para além dos nomes mais sonantes como Saramago, Lobo Antunes, Camilo, Eça de Queirós. Que não são fáceis de ler, mesmo quando traduzidos. Por isso, entre a comunidade residente na região “o José Rodrigues dos Santos é dos mais lidos porque é fácil de ler”, diz Jean Pierre Hougas, representante da UFE (União dos Franceses no Estrangeiro).
A revelação foi feita durante o debate “Et alors?” (E então?) que teve lugar no Museu José Malhoa no dia 14 de Abril e que contou também com a presença de Valério Romão. Nascido em França em 1974, o escritor tem regressado frequentemente àquele país, dado o êxito dos seus livros, traduzidos em francês, que o têm levado a participar em lançamentos e debates com o público.

Valério Romão disse que uma imagem ou um filme viajam mais depressa e têm maior visibilidade do que a literatura pois esta precisa de um veículo intermédio – um tradutor – para se tornar acessível noutros países. No caso da literatura francesa, esta tem vindo a sofrer com a “cada vez maior expressão avassaladora do inglês no mundo” ao ponto de hoje “ser mais fácil encontrar um escritor inglês ou americano menor numa livraria francesa do que um autor português maior”.
A preponderância da língua de Shakespeare é tal que hoje só 5% dos livros publicados em Inglaterra resultam de traduções de outras línguas para o inglês. Ou seja, o mercado anglo-saxónico é auto-suficiente. E no meio de tudo isto, a presença da literatura portuguesa, seja em França ou noutra parte do mundo, é diminuta.
É certo que o Nobel atribuído a Saramago pôs a literatura portuguesa no mapa, mas só durante algum tempo.
O escritor duvida que no futuro, mesmo recorrendo à inteligência artificial, seja possível haver tradução automática dos livros para várias línguas – o que tornaria o mercado dos livros verdadeiramente global, mas também absolutamente vertiginoso – porque há nuances, expressões idiomáticas e particularidades das línguas que têm de passar por um tradutor humano.
E não só o tradutor é importante, como também a figura do livreiro, a pessoa que serve de mediador entre os livros e os leitores, aquele que pode aconselhar os clientes das livrarias.
E voltamos à questão da comunidade francesa que vive em Portugal. Necessitam de quem os ajude a escolher os livros para que não leiam só o mais fácil nem o mais óbvio.
Jean Pierre Hougas deu pistas. Diz que os franceses gostam de livros históricos e que, nesse aspecto, Portugal, com os seus 800 anos de História, tem muitas histórias para contar e bastante literatura sobre o tema. E disse também que estes apreciam o património e gostam de saber sobre os castelos, os mosteiros, as igrejas e outros monumentos.
Ele próprio admitiu que foi uma surpresa a descoberta da cultura e da vida cultural portuguesa e que ficou agradavelmente surpreendido por uma cidade de 40 mil habitantes como Caldas da Rainha ter dez museus. “Em França há cidades de um milhão de habitantes que não têm tantos museus”, disse.
O representante da UFE também referiu que existe a intenção de a França vir a fazer parte da CPLP (Comunidades dos Países de Língua Portuguesa) e que Portugal poderá integrar a Francofonia. Se isso se concretizar, disse, será uma boa oportunidade para que lusófonos e francófonos conheçam mais das suas literaturas. E não leiam só José Rodrigues dos Santos.

João Soares e as Caldas da Rainha

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A propósito do lançamento da Sebenta do Diabo, um livro com desenhos que remetem para as lendas e mitos da região, da autoria de Bruno Santos, o autor esteve à conversa com João Soares no Museu Malhoa.
Num ambiente de grande informalidade, o jovem autor falou do seu livro e das suas histórias, e João Soares pegava nos locais e falava das suas recordações enquanto criança e jovem que passava “longas férias de três meses de Verão” na Foz do Arelho e nas Caldas da Rainha, e dos contactos com os Maldonado Freitas “expoente de família republicana e de combate à ditadura”.
O deputado pelo PS e ex-ministro da Cultura do actual governo (de onde saiu por causa de um comentário no Facebook), falou sobretudo da Foz do Arelho, dos naufrágios que fazem parte da mitologia daquela costa, do mar bravo onde aprendeu a nadar (“e que depois de o conhecer faz com que o mar do Algarve parece uma banheira grande”), da passagem de Grandella pela Foz e de Afonso Costa pelo edifício que viria a ser o Inatel, mas também sobre os refugiados das Caldas da Rainha que classificou de “uma terra muito especial pelo percurso que aqui tive”.
O elogio às Caldas ficou patente numa frase de Bruno Santos, ex-estudante da ESAD e que a dada altura do seu percurso foi também trabalhador da Gazeta das Caldas por um curto espaço de tempo: “as Caldas é uma cidade especial e há aqui uma energia especial para criar que eu não encontrei quando fui para Lisboa”.

[caption id="attachment_115465" align="alignnone" width="850"]Bruno Santos e João Soares Bruno Santos e João Soares – Carlos Cipriano[/caption]

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