Abriu ao público a 24 de Setembro, no Mosteiro de Alcobaça, a exposição colectiva de cerâmica de autor “Estética da Paixão”, organziada pela Associação de Cerâmica Contemporânea Criativa – Colectivo Três Cês em colaboração com o município daquela cidade.
O espaço da galeria de exposições temporárias foi pequeno para as pessoas que quiseram participar na inauguração da mostra que acolhe trabalhos de 30 ceramistas, oriundos de Norte a Sul do país. Cada um apresenta a sua perspectiva sobre a paixão entre o rei D. Pedro e D. Inês, cujos corpos repousam no próprio Mosteiro, em notáveis exemplares de arte tumular.
“Estética da Paixão” integra a programação dos 650 anos da trasladação de Inês de Castro para o Mosteiro.
Era uma ambição de longa data da Associação Três Cês realizar uma exposição no Mosteiro de Alcobaça e foi sob a temática de Pedro & Inês que foi possível concretizar tal desígnio. Jean Ferrari, o presidente da Três Cês não pode estar presente (devido a doença) mas foi através da sua amiga, a antropóloga Teresa Perdigão que deixou algumas palavras na inauguração desta exposição que prova que também a cerâmica contemporânea pode dar um contributo na interpretação de temas históricos.
Jean Ferrari é francês, viveu vários anos na região e, em 2003, lançou o projecto da Feira de Cerâmica Contemporânea de S. Martinho do Porto, sendo esta uma importante realização exclusiva que dá a conhecer uma parte da produção artística na cerâmica contemporânea portuguesa.
Segundo missiva que enviou por Teresa Perdigão, este responsável espera que esta exposição possa encetar uma nova relação entre as entidades públicas e a área da cerâmica. Presentes na cerimónia estiveram Paulo Inácio, presidente da Câmara de Alcobaça, Luís Coelho que é director do IGESPAR e Jorge de Sampaio, o director do Mosteiro.
“A cerâmica é uma referência do concelho de Alcobaça e uma exposição desta área dedicada à temática de Inês é algo de inovador”, disse à Gazeta das Caldas, o presidente da Câmara, Paulo Inácio, referindo-se com agrado à mostra de cerâmica contemporânea presente no Mosteiro.
Luís Coelho, director do Igespar destaca no catálogo da mostra o diálogo salutar entre a História e o Contemporâneo com a realização desta exposição temporária no local onde o casal real se encontra sepultado.
Na mostra poderão ser apreciados trabalhos de Alice Diniz, Ana Sobral, Carlos Enxuto, CarlosLima/Xana Monteiro, Cláudia Cannas, Cláudia Carlos, Daniela Silva Ferreira, Eduardo Constantino, Elsa Gonçalves, Emília Viana, Heitor Figueiredo, Helena Brizio, Helena Almeida, Isabel Colher, José Pires, Josiane Rodrigues, Laura Ruiz, Liliana Sousa, Lúcia Monte Alegre, Margarida Gil, Maria da Nazaré, Maria do Céu Nogueira, Maria de Fátima Marrocos,Mário Reis, Nicolay Amzov, Ricardo Casimiro, Ricardo Lopes, Sara Maria Polleri Pires de Campos de Morais Teixeira, Sérgio Amaral, Umbelina Barros e de Vasco Baltazar. Entre estas autores há vários das Caldas da Rainha.
A exposição – que está inserida nas comemorações dos 650 anos da transladação de Inês de Castro para o Mosteiro de Alcobaça – poderá ser apreciada até 23 de Outubro diariamente das 9h00 às 13h00 e das 14h00 às 16h30.
“Pode-se fazer muito mais, agarrando os nossos temas históricos”
Ricardo Casimiro, que desenvolve o seu trabalho em Lisboa, apresenta uma obra onde o elemento coração é preponderante. Este ganha vida pois o artista adiciona pequenos braços, que antes já pertenceram a uma boneca. “Mando vir estas peças de porcelana pelo Ebay, que vêm da região alemã de Thuríngia onde antes existiam muitas fábricas de bonecas de porcelana”, conta o ceramista, explicando que muitas faliram e acabaram por enterrar o resto da produção. E como há quem se dê ao trabalho de as desenterrar e vender nos leilões da internet, Ricardo Casimiro acaba por dar nova vida a peças que, de outra forma, não voltariam a ver a luz do dia. “Gosto de integrar estes elementos nos meus trabalhos”, explica o autor que tem uma série de bonecos cerâmicos articulados onde alia outros materiais à cerâmica.
Os corações de Pedro & Inês têm um grande alfinete de dama espetado pois “tive a ideia de os apresentar aprisionados após três fases: o início do namoro, a relação e o estado de paixão que depois arrefece e desaparece. É essa a história”, comentou o autor que também se deixou influenciar, para este trabalho, pelos corações de filigrana de Viana do Castelo.
Para Casimiro, a exposição no Mosteiro “está esteticamente aceitável se bem que há algumas obras que, se fosse eu, não as teria seleccionado”, rematou.
O projecto da ceramista Liliana Sousa intitula-se “Coração de Inês” e é um conjunto de peças utilitárias que inclui chávenas, pires e apoios para bolos. “Este trabalho deu-me muito prazer, pois sou de Alcobaça e decidi fazer um trabalho utilitário com o intuito de mostrar às nossas indústrias que se pode fazer muito mais, agarrando nos nossos temas históricos”, disse a autora.
Liliana Sousa gostaria que o seu set fosse colocado num hotel, “e seria para ser usado numa situação especial para namorados ou noivos. Pode também servir uma ginga de Alcobaça e uns bombons”, rematou.
O ceramista caldense Eduardo Constantino também trouxe uma peça da Bretanha para esta mostra. “É uma obra que está interligada noutra”, explica o autor enquanto mostra uma face negra e uma vermelha que representam o dramatismo que acompanha a história de Pedro e Inês.
O caldense está de férias na sua terra natal, após ter realizado exposições em França e na Holanda. À Gazeta das Caldas este autor contou que “tem a sua agenda preenchida até 2013”. No final de 2011 Eduardo Constantino vai realizar uma exposição individual em Paris.
A obra de Carlos Enxuto retrata três tempos da relação de Pedro e Inês. “São janelas que assinalam três fases diferenciadas do relacionamento do casal”, explica o ceramista referindo-se à paixão, à separação e a coroação post-mortem. Estes momentos foram colocados em “quadros” que contêm motivos retirados de um lenço de chita antigo, ligando assim este trabalho à localidade de Alcobaça. Para o autor caldense a exposição “está interessante, o espaço tem muita luz e área para as peças respirarem”, disse.
Maria do Céu Nogueira escolheu representar o amor do casal histórico com um grande coração, representado com espinhos e com uma rosa que simbolizam “os aspectos negativos e positivos do amor”. Para a autora, a exposição “está muito boa, com boas propostas”, só lamenta que não se aposte mais na divulgação. “Deveria ter sido feito um grande cartaz para atrair mais público ao evento”, rematou.
José Pires, ceramista que trabalha em Silves, apresenta a peça “Infinito Noves fora Nada”. “O meu trabalho reflecte sobre a dualidade e sobre a ilusão do uno”, disse o autor cuja obra tem uma peça central e outras pequenas que a rodeiam, “tal como houve várias personagens em volta da história do casal”. A peça maior é aparentemente una mas um olhar mais cuidado mostra que são duas. “O dramatismo da história deste casal, assim como a paixão está traduzida na cor vermelha, na ideia do uno como uma ilusão”, disse o autor. E porque se designa “Infinito Noves fora Nada”? Porque para este autor “unidade e união no fundo dá em nada”, rematou.
Habitar Portugal 2006/08 no Mosteiro de Alcobaça
Na Galeria de Exposições Temporárias foi também inaugurada a exposição itinerante Habitar Portugal 2006/2008 Selecção Mapei/OA que poderá ser apreciada até 30 de Outubro.
A selecção Habitar Portugal é um projecto da Ordem dos Arquitectos e apresenta, em painéis, uma selecção de construções no continente, ilhas e fora do país feitas por arquitectos portugueses.
Segundo Vicente Roque, elemento da direcção da Ordem, salientou referindo-se à presença dos projectos de Souto Moura – vencedor do prémio Pritzka, que “a arquitectura que se faz em Portugal é reconhecida e valorizada lá fora”.
À terceira iniciativa, selecção Mapei/Ordem dos Arquitectos, concorreram 384 candidaturas e destas foram seleccionadas 80 e que mostram a diversidade da produção arquitectónica portuguesa. Por se tratar de uma mostra itinerante, garante uma maior proximidade entre a arquitectura contemporânea e o público.
A exposição conta com projectos de arquitectos como Siza Vieira, Souto de Moura ou Carrilho da Graça, além de projectos de novos nomes da arquitectura nacional como Catarina e Rita Almada Negreiros, Pedro Rogado e os MOOV.
A Habitar Portugal 2006/08 tem como comissário geral Pedro Gadanho, Pedro Bandeira, Nuno Grande, Pedro Jordão, Luís Santiago Baptista, Ricardo Camacho e Pedro Machado Costa.






























