A introdução do design próprio nas fábricas de cerâmica revolucionou o setor, num processo iniciado ainda pela Secla. Hoje, nas Caldas da Rainha, há uma empresa que vende o design de autores locais

“O design e a cerâmica estão juntos, sempre estiveram e cada vez tem de existir mais este diálogo”, faz notar Paulo Sellmayer, fundador da Vícara, empresa que se dedica a exportar o design de autores locais.
Na opinião deste profissional, vive-se ainda uma grande revolução no setor, que é a aposta no design próprio, alterando o paradigma da indústria cerâmica na região, que essencialmente fabricava o que vinha desenhado de fora.

“Ainda está a dar-se essa revolução”, afirma Paulo Sellmayer, notando que isso permitirá aumentar a autenticidade e originalidade do produto e, por consequência, aumentar o preço médio por peça, levando, numa lógica de seguimento, à possibilidade de melhorar a qualidade do produto e as condições para o produzir.
“Queremos que existam mais designers nas Caldas e acho que contribuímos para isso”
A Vícara foi criada em 2011, nos Silos, precisamente com o objetivo de fundar nas Caldas uma comunidade de designers. A empresa dedica-se a vender o design dos autores locais, muitos ligados à Escola de Artes e Design das Caldas, e ajudar a tornar ideias em produtos. Para tal, a empresa contrata os serviços de fabricantes de cerâmica, artesãos, autores e designers.
No caso da Vícara, beneficia da existência desse curso na cidade. “É importante ter massa intelectual e crítica que uma universidade desenvolve”, refere, notando que a ESAD é, dentro das suas áreas, uma escola conceituada.

“Queremos que haja mais designers nas Caldas e acho que contribuímos para isso”, afirma, apontando como objetivo que cada vez exista uma relação de maior importância entre a escola e a empresa.
Vocacionada para a exportação, a Vícara já consegue colocar os seus produtos em lojas de 14 países, a maioria na Europa e América do Norte. “Olhando para trás, creio que conseguimos criar a tal comunidade, foi um objetivo conseguido”, analisa, existindo neste momento autores cuja faturação depende da Vícara, mas também projetos comunitários que unem os vários colaboradores. Ainda assim, “ainda há muito para fazer”, aponta.
Uma das ideias que gostava de concretizar era a criação de um prémio para o melhor aluno de cada ano da ESAD, que poderia ser monetário ou em formato de residência, mas que permitisse àquele aluno desenvolver o seu trabalho na cidade onde havia estudado logo após finalizar o curso. Essa é, no entanto, uma ideia para a qual necessitaria do apoio das várias entidades locais, realçou.
“É importante ter a massa intelectual e crítica que uma universidade desenvolve”
Na Escola Superior de Artes e Design das Caldas existem licenciaturas ligadas ao design. Uma delas está precisamente relacionada com a cerâmica, é a de Design de Produto – Cerâmica e Vidro. No entanto, existe também formação na área do Design Industrial, na de Design de Ambientes e na de Design Gráfico e Multimédia.

Ao nível dos Cursos Técnicos Superiores Profissionais existe a opção de Design para Media Digitais e ao nível dos mestrados há Design de Produto, Design Gráfico e ainda… Design para Saúde e Bem-Estar.
Covid obrigou a adaptações
A pandemia de covid-19 teve implicações óbvias numa empresa que vendia essencialmente para lojas e muitas delas fecharam. Tal obrigou a uma adaptação, apostando nas vendas online.
Talvez porque as pessoas foram obrigadas a passar mais tempo em casa, a fileira destes produtos registou um aumento da procura.
A pandemia teve também implicações ao nível das relações com fornecedores e clientes e na presença em feiras internacionais, que deixou de acontecer. “Enviamos mais e-mails e passamos mais tempo ao telefone para reduzir a incerteza”, frisa. ■






























