
Com a programação mais extensa de sempre, a oitava edição do Folio teve, na primeira semana, centenas de atividades e um denominador comum: as homenagens prestadas ao seu mentor: José Pinho
A “celebração do livro”, tal como o ministro da Cultura, Pedro Adão e Silva, se referiu ao Folio, decorre em Óbidos até domingo, numa edição onde o Risco é uma presença constante. O governante visitou o festival, na passada sexta-feira, e na primeira paragem, juntou-se a um auditório completamente lotado de crianças para ouvir a história da “Doce Gotinha: Uma grande viagem”. A viagem continuaria pelas livrarias, a primeira a do Mercado, onde comprou o livro “The lamp of memory”, de John Ruskin, seguindo depois pelos outros espaços do festival, ao longo de três horas. De fora ficou a conversa entre Geoff Dyer e João Tordo, a que Pedro Adão e Silva queria ter assistido pois gosta particularmente do escritor inglês. “Li quando saiu, em língua inglesa, o livro publicado recentemente, em português, Os últimos dias de Roger Federer, e também gosto muito de um outro, sobre fotografias de jazz”, disse aos jornalistas, no final da visita.
O governante, que tem vindo ao Folio anualmente, salientou que Óbidos mostra como a cultura pode ser factor de “diferenciação dos territórios” e como se pode qualificar uma vila, através de uma dimensão que, por vezes, não é vista como uma âncora para o desenvolvimento, o livro. Também local de visita (obrigatório) foi o mural de homenagem a José Pinho, uma criação da dupla DAFLA, situado nos jardins da Livraria do Mercado. Referindo-se ao livreiro, e mentor do festival, Pedro Adão e Silva destacou a forma como este “abriu portas à leitura, construiu livrarias com um perfil diferente” e teve grande importância na sua formação como leitor. “Este festival deve muito ao José Pinho e acho que este ano é uma forma de celebrarmos a sua memória e a sua alegria imensa de viver, através dos livros”, realçou. Os gestos de homenagem ao livreiro, que faleceu em maio, têm sido uma constante no festival e prestados das mais diversas formas. Logo no primeiro dia de festival, numa visita ao miradouro da Capeleira, o presidente da Câmara, Filipe Daniel, manifestou a intenção de darem continuidade ao seu trabalho e visão estratégica, “bastante arrojada”, e garantindo que “o legado de José Pinho jamais ficará por cumprir”.
Pouco depois, na sessão de abertura, assumiria o “risco” que representa dar seguimento ao Folio, sem a presença do livreiro, mas acreditando que esta edição será “seguramente melhor”, do que as anteriores, tal como José Pinho sempre dizia.
Também o presidente da Fundação Inatel, Francisco Madelino, considera que este será um festival “especial” e lembrou que o “projeto resulta do José Pinho e de uma autarquia que arriscaram. “E seríamos muito fracos se não déssemos continuidade a um projeto em que ele arriscou tanto”, observou. O evento, que em 11 dias, conta com a participação de mais de 600 autores, tem este ano uma programação também muito dirigida às escolas e aos jovens, salientou a vereadora Margarida Reis. E, apesar de reconhecer que algumas pessoas consideram que há atividades a mais, enquanto outras defendem que assim chega a todos os públicos, a autarca acredita que “vão ter todas muita recetividade”.
Loja 107 e Gazeta no festival
“Na minha livraria eu procuro aventuras”. A frase do artista caldense Mantraste acompanha uma ilustração alusiva à Livraria Loja 107 e é uma das 75 (uma ilustração por cada livraria), que “tem portas abertas” na PIM! – Mostra de Ilustração para Imaginar o Mundo, patente na novaOgiva. Este ano, e também como forma de homenagear José Pinho, Mafalda Milhões, curadora da Folio Ilustra, convidou 69 ilustradores (a idade do livreiro) para abrir, com traços, as suas livrarias do coração. A resposta acabaria por superar o pedido e as ilustrações encontram-se espalhadas pelos três andares da galeria, acompanhadas pelos textos de Joana Bértholo. E, “se alguém aparecesse com uma ilustração cinco minutos antes, tínhamos colocado na parede, porque sempre foi esse o hábito do Zé”, disse Mafalda Milhões, reconhecendo que “esta foi a exposição mais difícil que fiz nesta sala até hoje. Não é a mesma coisa abrir esta porta com o Zé ou sem o Zé.”
Durante a sessão, foi entregue o Prémio Nacional de Ilustração a Inês Viegas Oliveira e menções honrosas a João Fazenda e a André Carrilho. Também presente na cerimónia, o presidente da Câmara, Filipe Daniel, anunciou que está a fazer “geminações com cidades do Brasil e da China para levar a palavra e o português mais além”.
Para além da PIM! estão patentes, em diversos espaços da vila, mais duas dezenas de exposições, entre elas “Between Schools: há uma Gazeta que nos une”, comemorativa do 98º aniversário da Gazeta das Caldas. A mostra, patente no piso -2 do Museu Abílio, reúne trabalhos criativos efetuados pelos alunos das escolas das Caldas e de Óbidos tendo por base este semanário e também uma série de ilustrações, tendo por base um workshop de serigrafia feito pelos estudantes de Erasmus, sob a coordenação de Vera Gonçalves, da ESAD. CR. Na inauguração, o administrador da Cooperativa Editorial Caldense, Fernando Xavier, lembrou que já o ano passado a Gazeta participou com uma exposição no Folio e manifestou vontade de continuar com esta parceria. A docente Vera Gonçalves destacou que os alunos estrangeiros acabam por conhecer as Caldas através da Gazeta, pois na criação das ilustrações utilizam páginas deste semanário, inclusive o seu lettering.
Um Manifesto de Óbidos pela Língua Portuguesa foi lançado, no Folio, por um grupo de investigadores que defende a utilização do português como língua de culturas e também das ciências. Mas, também a inclusão e acessibilidade no mundo editorial e as línguas minoritárias e sua internacionalização, estiveram em debate, com representantes de editoras da Polónia, Eslovénia, Lituânia e Espanha, numa iniciativa da AICEP – Agência para o Investimento e Comércio Externo de Portugal e do Centro de Informação Europa Criativa.
Ney Matogrosso e a Vida
O festival, que termina no próximo domingo à tarde com um concerto com os Siricaia, contará ainda com dezenas de atividades. Hoje, 19 de outubro, irá decorrer o seminário de inclusão, uma das apostas também desta edição, e o presidente da Assembleia da República, Augusto Santos Silva, apresentará, na sexta-feira, “Voltas e reviravoltas – A cidadania”, de Ana Maria Magalhães e Isabel Alçada, com ilustrações de Mantraste. A temática da Guerra trará Ana França e Cândida Pinto a Óbidos, e Ney Matogrosso (que participa pela primeira vez num festival fora do Brasil) falará sobre a Vida. A última mesa será sobre o Futuro, reunindo, à conversa, Paulo Portas e Michel Eltchanninoff.
Com um investimento de 460 mil euros, esta edição disponibiliza uma assistente virtual holográfica, que interage com o público, ■






























