Uma dezena de artistas franceses, espanhóis, brasileiros, russos e portugueses estiveram a fazer uma residência artística no CCC, entre os dias 12 e 22 de Agosto. Durante os 10 dias em que decorreu o encontro internacional, os aguarelistas percorreram (e pintaram) as ruas, praças, parque e mata das Caldas da Rainha e outros locais do concelho.
Agora, na bagagem levam as imagens da região, que vão divulgar nas suas terras, um pouco por todo o mundo.
Na manhã chuvosa de sexta-feira Véronique Legros-Sosa compunha os materiais em cima da pequena mesa instalada à entrada do CCC. Dentro de momentos começaria a fazer uma demonstração do seu trabalho perante os outros aguarelistas e também curiosos que não perdem a oportunidade para aprender com quem domina as técnicas.
A artista de Bordéus está pela segunda vez nas Caldas da Rainha a participar no Encontro de Aguarelas, oito anos depois. É caso único deste encontro, pois todos os outros participantes são novos.
Já com uma plateia envolta, Véronique Legros-Sosa começa a falar no estudo de valores, com que começa os seus trabalhos. Ou seja, a artista começa por fazer um estudo da intensidade das cores com que irá pintar, sendo que o fundo é sempre mais claro e o que está mais perto é mais intenso. Segue-se mais de uma hora de trabalho até que da folha em branco saia uma rua da cidade.
As ruas, as pessoas a circular e as atitudes que vão tendo são, de resto, o que a artista mais gosta de pintar. E se for em Portugal ainda melhor, pois a sua luminosidade “é muito bela”, refere, acrescentando que aprecia muito as cores deste país.
A autora participou em dois encontros nas Caldas e outros dois em Santa Cruz e está sempre disponível para voltar. “Se me convidarem virei com certeza”, diz, dando nota da boa experiência de contacto com outros pintores internacionais, que permite trocar impressões e ver como eles trabalham.
Durante toda a semana os artistas apresentaram publicamente o seu trabalho perante quem queria assistir. Quando o tempo permitia era na zona da Praça da Fruta e nos dias de chuva era no átrio do CCC. Luísa Avelar foi uma habitué destes encontros. Lisboeta e a residir nas Caldas há vários anos, gosta muito de aguarela e não perde uma oportunidade para aprender mais sobre esta técnica de pintura.
“As oportunidades não são muitas e é sempre de aproveitar”, disse a também pintora, que nestes dias tentou assimilar todo o conhecimento possível para depois praticar.
Luísa Avelar já teve aulas de aguarela com António Bártolo e contava participar num workshop com Pedro Orozco, previsto para o próximo fim-de-semana. Também já fez algumas pinturas da zona do Parque, que “é fascinante”, disse à Gazeta das Caldas.
No dia seguinte (sábado), o artista em destaque era o estreante António Giacomin, oriundo de Caxias do Sul, estado de Rio Grande do Sul (Brasil). Ainda não tinha decidido o que iria apresentar e pensava fazê-lo só na altura.
Esta foi a primeira vez que esteve nas Caldas e mostrou-se impressionado com o que viu, nomeadamente a quantidade de cultura e obras de arte, sobretudo nas rotundas.
“A arquitectura está muito bem preservada, a Praça da Fruta, as pessoas têm um jeito de caminhar diferente, tudo me impressiona e pode ser pintado”, refere o aguarelista que durante estes dias tem procurado desenhar temas locais e outros que já trazia na bagagem.
António Giacomin destaca também a troca de informações com outros artistas de vários países. “O material mais importante vai ser levado para o Brasil e com mais calma vou trabalhá-lo”, diz o pintor, acrescentando que nestes encontros acabam por conversar e conviver bastante e a produção não é tão grande. E apesar da dificuldade da língua, “as nossas ferramentas de pintura acabam traduzindo o que queremos dizer”, comenta o aguarelista.
Esta é a quarta edição do encontro bienal que se realiza desde 2010. O seu coordenador, António Bártolo, revela que durante os 10 dias os participantes partilham técnicas, ajudam-se mutuamente e levam as Caldas e região para fora, para os seus países. “Já há artistas que passaram por aqui e trazem os seus alunos para fazer pequenos cursos nesta região”, disse, dando como exemplo uma francesa que anualmente vem com o grupo pintar para esta zona.
Também aguarelista, António Bártolo encontra sempre motivos novos para pintar, mas é difícil porque tem que tratar de toda a logística e fica com menos tempo para a pintura. Gosta especialmente de pintar a paisagem e vai para a Lagoa de Óbidos mas acha que o Parque também tem espaços muito interessantes.
O coordenador gostaria que fossem feitas mais residências deste género nas Caldas. Por outro lado, reconhece que nesta altura do ano é cada vez mais difícil arranjar aguarelistas novos para participar porque decorrem muitos encontros. Há inclusive artistas que tentou convidar mas que já estão ocupados até finais de 2017.

































