Depois de promover uma partilha de leituras entre seniores e alunos na Escola Secundária Rafael Bordalo Pinheiro, a Biblioteca Municipal convidou Sinde Filipe a declamar poesia. O actor, cara conhecida da televisão, apresentou ao público “Meu amor…”, uma antologia de 40 poemas. Esta foi mais uma iniciativa da autarquia para celebrar o Dia Mundial da Poesia.
Vinte e três de Março. Dois dias após a data oficial que comemora mundialmente a poesia, Sinde Filipe subiu ao palco do auditório da Biblioteca. Não para representar, como lhe é bem sabido, mas para declamar versos de amor. “Sei que já está fora de moda falar sobre amor. Mas eu faço parte daqueles ingénuos que ainda alimenta essa esperança”, começou por dizer.
Amor, só por si, é uma palavra muito abrangente. “Amor a Deus, ao dinheiro, à Pátria…”, todas as suas utilizações poderiam ser motivo de poesia. Mas Sinde Filipe, aos 78 anos, veio às Caldas ler poemas sobre o amor que os seres humanos sentem uns pelos outros.
Aquele sentimento que Nietzsche descreve como “o estado no qual os homens têm mais probabilidade de ver as coisas como elas não são”, ou Florbela Espanca define como “ter sede do infinito”. Amor, uma emoção contraditória para Almeida Garrett: “chama que é lenta e consome, que é vida e a vida destrói”. Também Camões o vê assim: “uma ferida que dói e não se sente, um contentamento descontente, um querer estar preso por vontade”.
António Patrício, Antero de Quental e Camilo Pessanha deram início ao recital, que prosseguiu com Feliciano de Castilho e Almeida Garrett para retratar o amor juvenil. Como o da Anita, que aos 13 anos já se dizia mulherzinha para casar com Pedro Gaiteiro.
Se as palavras de Eugénio de Castro serviram para ilustrar o amor não correspondido, os versos de Carlos Queirós descreveram aquilo que acontece quando a chama diminui. Ou se apaga mesmo. Apresentando uma perspectiva positiva do fim de um relacionamento, Carlos Queirós agradece: “Que bem me faz agora o mal que me fizeste. Mais forte, sereno, livre e descuidado. Sem ironia amor, obrigado por tudo o que me deste”.
Para se referir ao amor carnal, Sinde Filipe recorreu a poemas de David Mourão Ferreira, José Régio, José Saramago e Herberto Helder. Já o amor de mãe esteve igualmente representado por José Régio e pelos nomes Eugénio de Castro, Miguel Torga, Sophia de Mello Breyner e Alexandre O’Neill.
Houve também quem escrevesse sobre o casamento, como Cesário Verde e Augusto Gil. Ambos os autores consideravam este “contrato” desnecessário. “Posso amar-te como o Dante amou, seguir-te sempre como a luz ao raio, mas ir contigo à igreja, isso não vou. Lá nessa é que eu não caio”, dizia o primeiro.
“Não seria possível falar de amor sem mencionar as cantigas dos trovadores”, continuou Sinde Filipe, explicando que se na França os poetas cantavam versos às damas casadas, em Portugal declamavam-nos às raparigas solteiras, olhando-as como se deles fossem noivas. “Era uma forma de ganhar a vida na altura, sacar uns cobres às suspirosas senhoras que, às vezes, caíam no risco de se apaixonarem”, acrescentou.
António Nobre, Olavo Bilac, Álvaro de Campos, Calado Raimundo e Jorge de Lima foram outros autores presentes na antologia “Meu amor…”, cerca de 40 poemas que tanto deixaram o público emocionado como a rir às gargalhadas.
Alguns dos textos foram lidos ao som de música, uma delas escrita pelo filho do actor, Laurent Filipe. Inicialmente todos os poemas seriam acompanhados por um tema musical, mas um impedimento do sonoplasta reduziu o número de canções a três.
Maria Beatriz Raposo
mbraposo@gazetadascaldas.pt






























