A Semana do Zé Povinho

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sobeNão é muito comum nos dias que passam um servidor do Estado português pedir a sua exoneração da Administração Pública por uma questão deontológica e de certa maneira em protesto contra a degradação que o serviço público está a sofrer.
Mas foi o que aconteceu nas Caldas da Rainha ou no Oeste, com a psiquiatra Ana Paula Carvalho, que era a responsável por aquele serviço no Centro Hospitalar agora do Oeste, onde exercia aquela especialidade há cerca de vinte anos.
Bater com a porta na burocracia e insensibilidade dos dirigentes, aos vários níveis de responsabilidade, terá sido a forma que terá escolhido, para dizer bem alto que o rei vai nu.
Num seminário do Núcleo de Intervenção na Área da Saúde Mental, realizado no final de 2014, esta médica denunciou as carências de recursos humanos no CHO ao nível do serviço de Psiquiatria, referindo mesmo que a lista de espera era “pornográfica”.
E pôs o dedo na ferida ao referir que as redes de referenciação do CHO consideravam que deveria ter 10 psiquiatras e naquele momento existiam apenas um médico a tempo inteiro e outro a meio tempo para servir a imensa procura e necessidade da região.
Não admirava assim o agravamento de situações críticas entre a população, que punham em causa de forma dramática o funcionamento das equipas comunitárias que fazem a articulação dos cuidados de saúde primários com a Psiquiatria do hospital das Caldas (um projecto criado e mantido pela Dra. Paula Carvalho), que recebeu inúmeros elogios a nível nacional.
Uma das desculpas oficiais é que não havia candidaturas para o serviço nas Caldas, provavelmente por não serem criadas as condições necessárias para atrair especialistas nesta área, em que eles não abundam.
Zé Povinho, na hora em que a Dra. Paula Carvalho se retira de um serviço que lhe era muito querido, acha que, demasiadas vezes, o país não merece estes esforços hercúleos, que são simultaneamente menosprezados e incompreendidos pelos burocratas instalados. Esta médica psiquiatra, que, no entanto, se vai manter nas Caldas, na consulta privada, é mais um exemplo que justifica a saída de milhares de jovens técnicos qualificados que abandonam o país para servir outros povos sendo nesses destinos justamente recompensados. Portugal por este caminho não irá longe…
À Dra. Paula Carvalho, Zé Povinho deseja-lhe boa sorte, esperando que o sacrifício que fez tenha valido a pena.

Zé Povinhdesceo pasmou de surpresa ao saber que uma brigada da GNR multou o condutor de uma ambulância por este ter parado na auto-estrada para que se tentasse salvar a vida a uma idosa, mantendo-se depois no local depois da doente ter morrido (a legislação impede que uma ambulância transporte cadáveres).
A indignação que se gerou no país, levou a que em pouco tempo a multa tenha sido anulada, não sem que muitos se interrogassem se a sensatez não deveria ter imperado.
Fala-se de instituições que estão sob a mesma tutela (Ministério da Administração Interna) e que pelos vistos são obrigadas a respeitar normas legais contraditórias e com efeitos inversos.
Enquanto que num caso, face a um óbito numa viatura de bombeiros, os mesmos são obrigados a imobilizarem-se e a chamar as autoridades competentes, em contrapartida, a GNR deve multar quem se imobilize na auto-estrada, qualquer que seja a razão.
A que se deve o excesso de zelo dos militares da GNR em causa? A não ser que estejam imbuídos do mesmo espírito que a troika deixou em Portugal, em que tudo tem de ser feito acriticamente e sem verificar as condições concretas que estão na origem dos problemas, parece que faltou aqui, claramente, um pouco de inteligência e de bom senso.
Zé Povinho acha que, às vezes, os militares da GNR agem mais com a caneta do que com a cabeça. Em todo o caso, esta não será, certamente, uma regra de comportamento daquela corporação, podendo ter sido a reacção mais básica de alguém descontente com tudo e com todos.
Contudo, a incongruência desta decisão neste caso concreto, para mais em plena época natalícia, levam Zé Povinho a pedir mais sensatez à GNR.

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