
Foi num clima de boa disposição que decorreu a palestra “Conversas com Música”, no passado dia 18 de Julho às 21h30, no auditório do Centro da Juventude. O luthier (termo de origem francesa que designa um profissional especializado na construção e reparo de instrumentos de corda) caldense Orlando Trindade, fez uma viagem através da história da guitarra, dos tempos medievais até à actualidade. O solista uruguaio Rafael Bonavita ajudou a ilustrar os vários períodos abordados por Orlando Trindade, tocando temas relativos a cada um.
Uma das questões mais interessantes abordadas nesta sessão foi a desmistificação da palavra “viola”, correntemente usada para designar uma guitarra. “As violas tradicionais portuguesas, como o cavaquinho, a viola freguesa ou a campaniça do Alentejo, são instrumentos que quase se mantiveram sem evolução em relação às violas renascentistas”, esclareceu Orlando Trindade. Por sua vez, em Espanha surgiu uma nova filosofia de construção que deu origem à actual guitarra clássica espanhola, a típica guitarra de concerto, tendo mudado também o seu nome. Assim, porque o instrumento em Portugal não sofreu grandes alterações, manteve a sua designação de viola e não de guitarra, como em Espanha. Hoje em dia é ainda utilizado como acompanhamento da guitarra portuguesa no fado.
O luthier caldense mostrou aspectos da guitarra e de outros instrumentos de corda que mudaram ao longo de várias épocas históricas. Um bom exemplo disso é a forte presença do instrumento em gravuras da iconografia religiosa que remontam aos tempos medievais. Já o período renascentista foi palco de mais desenvolvimentos importantes. Em 1572 foi instaurado em Portugal o Regimento dos Violeiros de Lisboa, onde se encontravam “todas as características que cada artesão tinha que ter para construir instrumentos musicais”, explicou Orlando Trindade na sua palestra.
O termo violeiro também pode ser utilizado para designar uma pessoa que constrói guitarras e cavaquinhos. Havia até uma especialização dos construtores entre os que produziam harpas e violinos. Porém, era-lhes requerido que soubessem construir instrumentos diferentes para que lhes fosse permitido construir qualquer instrumento. Já no século XVIII surgiram outras alterações físicas, como o abandono do uso de cordas duplas nos instrumentos, que até aí auxiliavam a incipiente afinação medieval.
Orlando Trindade aproveitou ainda para sublinhar a ideia de que nem todos os instrumentos antigos são necessariamente arcaicos ou rudimentares – enquanto algumas características dos instrumentos de corda estão hoje mais evoluídas, outras não se encontram tão desenvolvidas como nos tempos antigos.
Óscar Morgado
omorgado@gazetadascaldas.pt






























