Carlos da Maia, protagonista do romance Os Maias, é representado no filme de João Botelho pelo autor caldense Graciano Dias.
O actor vive em Lisboa e são poucas as oportunidades que tem de vir às Caldas devido aos seus afazeres profissionais. Em conversa, via correio electrónico, com a Gazeta das Caldas, Graciano Dias fala, entre outras coisas, da enorme responsabilidade que foi dar vida à figura queirosiana de Carlos da Maia.
GAZETA CALDAS – Está surpreendido com o sucesso que o filme Os Maias está a ter junto do público?
GRACIANO DIAS -É raro um filme português ser um sucesso e quando assim é, é uma surpresa para todos, até porque normalmente o cinema português só é reconhecido em Portugal depois de ganhar prémios lá fora.
GC – Como foi interpretar a personagem de Carlos da Maia?
GD -Interpretar o personagem Carlos da Maia ou qualquer outra personagem do Eça é uma aventura literária que exige muita preparação, concentração, dedicação e rigor. É de uma enorme responsabilidade, uma vez que todos, ou quase todos, os portugueses conhecem a obra, e, para muitos, é um romance apaixonante e marcante.
A grande dificuldade é fazer um trabalho simples perante a complexidade da obra de Eça e este trabalho só pode ser feito, com uma grande equipa por trás. Em que cada um se dedicou para respeitar e honrar o Eça de Queiroz.
GC – É verdade que o livro de Eça, “Os Maias” é o favorito do seu pai e que este último o ajudava a interpretar a obra?
GC – Sim, é verdade. Os Maias é o livro favorito do meu pai e guardo a memória de ter passado horas no meu quarto nas Caldas da Rainha, à luz do candeeiro da secretária, com o meu pai a ajudar-me a interpretar toda a complexidade da obra. Confesso que tive muitas dificuldades e pouco assimilei.
Quem diria que 15 anos depois voltaria a pegar no romance de Eça de Queirós que quase me havia “esmagado” no passado.
GC – Como foi o seu percurso escolar nas Caldas?
GD – O meu percurso escolar começa no Ramalho Ortigão, passando pela escola Encosta do sol, Escola do Bairro da Ponte, EB 2,3 D João II e Escola Secundária Raul Proença. Depois fui para a Nazaré e frequentei o Externato Dom Fuas Roupinho.
GC – Quando é que soube que o seu percurso profissional passaria pela representação? Fez parte de grupos de teatro locais?
GD – Frequentei a Act-Escola de Actores e nunca pensei que iria fazer teatro, até porque um dos meus sonhos era o cinema. Mas rapidamente percebi que para se ser actor e não fazer teatro era o mesmo que começar uma carreira partindo do telhado e assim nasceu a paixão pela representação, muito por culpa do encenador António Pires, que me ensinou tudo o que sei hoje sobre teatro.
Nunca fiz parte de um grupo de teatro, mas sim de uma produtora, a Ar de Filmes, ligada ao teatro e ao cinema.
GC: Como é hoje a sua ligação às Caldas?
GD -É muito raro ir ás Caldas e quando vou é sempre para uma visita rápida. A última vez que por aí passei foi em Setembro deste ano.
Fui ver os juniores do Caldas e depois dei um passeio pela Rua das Montras e estava deserta, o que me deixou bastante triste. Fui visitar os meus tios e fui lanchar ao Pingo de Mel. Já não ía às Caldas há um ano, infelizmente.
GC – Em que projectos profissionais é que está actualmente envolvido?
GD -Neste momento estou em ensaios para o próximo projecto da TVI. Será a minha segunda participação numa telenovela que irá para o ar em Março de 2015. É um projecto totalmente diferente de tudo o que tenho feito até hoje, pois serei o vilão da novela de Maria João Mira.
GC – Gostaria de realizar algum trabalho relacionado com as Caldas?
GD -Sem dúvida que sim. Gostava de adaptar para cinema a história das Caldas da Rainha, mais precisamente o período de 1484 a 1511, momento em que as Caldas da Rainha atingiu o estatuto de vila, ou retratar mesmo todo o período que vai da Idade Média até à cidade calma que é hoje.
Claro que é um sonho quase absurdo face às dificuldades económicas que o país atravessa.
Se tivéssemos uma conjuntura económica idêntica à da indústria cinematográfica americana, oh…já estava feito…!
GC – Qual o filme e/ou peça de teatro que deseja muito interpretar?
GD -Cada personagem é um universo por criar e por isso não tenho uma preferência. Muitos personagens já foram feitos de formas muito variadas e muitos outros ainda estão por explorar. Contudo, gosto de personagens muito humanas e que abundam nos clássicos.
Natacha Narciso
nnarciso@gazetadascaldas.pt
O teatro antes do cinema
Graciano Dias tem 33 anos, formou-se na Escola de Actores e estreou-se em 2003 com a peça musical, “A Ópera do Malandro”, encenada por António Pires.
Já fez parte do elenco de várias peças como “Pedras Rolantes”, “Auto da Barca do Inferno”, “Morte de Romeu e Julieta”, “Por uma noite”, “Moby Dick”, “A Noite dos Assassinos”, ”Sonho de uma noite de Verão”, “Comédia de Desenganos”. Em 2010, o caldense ganhou o prémio Revelação Actor, com a peça “O Príncipe de Hamburgo”, também encenado para António Pires.
No cinema, Graciano Dias já participou, entre outros, nos filmes “A Nuvem” de Jorge Queiroga e em “Corte do Norte” e “Filme do Desassossego”, ambos de João Botelho.
N.N.






























