O pintor, ceramista, escultor e poeta Figueiredo Sobral faleceu na passada sexta-feira, 13 de Agosto, em Lisboa.
Este artista dedicou-se à poesia, à pintura e, a partir da década de 1960, também à escultura. Foi discípulo de Lino António, Paula Campos, e Rodrigues Alves, na Escola de Artes Decorativas António Arroio, em Lisboa, até finais da década de 1950 foi criativo e gráfico de publicidade e ilustrador de obras literárias.
Este autor que pereceu aos 84 anos, viveu nas Caldas da Rainha entre os anos 60 e 70 do século XX e fez parte do grupo de artistas que se movia na cidade, tendo trabalhado nos mais variados materiais incluindo a cerâmica.
Eram conhecidos os convívios que dava na sua casa – um primeiro andar – na Rua Leão Azedo ou o facto de ser um dos frequentadores do Café Central e jogador de xadrez na sua cave.
“Era uma figura especial, lembro-me dele no Central a jogar xadrez e a trautear canções”, disse Rogério Guimarães. Além de Sobral, este caldense também lembrou que a sua esposa Quina, também pintora, e referiu por exemplo os seus trabalhos em tapeçaria. “creio que eles possuíam um armazém perto da Nazaré onde trabalhavam e tinham várias senhoras a bordar”, comentou o encenador. Na sua opinião Figueiredo Sobral “foi uma figura negligenciada nas Caldas, apesar do seu importante percurso na cerâmica, na pintura e na gravura”. Depois dos anos da Revolução Figueiredo Sobral partiu para o Brasil e já mais tarde de regresso a Lisboa, o caldense costumava encontrar-se com este artista na Casa Ferreira (material para as artes), no Bairro Alto. “Aproveitávamos para conversar e ele matava as saudades que sentia das Caldas”, disse Rogério Guimarães acrescentando que o artista após o 25 de Abril viajou para o Brasil.
“Admirava-o muito pois Figueiredo Sobral era um homem de novas imagens e de linguagem inovadora”, disse o autor. Acha que as a cultura das Caldas se alheou da passagem deste artista que na sua opinião foi “um grande criativo que inovou em várias formas de expressão”.
No espaço da discoteca Inferno da Azenha na Quinta de Sto. António há uma composição de Figueiredo Sobral que adorna o piso inferior da Azenha. São dois diabos que se movimentam e ondulam, cobertos com pedaços da azulejo da Secla.
“Figueiredo Sobral era um amigo da família”, disse Luis Barreto, proprietário do espaço, enquanto mostra aquele obra embutida que, em tudo alude, à designação de Inferno d’ Azenha e foi criados nos anos 60. Durante 10 anos, aquele artista foi frequentador do convívio daquela casa, destinada “aos proprietários, seus amigos e amigos deles”, contou Luís Barreto.
Vitor Sebastião era um dos elementos que também frequentava os convívios que Figueiredo Sobral e esposa organizavam na R. Dr. Leão Azedo. “Era uma pessoas extraordinária”, disse aquele caldense comentando que o artista “fazia parte do grupo da cidade que era ligado às artes e à cultura”.
Um escultor, ceramista, cenógrafo que foi também gráfico e poeta
Figueiredo Sobral nasceu em Lisboa, em 1926. Foi discípulo de Lino António,
Paula Campos, e Rodrigues Alves, na Escola de Artes Decorativas António Arroio.
Até os 20 anos trabalhou em publicidade e ilustrações. Escreveu poesia e textos teatrais, tendo convivido com o grupo surrealista português, composto por António Maria Lisboa e Cesariny Vasconcelos.
Até finais da década de 50 foi criativo gráfico de publicidade e ilustrador de obras poéticas e literárias. Colaborou com o Diário de Notícias e foi co-fundador da Editora Minotauro. Dedicou-se à poesia, fez maquetas e cenários. Participou com pintura nos salões Gerais de Artes Plásticas da SNBA, na segunda metade da década de 1940. Uma década depois já expunha individualmente.
Na segunda metade dos anos 60, sem abandonar a pintura começou a fazer experiências na área da escultura. No final desta década montou um atelier onde trabalhava primeiro a escultura e depois a cerâmica.
Sobral foi um crítico do regime de Salazar e foi preso várias vezes por razões políticas. Em 1975, mudou-se para Americana, em São Paulo, onde executa uma escultura para a entrada da cidade, a convite do ex-prefeito Ralph Biasi.
Este artista possui obras em espaços urbanos que decoram lugares públicos em Portugal e também no Brasil.
Os seus trabalhos desenhos e gravuras, aguarelas, colagens, cerâmicas, tapeçarias, pinturas murais e esculturas, pertencem actualmente a acervos de arte estatais, institucionais e empresariais privados e colecções particulares europeias, americanas, australianas e ainda no Médio Oriente. Em 2000 o Movimento Arte Contemporânea distinguiu-o com o Prémio Carreira.
Figueiredo Sobral, controverso artista que viveu nas Caldas nos anos 60 e 70
Figueiredo Sobral era um artista que se radicou nas Caldas nos anos 60 e viveu na nossa cidade até 1975, tendo posteriormente se transferido para Lisboa e mais tarde para o Brasil, com a queda do mercado de arte no nosso país no pós-revolução, como nos referiu uma vez. Vivia nessa época com a pintora Quina Sobral, que também se afirmou na vida artística portuguesa.
Nos anos 80 regressaria a Portugal, tendo-se radicado em Lisboa, onde faleceu no final da passada semana. Ainda voltou às Caldas para participar numa venda de arte a favor do Lar do Montepio Rainha D. Leonor, tendo realizado uma exposição de trabalhos seus na antiga Pastelaria Flor de Liz.
A obra e a carreira de Figueiredo Sobral é controversa, tendo seguidores e admiradores, tanto como críticos acérrimos.
Para além da sua actividade junto aos meios culturais caldenses dos finais dos anos 60 e início dos anos 70, era frequentador do CCC bem como do Café Central, onde era um jogador de xadrez muito especial, que animava as tardes e noites da cave daquele café, com tiradas e dichotes que faziam rir os presentes.
Gazeta das Caldas deixa nesta edição alguns testemunhos bem como uma recolha de trabalhos e de actividades que este artista desenvolveu ao longo da sua vida. Também transcreve um texto publicado no Jornal do Fundão (e depois em livro) do escritor Luiz Pacheco dos anos 60, que não morria de amores por Figueiredo Sobral. Pela sua peculiaridade e como ambos já estão falecidos deixamos esse este testemunho para os nossos leitores, desculpando algum exagero ou mordacidade daquele que foi conhecido pelo “escritor maldito”.
Era uma pessoa divertida com um feitio especial, como é confirmado por muitos dos que o conheceram, mas que sempre considerámos agradável e criativo. Paz à sua alma.
JLAS































