“A Terapia do Tricot”, o manual de Zélia Évora

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DSCN8381Desde o dia do lançamento na FNAC do Colombo, 19 de Janeiro, que Zélia Évora, caldense emprestada que nasceu no Canadá, anda sob os holofotes do grande ecrã. RTP, SIC e TVI, os três canais generalistas já a convidaram para apresentar “A Terapia do Tricot”, a sua estreia na escrita publicada pela Esfera dos Livros. Trata-se de um manual de tricot que ensina a construir 60 peças diferentes, entre meias, casacos, camisolas, gorros, luvas ou cachecóis. Zélia Évora assegura: tricotar é relaxante, aumenta a auto-estima, melhora a motricidade fina, estimula o raciocínio e pode tornar-se um vício. Contudo, atenção à carteira – o tricot sai caro.

As primeiras peças que guarda memória de ter tricotado foram duas camisolas, uma lisa com berloques na manga, outra bastante colorida, elaborada com a técnica jacquard. Curiosamente, perdeu as duas, uma delas no autocarro que a levava da escola até à Foz do Arelho. Zélia Évora tinha 12 anos, e nas mãos a sabedoria de tricotar.
Começou a dar os primeiros pontos aos oito anos, ensinada pela mãe. “Com ela aprendi o básico, mas fui eu quem puxou por mim mesma para saber mais e fazer melhor. Era capaz de ir a uma loja e revirar uma peça até descobrir como se fazia”, relembra a autora, de 46 anos.
Naquela altura a roupa feita à mão estava na moda. Depois, com o aumento do poder de compra das famílias e com o boom das grandes superfícies, comprar o vestuário nas lojas é que se tornou hábito. Ao mesmo tempo, as mulheres saíram de casa para apostar numa carreira profissional e sobrou pouco tempo para as costuras. Para Zélia Évora, o aumento do número de desempregados trouxe o tricot de volta. “É uma forma de passar o tempo muito relaxante que nos faz sentir úteis pois estamos a criar alguma coisa”.
Também Zélia Évora encontrou na costura uma segunda oportunidade, depois de perder o emprego de administrativa, que fazia parte do seu currículo há 24 anos. Tudo começou quando perdeu o chapéu que comprara para a filha e resolveu a situação sacando das agulhas para bordar-lhe um. Entretanto, fez outro igual para si, postou uma foto na internet e perguntaram-lhe: quanto custa esse chapéu? Assim nasceu o atelier de costura, onde Zélia Évora cria peças que depois vende online.
Poucos meses depois de, juntamente com Filipe Almeida Santos, ter criado o Gang da Malha nas Caldas da Rainha, Zélia Évora recebeu o convite para escrever o livro. Em nove meses, as 60 peças estavam traduzidas numa espécie de código, fórmulas de tricot que o livro faz correspondência. “Como seria impossível conseguir tricotar todas as peças nesse tempo, contei com a ajuda de pessoas do Gang da Malha”, explica a autora, que, chegou a desfazer algumas das peças para corrigir erros do livro.

“O tricot é relaxante, mas o livro foi stressante”

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Aprender a ler o rótulo das lãs, a enrolar um novelo e a montar as malhas na agulha são ainda outros truques que esta obra ensina.
“A Terapia do Tricot” nasce também com o apoio de diversas marcas de lã, caso contrário Zélia Évora nunca conseguiria ver o fim à última página. Só a lã para a primeira peça, um casaco amarelo, custou 100 euros. “Foi quando caí em mim que não tinha dinheiro para escrever o livro, então peguei no telefone e liguei a todas as empresas que sabia que vendiam lãs de qualidade”, conta Zélia Évora, que recebeu a maioria dos novelos do estrangeiro.
É verdade, tricotar sai caro. Tão caro que Zélia Évora nem vende peças em tricot no seu atelier. “É um erro pensar que vamos oferecer tricot a toda a gente no Natal. As lãs, se forem boas, são muito caras, além que se leva muito tempo a concluir uma peça”, revela.
O vício, “saudável”, nasce do facto de ser possível tricotar em qualquer lado, seja num transporte público ou numa sala de espera, dos novelos e das agulhas caberem facilmente numa mala e do tricot ser conciliável com outros passatempos, como ver televisão. “Até o tique-tique das agulhas é relaxante”, assegura Zélia Évora, a quem o tricot ajudou no trabalho de parto. É que, Zélia levou as agulhas para o hospital e, enquanto tricotava umas meias nem sentiu as dores das contrações.

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