Táctica ou estratégia? Soluções para os objectivos a curto prazo, ou ideias e linhas de acção para atingir os desafios estratégicos de médio e longo prazo? Esta a pergunta crucial para qualquer cidadão ou região.
Nos últimos anos temos andado à roda dos desígnios e das inclinações de uns quantos “responsáveis” que se alcandoram nos gabinetes do Terreiro do Paço, umas vezes ligando o processo de desenvolvimento do Oeste a Lisboa, outras vezes a Coimbra, em certos domínios a Aveiro e noutros ainda a Leiria, como se brincar com estas coisas fosse a solução para os problemas. Provavelmente será apenas uma solução para “resolver” os problemas dos interesses das famílias partidárias, ou de alguns lobbies, que por falta de força, insistem em mover-se na sombra dos gabinetes ministeriais.
Na passada semana foi apresentado em Lisboa um estudo desenvolvido, sob a égide da Fundação Gulbenkian e dirigido pelo conceituado prospectivista Félix Ribeiro, intitulado “Uma Metrópole para o Atlântico”, que representa uma proposta de estratégia territorial para Portugal, utilizando como ideia força o Arco Metropolitano de Lisboa.
Por estar agora fora das responsabilidades governamentais, e desenvolvendo uma investigação com um grau de liberdade máximo, Félix Ribeiro pode apresentar um proposta inovadora e de ruptura com o status quo, apontando para uma mudança de paradigma do que se tem feito no último século em Portugal em termos de organização regional.
É interessante e significativo que na apresentação televisiva a região que conforma este Arco, apresenta como pontos fulcrais no território as cidades de Évora, Santarém, Caldas da Rainha, Leiria, Abrantes e Sines, cobrindo um espaço onde vivem cerca de 4 milhões de habitantes (ou seja, 42% da população do país) em 24% do território e responsável por 44% das exportações.
Para os autores do estudo, o sistema urbano do Arco Metropolitano de Lisboa, que é o território nacional com maior potencial de internacionalização, estrutura-se em torno de quatro tipos de centralidades, das dimensões e às diversidades funcionais e às distintas capacidades polarizadoras:
· “Centralidade de nível nacional com a cidade de Lisboa como a principal centralidade urbana da macrorregião, de grande dimensão residencial e fortemente polarizadora em termos de emprego e de comércio e serviços”.
· “Centralidades de nível regional: incluem 12 aglomerações urbanas (onde está Caldas da Rainha juntamente com outros centros urbanos como Cascais, Oeiras, Sintra, Almada, Torres Vedras, Santarém, Setúbal, Leiria, Tomar, Évora, Sines e Santiago de Cacém) que apresentam uma estrutura diversificada que associam a uma força atrativa relevante”.
· “Centralidades estruturantes: integram um conjunto de aglomerações urbanas, com destaque para diversas sedes de concelho não incluídas no grupo anterior (os concelhos limítrofes de Lisboa AML, tal como Peniche, Rio Maior, Alcobaça, Marinha Grande, Pombal, Fátima-Ourém, Torres Novas, Alcanena, Abrantes, Montemor-o-Novo, Sines e Santiago do Cacém)”.
· Finalmente “centralidades complementares para a consolidação do sistema urbano e de suporte à coesão territorial concorrem ainda um conjunto de aglomerados, sedes de concelho, fundamentais para a sustentação e articulação territorial.”
Ou seja, o Arco Metropolitano de Lisboa é “constituído por uma rede urbana formada por um conjunto de centralidades com funções polarizadoras com capacidade de atração e estruturação interna e externa à macrorregião, apesar de ser uma rede urbana estruturada pela cidade de Lisboa.”
Para além desta macrorregião de Lisboa se integrar nos dois grandes corredores de conectividade internacional, assume particular notoriedade no panorama científico e tecnológico nacional, em virtude da acentuada concentração de instituições do ensino superior e politécnico e de I&D, incluindo laboratórios do Estado, que são hoje o principal factor de desenvolvimento
Além de integrar as principais áreas das Ciências da Vida e dos Materiais, abrange também as das Ciências Sociais e Criativas, bem como dos Multimedia, que mais facilmente interagem entre si, ampliando a sua capacidade de avançar no conhecimento e de apoiar a inovação em áreas funcionais da actividade económica, bem como em áreas de intervenção do Estado.
Também são factores importantes no apoio ao empreendedorismo e inovação, na cooperação com o tecido empresarial e nas actividades de internacionalização, seja através do desenvolvimento de programas académicos em parceria com universidades estrangeiras, de programas de intercâmbio e mobilidade académica ou da participação em redes de investigação internacionais.
Por isso, e em conclusão, estas condições permitem ao Arco Metropolitano de Lisboa ser já presentemente um dos motores de internacionalização do país, bem posicionado para a atracção e desenvolvimento de funções de âmbito supranacional, desde que o país assuma este desígnio.
Em declarações ao semanário Expresso do passado fim de semana, Félix Ribeiro reforça as conclusões do estudo ao declarar que “Portugal tem de se preocupar que as suas duas macrorregiões [Arco Metropolitano de Lisboa e Noroeste Global, que junta o Norte e Centro do país] passem a ser preferidas por investidores, inovadores e talentos que venham do exterior, ao mesmo tempo que no seu interior surjam novos empresários para quem o mundo seja “a sua casa””. E conclui que “não será nunca a dimensão que vai contar, mas sim a densidade de talentos que exista neles.”
Afinal, se quisermos, temos aqui algumas linhas mestras para reflectir o nosso processo de desenvolvimento!
Táctica ou estratégia?
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