“As Caldas é uma agradável pequena vila, quase doze léguas ao norte de Lisboa, e a estrada entre elas é boa.”
“Fonte Monumental em cuja fachada do fontenário esta inscrito Caldas da Rainha”
É nestes termos que começa um dos mais antigos livros escritos sobre as qualidades terapêuticas das águas das Caldas da Rainha; é seu autor William Withering.
Mas quem seria este senhor, que pelo nome se deduz ser estrangeiro, que veio a interessar-se pelas nossas tão famosas – e hoje em dia tão esquecidas – águas termais?
“Dr. Withering analyzing the Queen’s Bath at the request of the Court of Portugal”
- publicidade -
William Withering, médico inglês nasceu em Wellington, Inglaterra, em 1841. Além da prática médica, interessava-se por botânica, mineralogia, química, mas era principalmente um homem observador e curioso.
Por duas vezes veio a Portugal em busca de um clima mais favorável à cura da uma doença pulmonar que o afetava provocando-lhe um grande sofrimento. Por cá esteve em 1793 e 1795; foi durante a sua primeira estada, em 1793, que procedeu ao estudo analítico-químico das águas da Rainha D. Leonor. E o resultado desse estudo foi dado à estampa em 1795: o conhecido e muito estimado livro “Análise Química da Água das Caldas da Rainha”, editado na Oficina da Academia das Ciências de Lisboa, com licença de Sua Majestade.
Análise Química da Água das Caldas da Rainha – William Withering – 1795
Livro de pequenas dimensões, 27×19 cm, apresenta-se impresso em 61 páginas numeradas, acrescentadas com 4 páginas de índice. A edição é bilingue, em português e inglês, e contém a reprodução de um artigo extraído das atas da Academia Real das Ciências da sessão de 11 de Dezembro de 1793, artigo esse assinado por José Correa da Serra em nome do Secretariado da Academia, nomeando William Withering sócio estrangeiro da referida Academia e permitindo a edição do livro e custeando a mesma.
Na obra “Dicionário de Gravuras” da responsabilidade de Ernesto Soares e do Coronel Ferreira Lima, encontramos uma muito curiosa gravura, de origem inglesa, que reproduz na zona superior um retrato de William Withering e na zona inferior uma curiosa fonte enquadrada num ambiente florestal de grande exuberância.
Na fachada do fontanário, encimada por uma cúpula com uma cruz, podem ser lidas, gravadas em caixa alta, as palavras “Caldas da Rainha”.
A água milagreira jorra abundante de uma carranca de leão e é recolhida por uma concha de pedra trabalhada.
No ambiente frondoso que rodeia a fonte, identificamos umas tantas personagens, umas com ar doente e combalido e outras tantas expressando a sua robustez, quem sabe, antigos doentes a quem a água permitiu a cura e a conquista da alegria de viver.
Não sabemos quem foi o autor nem onde se inspirou para desenhar esta curiosa e integrante gravura; uma certeza há: ela resultou da imaginação de quem a desenhou, pois nas Caldas da Rainha nunca existiu tão imponente fonte, e muito menos miraculosa…
Isabel Castanheira
Fonte bibliográfica: Artigo: “William Withering e as Caldas da Rainha a propósito da uma interessante gravura”, publicado na Revista Municipal, Publicação Cultural da Câmara Municipal de Lisboa, N.ºs. 1 / 2 – 2.º Trimestre de 1966, da autoria de Nicolau de Bettencourt.