Cerâmica da região vale mais de 60 milhões

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Atividade industrial é responsável por quase 1900 postos de trabalho nos concelhos de Alcobaça, Nazaré, Caldas da Rainha e Óbidos, e a crescer.
Empresas operam, sobretudo, nos segmentos ornamental e de uso doméstico

O Oeste tem uma forte tradição na produção de cerâmica. O setor chegou a ser um dos principais agentes económicos da região, com empresas responsáveis por uma importante fatia dos postos de trabalho da região.
A realidade hoje é diferente, mas o setor adaptou-se e continua a ter a sua força, baseado não no consumo massivo dos seus produtos nos mercados nacional e internacional, mas mais apostado em produções de excelência, diferenciados, que marcam a diferença pelo design e inovação, mas também na fiabilidade dos seus processos e tempos de fabrico.
Através de um estudo baseado em dados da atividade empresarial na região, fornecido pela auditora Iberinform, fizemos um retrato da atividade empresarial da região no setor da cerâmica, que representa, contudo, apenas um dos lados desta atividade milenar na região, uma vez que não estão aqui incluídos os profissionais liberais, que têm atividade em nome individual, apenas as sociedades.
A atividade empresarial, aqui concentrada em 45 empresas dos concelhos de Alcobaça, Nazaré, Caldas da Rainha e Óbidos, é responsável por um volume de negócios de 61,9 milhões de euros.
Alcobaça é o concelho mais preponderante na atividade da indústria cerâmica da região, com 28 empresas que faturaram, em 2019, 35 milhões de euros.
Nazaré, com sete empresas de maior dimensão, contribuiu com 15,3 milhões de euros em receita para o setor.
Caldas da Rainha tem seis sociedades entre estas 45 empresas, que faturaram em 2019 11,1 milhões de euros.
Óbidos é sede de concelho para as quatro empresas restantes, com um volume de negócios combinado que atinge cerca de 480 mil euros.

Emprego a crescer no setor
Se, noutros tempos, a indústria cerâmica foi uma das grandes empregadoras da região, hoje a realidade é diferente, mas nem por isso o setor deixa de ter um papel importante no emprego, à semelhança do que representa para a economia e projeção internacional da região.
Em 2019, as 45 empresas que integram este estudo foram responsáveis por 1871 postos de trabalho, com um aumento de 4,2% em relação ao ano anterior, quando empregavam 1795 pessoas.
Alcobaça volta a ser preponderante neste número, por força do maior número de empresas que sedia. No total deste universo de empresas, a indústria cerâmica empregou 915 pessoas, mais uma que em 2018.
No concelho vizinho, a Nazaré, o setor dá emprego a 535 pessoas, o que corresponde a mais 44 postos de trabalho do que no ano anterior, um acréscimo de 8,9%.
Também nas Caldas da Rainha o número de postos de trabalho no setor sofreu um incremento significativo, na ordem dos 9,2%, passando de 369 para 403 postos de trabalho. Esta subida é quase em exclusivo protagonizada pela Fábrica de Faianças Rafael Bordallo Pinheiro, que abriu em 2019 33 novos postos de trabalho.
Em Óbidos, com uma dimensão mais reduzida, a indústria teve uma ligeira inflexão no número de postos de trabalho, dentro deste universo de empresas, de 18 para 21.

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Dois segmentos principais
Dentro da indústria cerâmica, há vários tipos de segmento nos quais se podem subagrupar as empresas. E são dois os principais segmentos nos quais se inserem as principais empresas da região.
Aquele que reúne maior quantidade de empresas é o da fabricação de artigos de ornamentação de faiança, porcelana e grés fino. Tratam-se de produtos destinados, sobretudo, para fins decorativos. Neste grupo estão 28 das 45 empresas, que são responsáveis por 868 postos de trabalho e vale 28,7 milhões de euros, praticamente metade do total do volume de negócios. Neste as principais referências, em ordem de grandeza, são a Cerâmirupe, a Arfai Ceramics e a Perpétua, Pereira e Almeida.
O segundo grupo mais importante para a indústria cerâmica da região é a fabricação de artigos de uso doméstico de faiança, porcelana e grés fino. Neste grupo destacam-se as louças utilitárias, como os jogos de serviço, que além dessa componente podem ter, igualmente, fins ornamentais.
Este segmento, onde estão 10 empresas de maior dimensão, acaba por ter maior relevância ao nível do emprego, com 984 postos de trabalho, e também ao nível do volume de vendas, com 32,5 milhões de euros.
Além destes, a olaria a barro, os produtos de cerâmica para a construção e os não refratários são os restantes segmentos. ■

Pandemia provocou quebras de 14,5% nas exportações até novembro

A fileira da cerâmica é um setor da economia do Oeste que é, principalmente, exportador. Na combinação dos concelhos de Alcobaça, Nazaré, Caldas da Rainha, Óbidos, Peniche e Bombarral, as exportações representam cerca de 69,2% do total da faturação do setor, isto no que diz respeito ao exercício de 2019, o último ano inteiro que está disponível.
Se na última década do século passado o mercado chinês representou uma ameaça muito séria devido ao preço mais competitivo em relação ao das empresas nacionais, nos últimos anos a cerâmica nacional procurou recuperar quota de mercado com outros argumentos, nomeadamente a exclusividade, inovação e com a melhoria dos processos de fabrico.
Em 2018, nestes concelhos, o setor atingiu um pico de exportações nos anos recentes para 49 milhões de euros, mas em 2019 decresceram 7,9%, para 45,1 milhões de euros, segundo dados do INE.
Nos primeiros 11 meses de 2020, o comportamento voltou a ser de descida. No acumulado entre janeiro e novembro, as vendas para o estrangeiro caíram 14,5%, um comportamento para o qual não foi alheio o período de pandemia.
Nos meses de abril, maio, junho e julho, os três principais concelhos para o setor – Alcobaça, Nazaré e Caldas da Rainha, registaram fortes quebras nas vendas externas, que chegaram a superar os 65%, praticamente dois terços em relação a períodos homólogos.
Entre janeiro e novembro, os seis concelhos somaram exportações na fileira da cerâmica de 35,7 milhões de euros – no mesmo período de 2019 as vendas atingiram os 41,8 milhões.
Alcobaça é o concelho com o valor mais elevado, 26,8 milhões de euros, com uma quebra de 11,5% face ao mesmo período de 2019.
Nazaré é o segundo concelho com maior volume de exportações, 5 milhões de euros, com quebras acumuladas de 28,8%, enquanto Caldas da Rainha perde 9,3% para 3,3 milhões de euros em vendas externas.
No entanto, no mês de novembro as empresas de Alcobaça e Caldas da Rainha registaram melhorias face ao mês homólogo (8,5% e 19,4%), o que pode indiciar que o final do ano pode ter contribuído para atenuar as quebras. ■

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