Resultado de uma candidatura ao Orçamento Participativo Portugal, o Centro de Interpretação para a Lagoa de Óbidos é dinamizado pela Liga para a Proteção da Natureza até março. Cabe às Câmaras das Caldas e de Óbidos darem continuidade ao projeto.
Um desejo antigo da comunidade local, o Centro de Interpretação para a Lagoa de Óbidos (CILO) foi o terceiro projeto regional, e quinto a nível nacional, mais votado entre um total de 600 apresentados no primeiro Orçamento Participativo de Portugal, lançado em 2017.
A ideia, apresentada pelo Conselho da Cidade, foi dotada com uma verba de 98 mil euros para a criação de um instrumento para a descoberta, valorização e transmissão do património natural e cultural da Lagoa de Óbidos, financiado pela Ciência Viva e pela Fundação para a Ciência e Tecnologia.
O desenvolvimento do projeto ficou a cargo da Liga para a Proteção da Natureza (LPN) e deveria ter terminado em dezembro passado, momento em que passaria para a alçada das autarquias das Caldas e de Óbidos. Contudo, os constrangimentos provocados pela pandemia ditaram o adiamento das ações e prorrogou o final do projeto para março.
Dada a forte ligação ao projeto a que deu origem, é expectável a continuidade da participação da LPN, assim como do Conselho da Cidade, num modelo de envolvimento que está a ser ultimado.
Humberto Marques, presidente da Câmara de Óbidos, garante que o município tem todo o interesse na continuidade do “projeto que tanto prestigia um património natural singular como é a Lagoa de Óbidos”. O autarca considera que a transição para uma nova fase deverá ser o mais “suave” possível, sob pena de se perder muito do trabalho já realizado e que, independentemente do seu nível de compromisso, a LPN deverá continuar ligada ao projeto, quer pelo seu know how, quer pela sua relação “umbilical” com o CILO.
Na opinião de Humberto Marques, este centro de interpretação vem colmatar uma lacuna no estudo da Lagoa de Óbidos, pois, além de marcadamente ambiental, também inova na dimensão científica, cultural, sociológica, educacional e turística.
“Graças ao trabalho e atividades desenvolvidos desde o início do projeto, existe um conjunto de informação oral e escrita, anteriormente dispersa, que agora ganha uma nova dimensão e mais-valia”, refere o autarca.
Óbidos assegurou a imagem e comunicação do CILO, tendo já produzido o vídeo promocional da Lagoa e foi responsável pela conceção do logótipo do Centro de Interpretação. Atualmente está a trabalhar na produção de sinalética exterior (logótipo do projeto) para aplicação na sede.
Já a Câmara das Caldas da Rainha ficou responsável por assegurar um espaço físico para acolher o CILO, que ficará localizado na Avenida do Mar, na Foz do Arelho, e funcionará como um ponto de encontro com a comunidade e um local de informação ao visitante. É lá que já se encontra a maioria dos equipamentos e materiais do centro de interpretação e, até à data da sua abertura, os restantes manter-se-ão ao cuidado da LPN e da autarquia.
Gazeta das Caldas também questionou a câmara das Caldas sobre o que espera que venha a ser o futuro deste projeto, bem com a sua importancia para o município, mas não obteve resposta até ao fecho desta edição.
CILO como estrutura viva
Rita Martins, bióloga e técnica do LPN, que coordenou a implementação do projeto, manifesta o desejo de que o CILO seja uma “estrutura viva, que vá muito além de um espaço, que é feita de pessoas, de sinergias e de ação”. Apesar de vir a ter um espaço físico na Foz do Arelho, o objetivo passa por conseguir manter as várias parcerias no território para que as iniciativas possam continuar a ser dinamizadas em todas as freguesias ao redor da lagoa. “Isso revelar-se-á fundamental para manter ativas outras infraestruturas, associações e movimentos locais”, considera.
Do período em que esteve a desenvolver o trabalho, destaca a “motivação e a disponibilidade para a participação” da equipa, cidadãos e entidades sem qualquer relação formal com o projeto, mas com uma história de ligação à Lagoa, seja ela pessoal ou profissional. “Com a ajuda do Conselho da Cidade tentámos sempre que possível identificá-las e envolvê-las e isso levou a que o projeto crescesse muito além do previsto em candidatura”, disse. Com a pandemia, Rita Martins tem recebido telefonemas regulares de pessoas que perguntam “quando vamos poder voltar a fazer estes convívios”, o que a faz valorizar ainda mais este projeto e a importância da sua continuidade.
Passados três anos da candidatura, e apesar dos atrasos nas obras do edifício, Ana Costa Leal, presidente do Conselho da Cidade faz um balanço “muito positivo”, destacando que excedeu mesmo as expetativas iniciais, com o desenvolvimento de dezenas de atividades, com temáticas e públicos diversos de diferentes zonas do país. “A comunidade de Óbidos e Caldas foi envolvida, e sentiu-se envolvida, contribuindo com as suas histórias, saberes e registos”, salienta.
Para ter sucesso, o Centro de Interpretação “necessita de um conjunto de elementos que garanta uma afluência regular de visitantes, como equipamentos de qualidade, conteúdos dinâmicos, uma programação inovadora, atividades complementares, e, claro, uma boa divulgação”, diz Ana Costa Leal, Esta responsável destaca ainda que a atratividade de visitantes, a complementaridade de ofertas e os seus efeitos multiplicadores na comunidade local são pontos chave em projetos desta natureza. ■
Mais de 30 iniciativas e 900 pessoas envolvidas
O pontapé de partida do Centro de Interpretação da Lagoa deu-se ainda em 2018 e até ao final de dezembro de 2020 a LPN dinamizou 34 iniciativas, um pouco por todo o território em volta da lagoa.
Aquelas ações consistem em sessões de informação, passeios temáticos, debates, palestras, aulas abertas, ações de formação, ateliers, ações de voluntariado, ciência cidadã e atividades de educação ambiental, envolvendo cerca de 30 outras entidades e mais de 900 pessoas.
Entre as iniciativas mais marcantes destaque para os “Dias da Memória da Lagoa de Óbidos”, que reuniu duas centenas de pessoas para partilhar e conhecer histórias e vivências da lagoa, ou o workshop sobre construção de cabanas, em que, além de se transferirem saberes e costumes da comunidade piscatória, também foi restaurada uma cabana perto do Bom Sucesso.
O Centro de Interpretação da Lagoa de Óbidos tem várias frentes de trabalho e algumas delas foram muitos afetadas com o contexto atual, especialmente as iniciativas dirigidas aos turistas e à comunidade local. As ações de animação de rua em espaços turísticos foram canceladas e os eventos que previam a confraternização da população tiveram de ser adiados. Entre eles, estão um convívio no Vau para partilha e recolha de informação sobre os naufrágios junto à costa, a apresentação dos resultados do projeto “Memórias da Lagoa de Óbidos”, a exibição de uma exposição fotográfica e a própria cerimónia de inauguração do espaço físico do centro de interpretação.
Entretanto, foram desenvolvidas outras iniciativas, como a vinda de operadores turísticos para a promoção do turismo ordenado e sustentável na lagoa ou a passagem do programa escolar para o formato online, que tem permitido continuar a levar a peça de teatro da Mala de Cenas da Lagoa de Óbidos a várias escolas da região.
O CILO apostou na informação digital, com a construção de um website e uma aplicação móvel. A essas ferramentas está associado hardware (dois quiosques digitais, um ecrã display para projeção de audiovisuais e quatro tablets para apoio a visitas guiadas), já adquirido. Ao nível do material físico informativo, contam com 12 painéis informativos de interior (exposição permanente) e seis painéis informativos de exterior, já adjudicados, mas ainda em desenvolvimento. Para o espaço do centro de interpretação foi adquirido mobiliário, como vitrinas para exposição e mesas e cadeiras para eventos e atividades, ajustados à dimensão do espaço. ■






























