A ideia de velocidade, excesso, limite e fragilidade humana, é o fio condutor da exposição de Marta Moura, que se encontra patente na galeria novaOgiva, em Óbidos, até 26 de Agosto.
Logo à entrada da galeria, um conjunto de pinturas convidam o visitante a conhecer uma “espécie” de museu privado da artista. Tratam-se de dezenas de objectos que atraíram a atenção de Marta Moura, pela sua beleza ou pela transmissão do sentido de temporalidade, como é o caso de uma panela amassada, uma batata grelada, um líquen numa árvore, ou um cogumelo. Todas as pinturas foram feitas já este ano e a pensar na exposição em Óbidos, mas a ideia surgiu de uma mostra que fez em 2012 na Galeria do Museu da Carris, sobre objectos perdidos e achados nos autocarros.
Ao lado, aparecem objectos naturais e perecíveis – dois troncos – que se tornam esculturas em alumínio.
A ideia de passagem do tempo e temporalidade também é visível nas pinturas de grandes dimensões que se encontram encostadas à parede da galeria. Pode-se ver uma folha de jornal, que marca que marca a actualidade de um dia, assim como pinturas de diversos tipos de lixo, que é possível encontrar diariamente amontoado nas cidades. “Trata-se de uma realidade, sobretudo urbana e ligada ao consumismo, em que os objectos que antes tinham muito valor para as pessoas, passam a ser excedente”, explicou Marta Moura, sobre o trabalho que apelidou de Natureza Morta.
A autora mostra também a sua ironia, ao colocar em cima de uma base um monte de notas amassadas, de 100 euros cada, em que “um objecto que parece lixo para uma pessoa, pode ter um valor incalculável para outra”, refere.
Ainda nesta temática, são apresentadas quatro telas, de grandes dimensões e conjugadas como se de uma acumulação de lixo se tratasse. “A pintura é a minha forma de comunicação, o meu olhar sobre as coisas e como mostro as minhas preocupações”, contou a autora à Gazeta das Caldas.
Um livro falso, é apelidado de Velocidade – o título da mostra – e reporta-se a uma obra impossível, pois não pode ser lido, mas que simbolicamente pode contém tudo o que se desejar.
A instalação “Paisagem”, patente no primeiro piso, também aborda o conceito de temporalidade, através das folhas nela representadas, que reportam para o Outono e dão a ideia de elemento perecível. Pelas paredes desse piso está também exposta a biografia imaginada da artista, com referência à própria e aos seus trabalhos nos principais espaços expositivos do mundo, como a Tate, e reportados em revistas de grande prestígio. Este trabalho em contínuo começou em 2011 e conta já com oito telas.
No segundo andar estão pinturas de acidentes de automóvel. “A ideia começou por essa sensação de excesso, de experiência contemporânea e questionar qual é o nosso limite”, conta a autora, acrescentando que dentro de um carro “ganhamos poderes de uma máquina, mas temos limites”.
As telas pretendem também abordar a ideia de “voyerismo”, muitas vezes mórbido dos acidentes. No entanto, Marta Moura não mostra corpos, só as máquinas, pois “basta vermos os resquícios dos acidentes para perceber a sua gravidade”, entende.
No último piso, a autora mostra uma tela de grandes dimensões, feita entre 2009 e 2013, sobre o “Insustentável peso da imagem”, onde aborda os vários tipos de excesso.
Marta Moura estudou Artes Plásticas na ESAD e participou no Junho das Artes em 2009.
Ana Calçada, responsável pela rede de museus e galerias de Óbidos, destacou o talento de Marta Moura, que “consegue trazer uma competência técnica feita de uma forma muito leve e, por outro, trazer um conceito e paradigma que é preciso explorar e trabalhar”. A responsável salientou ainda a importância de trabalhar as temáticas abordadas pela artistas com os alunos das escolas de Óbidos, em conjunto com os professores e através das visitas guiadas com Marta Moura.
Fátima Ferreira
fferreira@gazetadascaldas.pt






























