“A Rua de Camões poderia dar lugar a zona de escritórios de dia e de animação à noite”

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Gazeta das Caldas

1-arquitectoO arquitecto obidense Miguel Duarte conhece a fundo a realidade termal caldense, tendo sido este o tema da sua tese de mestrado em Património e, por isso, a 11 de Abril coordenou uma visita guiada pelo núcleo histórico das Caldas.
O especialista diz que “muita vezes, erra-se a querer colocar gente a morar nos centros históricos porque há zonas, como a Rua de Camões, que podem ser zonas de escritório e empresas de dia e de animação nocturna à noite”.

Uma das formas de requalificar os centros históricos é promover a habitação. Só que, para o arquitecto Miguel Duarte esta “nem sempre é a melhor solução”. Este profissional também não concorda com o facto de se gastarem milhões de euros a construir e a criar centros comerciais, centros empresariais e de incubadoras de empresas de raiz, “quando deveríamos pensar em instalar estas valências nos centros históricos”.
Na sua opinião, os edifícios históricos são uma espécie de seres vivos que precisam de manutenção constante e ainda de um uso que seja lógico. E dá como bom exemplo o que foi feito no Convento S. Miguel das Gaeiras (Óbidos), que “há 15 anos estava completamente em ruínas e que hoje tem vida própria, albergando vários projectos”.
Em relação às Caldas, e aproveitando o facto da Rua de Camões estar em obras, Miguel Duarte sugere que os edifícios poderiam albergar escritórios de empresas e novos projectos e acha que a zona de estacionamento e circulação automóvel poderia dar lugar a esplanadas. Entende ainda que “os escritórios coadunam-se bem com espaços de animação nocturna pois os horários não coincidem”.

De costas voltadas para o centro histórico

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Durante a visita guiada feita por este especialista na zona que circunda o Hospital Termal, Miguel Duarte aproveitou a ocasião para desmistificar algumas das lendas que existem em volta da criação da localidade. “Não foi por mero acaso que a Rainha por aqui encontrou doentes que se curavam com as águas sulfurosas”. Segundo o arquitecto, Caldas da Rainha “foi uma terra muito bem planeada já na época que foi crescendo e se foi mantendo sem grandes modificações até ao século XIX”, acrescentou.
Actualmente Miguel Duarte considera “estranho” que o hospital, 500 anos depois, “esteja a mudar de mãos em termos políticos e que os caldenses, de uma forma geral, não falem sobre o assunto”.
Miguel Duarte afirmou que a população está de costas voltadas para o seu centro histórico e para o próprio hospital. E sublinhou que este “não é um hospital numa cidade, mas sim uma cidade em volta de um hospital “. E este que não é o primeiro do mundo, nem sequer de Portugal, mas “foi dos primeiros a preocupar-se, não só com a saúde – a ter médico 24 sobre 24 horas por dia – como também com a assistência espiritual”, disse o arquitecto. A Rainha D. Leonor quis que esta unidade de saúde seguisse os conceitos em voga na Europa, nomeadamente em Itália, tendo concretizado nas Caldas “o que os florentinos achavam que seria o futuro dos hospitais, crendo que estes deveriam estar a meio dos centros urbanos”.
Para o especialista, “o que interessa preservar não é um hospital antigo, mas sim o facto das Caldas da Rainha ser uma vila hospitalar, muito bem planeada desde o seu início da sua existência”, rematou.
O passeio “A Implementação do Hospital e da Vila, estratégia e resultados” que o arquitecto coordenou a convite do Conselho da Cidade e do Museu do Hospital, contou com a adesão de dezenas de caldenses que participaram nesta iniciativa com visível agrado, apesar do sol intenso que se fez sentir na cidade durante aquela tarde.
A visita decorreu nas imediações do Hospital, foi organizada pelo Conselho da Cidade e visou assinalar o 11 de Abril, Dia Internacional dos Centro Históricos.

 

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